Capítulo XXIX

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Anastásia conseguiu abraçar Natasha depois de alguns minutos. Todos estavam felizes com aquela ocasião, pois não havia nenhuma tensão e nenhum clima ruim; por enquanto. Para sua surpresa, sua madrasta estava com um sorriso radiante no rosto e abraçou a enteada com carinho e lhe deu uma pequena caixa de veludo vermelho, provavelmente era alguma joia, parecia ser um típico presente de Lara.

Sentou-se ao lado do seu irmão Nikolai, que estava conversando animadamente com Phillip sobre as caças inglesas, despertando seu interesse. Deveria ser animado caçar animais pela floresta montada em um cavalo com auxílio de cachorros para achar uma raposa. Mas como não gostava de ficar ouvindo a conversa dos outros por muito tempo sem ser chamada, resolveu observar o resto da família.

Seu pai estava com um largo sorriso no rosto com a mão na cintura de Lara, conversando com Natasha e Tatiana. Alexander e Ivana comiam alguns bolinhos que pareciam ser de avelã, porém, Dimitri sumiu do seu campo de visão, o que era estranho. Por hora, iria ignorar seu repentino sumiço.

— Seu irmão mandou avisar para você que voltará em poucos minutos. Pediu-me para lhe fazer companhia. — Elizabeth sentou-se ao seu lado. — Podemos conversar, ou simplesmente pode ignorar minha presença.

— Não vou ignorar sua presença, Elizabeth. — colocou seu desenho de cabeça para baixo. — Sabe para onde ele foi?

— Recebeu um chamado urgente de Moscou. Não me informou o que seria.

Ela ficou subitamente pálida, pois poderia ser alguma má notícia dos seus pais adotivos que estavam escondidos lá. Com Ivan ainda solto pela Rússia, ela tinha medo de tudo. Qualquer notícia ou urgência, ela achava que o assassino da sua mãe estava envolvido.

— Quer um copo d'água? Ficou pálida de repente?

— Por favor. — murmurou.

Elizabeth levantou-se rapidamente em direção à mesa com as comidas e as bebidas. Anastásia começou a suar frio, apesar de não estar fazendo calor. Fechou os olhos por alguns segundos, e a princesa inglesa já estava ao seu lado com um copo com água na mão lhe oferecendo. Pegou o copo de sua mão e bebeu rapidamente.

— Obrigada.

— Por nada, Anastásia.

— Tem certeza que ele não lhe comunicou nada a respeito do que se tratava?

— Tenho. — afirmou seriamente.

Para sua alegria Dimitri não demorou em retornar, mas seu rosto continha uma expressão sombria e triste. Observou que ele chamou seu pai para um lugar vazio e cochichou em seu ouvido alguma coisa. O czar olhou para Elizabeth e depois para Phillip, porém, demoradamente nele. Provavelmente a notícia não era boa para os irmãos Marshall, o que a deixou triste, mesmo sem saber o que era.

— Dimitri chegou, em breve saberá do que ele foi tratar.

— Dentro de mim, parece que não são bons ventos.

— Realmente, pela expressão do czar e seu irmão.

— Creio que não seja Moscou que esteja passando por algum problema.

— E por que seu irmão me disse que era em Moscou? — Elizabeth deu um sorriso zombeteiro.

— Para poupá-la de algo.

Elizabeth olhou para ela assustada.

— Impossível perceber isso com expressões faciais.

— Precisa aprender muitas coisas ainda, Alteza.

Anastásia levantou-se e foi até Natasha para entregar seu presente, para depois descobrir com Dimitri o que havia acontecido na Inglaterra.

— Pensei que iria se isolar com Elizabeth o resto do dia. — sua irmã revirou os olhos.

— Você também não foi até mim. — entregou o desenho para Natasha. — Espero que goste. Está um pouco amassado por causa de Dimitri, mas releve.

Natasha começou a olhar o desenho detalhadamente, e riu quando olhou o amassado no papel.

