Capítulo XXXVIII

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Dimitri sentiu o último suspiro do pai como uma punhalada no coração. Quando parou de sentir a pulsação, mesmo que fraca, seu mundo desmoronou completamente. Queria poder sair correndo daquele quarto e gritar, pois, essa era sua única vontade. A dor que crescia dentro do seu peito era insuportável. Apertou a mão do seu pai na esperança dele acordar, dar qualquer sinal de vida, mas bem no seu interior, ele sabia que isso não aconteceria.

— Majestade. — o general ajoelhou-se aos seus pés.

Naquele momento ele soube que tudo já estava mudado, ele era o czar de todas as Rússias. Aquilo doía ainda mais, pois era a confirmação da perda do seu pai. Não saberia se superaria aquele luto, não conseguiria superar o homem que fez tudo por ele, que ensinou todas as coisas possíveis da vida e do império. Ninguém se comparava a ele.

— Vossa Majestade, precisa fazer o juramento. — disse o padre.

Dimitri assentiu com a cabeça e ajoelhou-se diante do padre, colocando sua mão sobre a dele.

— Eu, Dimitri Vladimievich Bulganov, filho do antigo czar de todas as Rússias, Vladimir Nicolaevich Bulganov, prometo honrar e proteger ao meu povo, assim como a Igreja Ortodoxa russa.

O padre fez o sinal da cruz sobre sua testa e pediu para que ele levantasse. Todos que estavam no quarto, mesmo aos prantos, ajoelharam-se diante dele. Aquela cena ficou repetindo em sua cabeça por diversos minutos, até se conformar que aquela era sua nova realidade.

Começou a se sentir mal e saiu do quarto apressado. Começou a chorar, assim como chorou com a morte da sua mãe. Sentia-se vazio, sem vontade nenhuma de continuar em diante. Parecia que tudo estava acabado, estava tudo preto e branco. Mesmo que o país ficasse em luto durante sete meses, não seria suficiente.

O que eram sete meses para um filho que havia perdido o pai?

Ele sabia que esse dia chegaria, sempre soube. Mas parecia que o destino e a morte não gostavam de ver sua família feliz. Havia todo o sofrimento com a perda da sua mãe, sua irmã caçula desaparecida, o medo de viver em um lugar onde existia a presença de Ivan, e quando tudo estava melhorando, seu pai partiu para algum lugar desconhecido para os humanos.

— Majestade.

Dimitri tremeu-se completamente ao ouvir a palavra "majestade" novamente. Não reconheceu a voz, e nem desejava reconhecer nada naquele momento, estava atormentado demais para isso. Queria mandá-lo para o inferno por incomodá-lo naquele momento, mas o homem não merecia seu sofrimento e sua fúria com o mundo.

— Perdoe-me, não me recordo do senhor.

— Sou o novo embaixador da Inglaterra, Majestade. Soube agora a pouco que o czar faleceu. Meus pêsames. — fez uma reverência.

— Deseja falar somente isso? — perguntou impaciente.

— Vim para falar de outros assuntos, mas o momento não muito adequado. Depois podemos conversar, será mais apropriado. Respeitarei a dor da sua família e do povo russo.

— Preciso saber do que se trata. — tremou os lábios.

— O contrato do seu casamento com a princesa Elizabeth.

— Como? — perguntou confuso.

— Suas Majestades planejavam o casamento de Suas Altezas há duas semanas. Vim aqui para concluir o acordo matrimonial.

Dimitri sentiu seu coração bater com alegria pela primeira vez naquele dia, seu pai estava fazendo tudo há muito tempo e não havia dito nada para ele. Sorriu ao lembrar que tinha bebido bastante no baile para criar coragem de falar para ele sobre um possível casamento com Elizabeth.

— Podemos falar sobre isso daqui há duas semanas. Peço-lhe que comunique ao seu rei o que está ocorrendo na Rússia, apesar que a notícia já deve ter chegado até ele. Porém, Elizabeth pode ser enviada para a Rússia, quero me casar o mais breve possível.

