Capítulo XXV

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Ivan chegou em Moscou mais rápido do que havia premeditado. A viagem não foi nada agradável com o odor que exalava do motorista que lhe dava carona. Muitas vezes sentiu vontade de vomitar sobre o homem, mas se conteve o máximo que pôde. Pediu para o desconhecido deixá-lo próximo ao palácio da sua mãe, que era afastado do centro da cidade.

Quando desceu do pequeno caminhão, andou até o enorme portão de ferro com o brasão da família Tchaikovsky. Como era de costume, o portão estava aberto, mas estava sem guardas vigiando, o que era bastante estranho. Era como se sua mãe soubesse que ele estava ali, e não podia ser visto por mais ninguém.

Apesar da primavera próxima, existia uma quantidade exorbitante de neve na frente do palácio, o que dificultou um pouco sua andada até a porta principal. Tudo estava como ele lembrava, com exceção das diversas árvores que haviam sido plantadas ao redor da propriedade.

Quando ele ia bater na porta, o mordomo abriu a porta com bastante elegância. Não perguntou quem ele era, apenas fez um gesto para que ele entrasse. Ivan entrou com certo receio e desconfiança, mas algo em seu coração dizia para ele não temer o que poderia acontecer.

— Sua Alteza o espera em seu escritório. — o mordomo disse. — O senhor deseja algo?

— Como minha mãe soube que eu viria?

— Ela sempre sabe de tudo.

— Traga um conhaque escocês para mim.

— Como quiser senhor.

O mordomo faz uma mesura e se retirou da sua presença. Ivan o ignorou e andou até onde sua mãe estava. Fazia tantos anos que ele não a via, que se sentiu emocionado em poder finalmente revê-la. Perguntava-se mentalmente como ela o receberia.

— Entre de uma vez, Ivan.

A porta do escritório estava aberta, e atrás da enorme mesa de mogno estava sua mãe sentada em uma bela cadeira, com o queixo apoiado em sua mão. Seus cabelos estavam completamente brancos, mas estava arrumado em um perfeito penteado. Trajava seu habitual preto desde a morte do seu pai, com seu broche de rubi e diamantes acima do peito.

— Mamãe.

Ele entrou no escritório, fechando a porta logo em seguida. A grã-duquesa se levantou elegantemente e andou até Ivan. Pousou suas mãos enrugadas sobre o rosto dele e acariciou como nunca mais tinha feito. Beijou seu rosto diversas vezes, e o abraçou, para sua surpresa.

— Apesar dos pecados que cometeste contra a vida de uma mulher honrada e gentil, eu o perdoo meu filho. Mas não é de mim de quem precisa de perdão, e sim, do czar. Tem ao menos ideia de como sujou o nome da nossa família?

— Tenho total convicção disso. — resmungou. — Mas nada posso fazer para mudar o passado.

— Meu filho, em nada mudou. Seus olhos ainda carregam ira e egoísmo. Como pode ainda querer fazer mal a outras pessoas? Não basta tudo aquilo que fez com nossa família?

— Por Deus minha mãe, pare de me atormentar com essas coisas.

— Como queira. — Maria apoiou a mão sobre a mesa. — Tenha cuidado ao ir para seu quarto, sua irmã está aqui, e sabe que ela o delataria para o seu primo em poucos segundos.

— Meu quarto...

— O mesmo de sempre. Primeiro andar, corredor principal, primeira porta a direita.

— Preciso saber algumas coisas antes de partir para descansar.

— Pergunte-me.

— Como a senhora soube que eu estava vindo para cá?

A grã-duquesa sorriu.

— Tive muitos sonhos e intuições. Eu sempre soube que voltaria para mim um dia.

— Isso é simplesmente impossível. — Ivan deu um sorriso dissimulado.

— Toma-me como mentirosa Ivan? — perguntou com irritação na voz. — Respeite-me, pois sou sua mãe, e no mínimo me deve respeito. Não me faça botá-lo para fora da minha casa.

O mordomo chegou trazendo o conhaque para Ivan, que tomou da sua mão e bebeu apenas em um gole rápido.

— Não foi minha intenção desrespeitá-la e ofendê-la minha mãe.

— Impressionante que você nunca tem intenção de nada, não é mesmo? — arqueou as grossas sobrancelhas. — Borislov, o quarto do meu filho está realmente pronto?

— O quarto está arrumado, Vossa Alteza.

— Acompanhe Ivan até lá.

— Como desejar senhora.

Ivan beijou a mão da mãe e começou a acompanhar o mordomo.

— Tome um banho! — sua mãe gritou.

Ivan começou a rir, percebendo que ela estava certa: realmente precisava de um banho.

Depois de ter tomado um longo banho, Ivan se deitou em sua antiga cama. Era tão boa como ele lembrava, macia e aconchegante. Os travesseiros cheiravam a lavanda, o seu perfume preferido. Abriu a gaveta que ficava ao lado esquerdo da sua cama, e encontrou suas armas totalmente carregadas, como ele havia deixado.

Sorriu para si mesmo, elas o ajudariam a concluir sua vingança. Fechou a gaveta, e levantou-se da cama, indo em direção a biblioteca que ficava no mesmo andar do seu quarto. Lembrou-se do aviso da sua mãe sobre sua irmã Evia estar em casa. Porém, tirou essa ideia da sua cabeça e foi até onde queria.

Quando estava se aproximando da biblioteca, percebeu que vinha uma voz de lá de dentro. Poderia passar milhares de anos, mas Ivan reconheceria aquela voz de qualquer lugar. Era Evia.

Aproximou-se mais da porta para saber com quem ela falava, mas quando olhou pelo buraco da fechadura, ela estava ao telefone.

— Não estou mentindo, digo a verdade senhor general. Meu irmão está na casa de nossa mãe. — ficou calada esperando a resposta do outro lado. — O senhor não compreende que eu odeio meu irmão com todas as forças que existem no mundo e eu faria de tudo para vê-lo morto?

Ivan não esperou para ouvir o resto da conversa, voltou para seu quarto correndo. Ele sabia que Evia o odiava e que seria capaz de fazer todas as coisas horríveis para mantê-lo longe ou até mesmo morto.

Mas antes de Evia vê-lo morto, ele a veria morta.

Ele pegou a menor arma que possuía na sua gaveta, verificou se estava realmente carregada, e destravou a arma. Voltou para a biblioteca silenciosamente, abriu a porta e fechou ainda mais devagar para que ela não percebesse sua chegada. Evia ainda estava no telefone conversando, mas estava de costas, não percebendo a presença dele ali.

— Desligue esse telefone. — falou pausadamente. — Agora!

Notou que Evia ficou paralisada. Subitamente ele tirou o telefone da mão dela e o jogou no chão quebrando-o. Ela se virou para encará-lo, com ira em seus olhos.

— O que você pensa que é, Ivan? — perguntou com raiva.

— Seu irmão, meu bem.

— Não seja cínico. — cerrou os olhos e olhou para a arma em sua mão. — Por que está com essa arma?

— Uma velha companheira. — sorriu diabolicamente. — Ela não é linda? — Ivan apontou a arma para Evia.

— Abaixe essa arma, Ivan. — Evia falou assustada.

— Não.

Ivan apertou o gatilho disparando um tiro no braço da irmã.

— Você é maluco? — seus olhos estavam esbugalhados. — Olha o que fez em mim!

— Bem, eu ainda não terminei.

E com um outro tiro, disparou na cabeça de Evia.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now