— Deixe-me adivinhar o motivo desse amassado. — colocou o dedo sobre o queixo. — Dimitri esqueceu meu presente e quis roubar o seu?

— Como descobriu?

— Oh, ele faz isso todo ano. — Natasha riu. — Obrigada, minha amada irmã. Ficou adorável. Colocarei em cima da minha lareira.

Anastásia sentiu uma mão na sua cintura e outra apertando sua bochecha.

— Fofoqueira. — Dimitri começou a rir. — Espero que tenha gostado do colar.

— Eu o conheço muito bem, Dimitri. Sim, gostei. Apesar dele não parecer muito estranho. — Natasha o empurrou com o ombro. — O que estava falando com nosso pai? — perguntou com curiosidade.

Seu rosto ficou sério de repente e tirou sua mão da cintura de Anastásia.

— Não quero estregar sua festa minha irmã, mas em breve isso irá acontecer. — puxou as duas para um lugar mais reservado. — O irmão de Elizabeth e Phillip morreu hoje.

— Então se deve dizer a eles com antecedência sobre isso. Pelo amor de Deus, minha festa pouco importa agora. Morreu como?

— Caça.

Anastásia e Natasha colocaram a mão sobre a boca.

— Caiu do cavalo e bateu a cabeça em uma pedra. Os médicos tentaram de todas as maneiras salvá-lo, mas infelizmente...

— Ele morreu. — terminou Natasha.

— Ele era o herdeiro do trono da Inglaterra.

— O próximo herdeiro é quem? — perguntou Anastásia.

— Phillip. — respondeu Dimitri.

Automaticamente Anastásia olhou em direção a Phillip, que estava abraçado com sua irmã aos prantos. E seu pai estava abraçado com Lara, que também chorava muito.

O destino dele tinha mudado em uma questão de segundos.

Ivan havia conseguido pegar várias joias do cofre da biblioteca, assim como algumas armas e munições. Precisava o mais rápido possível sair de Moscou e voltar para São Petersburgo para concluir o que tinha que ter sido feito há muitos anos atrás.

Deixou uma carta para sua mãe pedindo perdão, mesmo sabendo que daquela vez ela jamais voltaria a perdoá-lo. Ele tinha ultrapassado todos os limites dessa vez, reconhecia, mas pouco se importava. Desde que matou Sasha, tudo passou a ser sem importância, até mesmo sua mãe, apesar de amá-la.

Raspou totalmente sua barba, cortou seus próprios cabelos, colocou suas antigas roupas, que também havia pegado na casa da sua mãe, e vestiu-se. Mesmo achando que poderia ser arriscado andar daquela maneira, achava pouco provável alguém reconhecê-lo. Havia ficado mais velho, mais magro, mais decadente, ao contrário do antigo Ivan Tchaikovsky, que era jovem, belo e majestoso. Sentia saudades dos velhos tempos, todavia, nada podia fazer para voltar a ser jovem e belo.

Resolveu se aventurar em outro bar perto da estrada, pois não podia pegar um trem por causa do passaporte, e não sabia onde poderia falsificar um, fora o tempo que ele não possuía para esperar.

— Parece que esse maldito frio não passa. — resmungou.

Depois de uma longa caminhada chegou a um bar, para tentar a mesma sorte que teve em São Petersburgo. Chegou até o balcão e chamou o garçom que servia uma dose de vodca para um homem ao seu lado.

— Conhece alguém que possa me dar uma carona para São Petersburgo?

— Não conheço nenhum, senhor.

— Está mentindo.

— Não...

Ivan tirou uma arma de dentro do seu casaco e pousou em cima do balcão.

— E agora, tem?

— Tem senhor. — olhou assustado para a arma.

— Ótimo. Agora estamos entendidos.

Ivan guardou a arma novamente e pediu uma rodada de vodca enquanto esperava o homem que o garçom havia falado.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now