— Com sua licença, Majestade. — fez uma reverência e saiu.

Ele não podia parar, os ministros não deixariam. Muitos pareciam não ter sentimentos, pareciam pedras de gelo em forma humana. Alguns momentos essa natureza fria e calculista, era necessária para alguns casos em específico, mas eles eram assim o tempo inteiro.

Precisava sair daquele corredor, precisava ficar sozinho, nem que fosse por apenas alguns minutos. Necessitava ficar consigo mesmo e seus sentimentos. Precisava digerir as coisas completamente sem ser interrompido.

Foi até a sacada onde tinha sido a festa de aniversário da sua irmã Natasha. Aquele lugar lhe transmitiu uma paz repentina, como se a presença do seu pai ainda estivesse ali presente. Os momentos de alegria que viveram naquele lugar, eram tantos, que nem conseguiria contar. Contudo, Peterhof também tinha sua cota de tragédias. Sua mãe havia sido assassinada naqueles jardins, sua irmã sequestrada, e seu pai tinha sofrido uma hemorragia na cabeça. Engraçado como aquele belo lugar podia guardar lembranças tão amargas.

Somente o tempo ajudaria ele superar tudo o que estava acontecendo. Mesmo que tivesse o apoio de todos os seus irmãos, seria complicado.

Respirou fundo, olhou a imensa fonte que estava descongelando. A imensa fonte de Sansão, era um símbolo de força e poder, teria que ser como aquele herói daquele momento em diante. Observou aquele longo canal que dava para o mar Báltico, e desejou velejar.

Quando começou a esfriar demais, resolveu entrar no palácio novamente. Mas a estátua de Sansão brilhou intensamente, para sua surpresa, pois não havia nenhum sinal de sol no momento.

Sorriu para si mesmo.

— Vou ficar bem, papai. Que o senhor me ajude e me dê sabedoria.

E entrou no palácio.

Quando as coisas pareciam estar começando a se encaixar perfeitamente para Anastásia, o mundo voltava a desabar novamente. Parecia que sua vida se tornou um ciclo vicioso de sofrimento, e ela não aguentava mais aquela situação. As coisas estavam insuportáveis, até mesmo o clima no palácio estava impossível de respirar.

Na manhã anterior, na pequena capela privada do palácio, seu irmão havia feito outro juramento e abjurou a confirmação evangélica e afirmou viver segundo as leis da fé ortodoxa. Ficou feliz e emocionada por seu irmão, mas a tristeza era maior do que sua felicidade. A dor ainda tomava conta do seu coração.

O corpo do seu pai seria sepultado na fortaleza de São Pedro e São Paulo, mas ele havia deixado claro que queria seu corpo ao lado da sua mãe, e assim realizaram o pedido do pai. Percebeu que sua madrasta tinha ficado irada, porém, para sua surpresa, ela nada disse.

Passaram-se duas semanas desde a morte do seu pai, e seu humor piorava a cada dia. Não desejava ver ninguém, se recusava a ver qualquer pessoa, raramente comia alguma coisa, queria apenas ficar isolada em seu mundo particular.

E os dias pareciam anos, longos anos.

Apoiou o queixo na mão e respirou fundo.

— Vossa Alteza.

A voz da sua dama de companhia invadiu seu quarto. Odiava quando ela entrava sem bater na porta antes, e Olivia sabia disso muito bem, mas parecia que não conhecia e nem obedecia a ordens.

— Eu não lhe disse para não entrar em meu quarto sem a minha autorização, Srta. Barkova?

— Perdoe-me, Alteza. — seu rosto ficou ruborizado. — Mas mandaram-me noticiá-la imediatamente.

— Diga de uma vez. — fez um gesto com a mão.

— O palácio está com visitas.

— Isso pouco me interessa. — murmurou.

— A princesa Elizabeth chegou!

— Dimitri deve estar feliz. — deu um pequeno sorriso e deu de ombros.

— Também tem...

— Diga de uma vez.

— O príncipe Phillip também veio.

Aquilo chamou sua atenção.

A grã-duquesa perdidaUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum