Capítulo XVI

29.3K 3.3K 926
                                    

Anastásia estava sentada na cozinha comendo pão e bebendo chá. Feodora falava alegremente de seu noivo, quando vários guardas passaram correndo pela cozinha em direção aos fundos. Todos que estavam na cozinha ficaram assustados, principalmente ela que nunca havia presenciado aquilo. Irina veio logo depois com sua expressão séria de sempre, mas havia alguma coisa além da seriedade; aparentava preocupação. Ela olhou cada um por vários segundos até sentar-se ao lado de Anastásia, pousando as mãos na mesa.

Irina respirou fundo, e colocou uma mecha solta do seu cabelo atrás da orelha. Sua aparência estava aparentava estar cansada, olheiras nítidas, suas mãos tremiam.

— Não precisam me olhar como se eu fosse algo estranho. Todos me veem todo dia nesse palácio. — Irina falou depois de alguns minutos.

— Não com uma aparência tão péssima. — Anastásia respondeu, e se arrependeu das palavras assim que as falou.

— Acho melhor conter suas palavras para si, Srta. Tchecova. — disse secamente. — Mas eu admiro sua ousadia ao mesmo tempo. Duvido muito que qualquer empregado diria isso para mim. — suspirou. — Estou péssima esses dias. Agora temos visitas no palácio, notícias do paradeiro de Ivan, meu filho me odiando.

Anastásia olhou assustada para Feodora que apenas fez um movimento com a mão para ela ficar quieta. O resto dos empregados que estavam na cozinha voltaram ao que estavam fazendo, e ignoraram a presença da governanta ali. Lágrimas começaram a descer pelo rosto de Irina, deixando-a abalada. Não gostava de ver ninguém chorando, apesar de já ter chorado muito durante toda a sua vida. Sensibilizou-se com a situação daquela mulher, e colocou sua mão sobre a dela.

— Eu não tenho nenhuma intimidade com a senhora, mas eu simplesmente não suporto ver ninguém chorar. Não sei como veio para cá nesse estado, as pessoas vão comentar depois, sempre existem fofocas.

— Você acha que eu me importo com isso menina? — sorriu secamente. — O assassino da czarina está prestes a ser descoberto.

— Isso não alegra a senhora?

— Alegra bastante. Porém, existem coisas das quais não têm conhecimento. Coisas que a assustariam. Bem, agora vou voltar às minhas funções. — levantou-se. — Continue sua refeição. Obrigada.

Ela saiu da cozinha depressa limpando o rosto com as mãos. Voltou a comer seu pão e pensou nas palavras de Irina. O que mais esse palácio poderia ter em segredo? Chegou à conclusão que nunca saberia, mas não custava nada perguntar a Feodora.

— Você sabe quais são essas coisas que Irina citou? — Anastásia bebeu todo o chá.

— Existem muitos boatos sobre a paternidade do filho dela. — Feodora sentou ao lado de Anastásia. — O mais forte é que seu filho é de Ivan Tchaikovsky. Ninguém descobriu se é verdade, mas eu acredito que sim. A semelhança é gritante, por isso ela o mantém longe do palácio.

— Ela deve se sentir péssima.

— Eu me sentiria péssima se eu fosse filha do assassino. Deve ser por isso que ela deve estar com problemas com o filho. Agora basta saber se o menino odeia ou idolatra o pai.

— Quais são suas apostas? — Anastásia deu uma risadinha.

— Que gosta do pai, entretanto tem raiva do que o pai fez.

— Concordo com você.

— Acho que é o mais lógico. — Feodora se levantou e foi buscar uma bacia com batatas. — Como está de folga hoje, poderia me ajudar com as batatas?

— Claro. — Anastásia se levantou e entregou o prato e a xícara para Olga que estava lavando os pratos. — Não tenho nada de bom para fazer mesmo.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now