Capítulo 04 - O primeiro caído

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A escuridão da noite havia tomado toda a planície e se unido à sombra do bosque para enegrecer toda a região. Apenas um foco de luz podia ser visto em toda uma imensidão de terra e grama.

A fogueira cercada de seis guerreiros crepitava e servia como foco de esperança para uma jornada iniciada ainda naquele dia, mas sem data para ter fim.

- Eu gosto de ser um guerreiro... – manifestou-se Adriel, balançando os cabelos compridos.

- Claro! Não faz nada e ainda por cima é considerado um heroi. Assim qualquer um – avacalhou Isa, sentada ao lado dele. Adriel a empurrou, mas o forte corpo da mulher não se moveu.

Todos riram, menos Gerolt – o homem barbado e careca – e Mondegärd, um velho muito vaidoso, sempre com o cabelo bem cortado e a face livre de pelos. Estes dois eram os mais sérios daquele grupo.

- Heroi nada... Se alguém aqui é heroi, é o nosso querido príncipe aqui! – gritou Adriel, agarrando Dario pelo pescoço e fazendo um cafuné. Rindo alto, completou: - Acho que não tem uma mulher na capital que não se derreta ao ouvir o nome desse salafrário.

No comando da trupe, estava o príncipe do reino de Mylstain, de nome Dario. Os cabelos arrepiados davam-lhe uma certa aura de peralta, entretanto, era muito compenetrado. Com apenas 21 anos, era o Mestre Comandante da Armada Oficial – o cargo mais alto que um militar poderia alcançar em sua carreira. Desnecessário dizer, era o mais jovem a ocupar o cargo em toda a história daquele reino.

- Não fale assim, Adriel – respondeu o comandante, sentando-se novamente. – Primeiro, isso não é verdade. E, segundo, eu tenho assuntos muito mais urgentes a tratar do que mulheres.

As palavras do príncipe fizeram todos rirem novamente.

- Não se preocupe, comandante. Nem todas as mulheres são apaixonadas pelo senhor. Eu, por exemplo, escapei do seu feitiço – brincou Isa. Dario riu, e a mulher de franja continuou: - Se bem que sou a única neste grupo a poder dizer isso, certo Celine?

- Ah... é... Pare de brincar com essas coisas, Isa! Que vergonha! Não ligue para ela, Dario...

Envergonhada, a garota de tiara e cabelos curtos e negros era Celine, uma jovem de 23 anos e muito graduada no exército oficial. Estando apenas duas patentes abaixo do príncipe, era uma grande guerreira e usava um arco-e-flecha como arma de batalha. Porém, no quesito relação interpessoal, era uma novata.

- Olha só como ela ficou vermelhinha... Que gracinha! – atazanou Adriel. Desta vez Dario não riu.

- Ok. Chega de brincadeiras. Já está tarde e temos que dormir. Adriel, você começa fazendo a guarda – ordenou o jovem comandante, levantando-se.

- Mas já?! – reclamou Adriel.

Sem resposta, alimentou a fogueira enquanto os outros se dirigiram às suas barracas. Celine e Isa ficariam em uma, Mondegärd e Adriel em outra e a terceira seria ocupada por Gerolt e Dario.

O tempo passou e Adriel sentou-se encostado em uma árvore. Olhava para o céu sem estrelas. Segurava um pedaço de madeira com fogo a iluminar seu entorno. Pensava quanto tempo ficaria fora de casa. Havia dito gostar de ser um guerreiro, mas ter que dormir no chão gelado e arenoso não era uma das melhores partes de ser um oficial graduado. Quando voltasse, iria tomar um belo banho e dar em cima de alguma senhorita muito bela na capital. Depois, cortejaria a moça por alguns dias e assim...

Foi o tempo de uma piscada. Quando o sono ficou irresistível para Adriel, suas pálpebras fecharam e nenhum feixe de luz entrou em seus olhos. Neste momento quase imperceptível, uma flecha atravessou-lhe a cabeça e o sangue, a espirrar pela nuca, tingiu de vermelho o caule da árvore. Morrera feliz.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora