Capítulo XXVI

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A neve estava derretendo a cada dia que a primavera se aproximava. Dimitri estava sentado em frente ao seu pai no gabinete revisando alguns relatórios. Apesar do seu pai ter afirmado diversas vezes que iriam ficar em pausa de suas obrigações, os problemas apenas se multiplicavam a cada dia. Por ser herdeiro do trono, as obrigações pesavam mais para ele do que para Alexander e Nikolai. Algumas vezes eles participavam de reuniões com alguns ministros, ou membros da realeza; ele não se lembrava quando tinha sido a última vez que havia presenciado seus irmãos em algum compromisso com o estado.

Estava próximo do horário de almoço, mas parecia que o czar ainda não havia percebido, pois não parava de puxar relatórios de uma grande pilha ao seu lado. Sua barriga havia roncado tantas vezes, que já havia perdido as contas. Não tinha comido nada no café da manhã por não sentir nenhuma fome, mas estava lamentando seriamente por não ter comido nada. Seu pai não admitia que comesse durante o trabalho, uma regra que Dimitri repudiava determinantemente.

— Pai, podemos ir almoçar?

Vladimir levantou seus olhos dos relatórios sobre sua frente para o filho.

— Pode ir, Dimitri. Permanecerei aqui, estou sem fome. Faça as honras do almoço e justifique minha ausência, por favor.

— Então não vai precisar mais de mim por hoje? — Dimitri perguntou com certa esperança de ser liberado das obrigações.

— Não, por hoje basta. — Vladimir riu e voltou a ler os relatórios.

Dimitri se levantou da cadeira em que estava sentado e foi até onde seu pai estava. Deu-lhe um beijo no topo da testa e saiu do gabinete radiante. Pensou que iria ficar enfurnado no local com o pai o dia inteiro. Diversas vezes o czar havia deixado de lado a diversão, deixava de se alimentar para cuidar de tudo da melhor maneira que podia. Era uma vida sacrificante, ele tinha total consciência disso, e por mais estranho que parecesse, desejava aquilo.

O gabinete do seu pai era próximo da sala de jantar, para sua alegria, não precisaria caminhar tanto para chegar até lá, como seria se saísse do seu quarto.

— Indo almoçar?

Elizabeth se aproximou dele sorrateiramente.

— Sim, Lizzie. — sorriu quando escutou a voz dela. — Creio que você também.

— Está correto. — sorriu de volta. — Estive pensando, nunca mais passeamos pelo jardim. Pelo que vejo, ele está mais bonito agora com a neve indo embora. Eu tenho conhecimento das suas ocupações, mas teria algum tempo para passear comigo?

— Podemos ir depois da refeição? Ficarei honrado em levá-la para passear novamente.

— Serei eternamente grata por isso.

— Algo está lhe aborrecendo?

— Conversamos sobre isso depois. — Elizabeth lhe ofereceu um sorriso forçado quando chegaram em frente a sala de jantar.

Era algo normal ver Elizabeth dar sorrisos forçados, havia presenciado diversas vezes. Apesar dela ser princesa, ter um irmão que a amava, todos os luxos, ela parecia sempre infeliz. Dimitri bem sabia como uma vida na realeza não podia ser fácil, principalmente quando havia algum problema com a família. Pois quando não estava em paz com a família, o resto das coisas desandavam de uma maneira desastrosa. Apesar de muitos dizerem que uma coisa não interferia na outra, ele bem sabia que interferia, e muito.

Abriu a porta, fazendo um gesto para que ela passasse primeiro, como mandava o cavalheirismo. Ela foi para o lado esquerdo da mesa, e ele para o direito, ao lado da cadeira do pai. Seus irmãos começaram a chegar pouco a pouco, e por último sua madrasta com Phillip.

Quando percebeu que todos estavam a mesa, comunicou a todos que o czar não comparecia para o almoço, o que não foi nenhuma surpresa para todos, exceto Anastásia que ainda não sabia os costumes da família.

Anastásia tocou em sua mão carinhosamente e beijou seu ombro.

— Esqueceu da sua irmã? — exibiu um sorriso caloroso.

— Jamais meu anjo. — pegou a mão dela, depositando um beijo.

— Acredito em você. — Anastásia se apoiou no ombro dele. — Conte-me coisas boas sobre sua manhã de hoje.

— Muitos relatórios. — sorriu afagando as costas dela. — Nada muito interessante. Agora conte-me sobre sua manhã.

— Me aproximando mais das minhas outras irmãs. Elas ainda relutam em me conhecer, apesar de quererem se aproximar. Estranho.

— Bastante estranho, mas não se preocupe. Apenas questão de tempo para elas se acostumarem com toda essa situação. Estávamos esperando por você por esses anos, sabe? É a realização de um sonho tê-la entre nós.

— Sempre adorável. — cutucou sua barriga, sorrindo mais uma vez. — Gosto de tê-lo por perto sempre. Espero que saiba disso.

— Bom, agora eu sei. — um empregado serviu seu prato. — Sopa?

— Não gosta de sopa, Alteza? — o empregado perguntou preocupado.

— Não se preocupe, Roman. — Anastásia segurou no braço do homem. — Ele ama sopa. — encarou o irmão nos olhos. — Aposto que vai até repetir o prato, não é mesmo?

— Acredite em todas as palavras da minha irmã. — pegou a colher que estava ao lado do prato e mergulhou na sopa. — Pode retornar à cozinha tranquilo.

— Sim, Alteza. — Roman fez uma reverência e se retirou logo em seguida.

Dimitri começou a tomar sopa em grande desespero, por causa da fome que sentia. A sopa estava boa, mas não iria saciar a grande fome que sentia. Olhou todos ao seu redor, ainda tomavam a sopa, com exceção de Anastásia.

Ela olhava para ele com um olhar assustado e divertido. Quando ele menos esperava, ela trocou o prato dos dois em poucos segundos. Ele sussurrou um obrigado, e ela apenas lhe deu um pequeno sorriso.

— Muita generosidade da sua parte.

— Eu ter lhe dado minha sopa?

— Sim.

— Eu tomei café da manhã, você não. Nada mais justo.

— Obrigado mais uma vez. No entanto, tomarei mais.

Anastásia deu uma pequena gargalhada.

— Estarei pronta para ajudá-lo sempre. — deu-lhe um beijo na bochecha dele.

Elizabeth estava com seu braço enlaçado ao de Dimitri. Estavam andando por vários minutos em silêncio, o que estava se tornando bastante perturbador para ele. Sabia que ela estava incomodada com alguma coisa, mas ainda se mantinha em completo silêncio. Ele tinha quase uma certeza que Elizabeth havia recebido alguma má notícia de Londres.

— Ontem eu recebi um convite. — quebrou o silêncio.

— Convite de quem?

— Anne e Edward. — fungou e apertou mais o braço dele.

— Anne e Edward? Não consigo entender...

— Eles vão se casar, Dimitri. Como eles podem ter sido tão maus? — seus olhos se encheram de lágrimas. — Oh, isso dói tanto.

Ela abraçou Dimitri com uma força surpreendente.

— Acalme-se. Eles não merecem suas lágrimas.

— Oh, Dimitri...

Ele puxou a cabeça dela para seu peito e começou a afagar suas costas da melhor forma que pôde.

— É apenas uma tempestade passageira, tudo irá passar. Verá.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now