Capítulo 47 - É assim que se guarda um tesouro

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Adriel interrompeu o relato bruscamente pois as lágrimas teimaram em cair. O oficial limpava os olhos quando Isa o abraçou forte, em um raro gesto de carinho.

- Quem vê até parece que você tem alguma coisa nesse peito magricela – brincou Isa, dando um soco no peito de Adriel. Tossindo, o oficial tentou sorrir, mas a dor – do soco – realmente incomodava.

- Essa é a Isa que eu conheço – sorriu, por fim.

- Graças aos esforços do capitão Dario e de Adriel agora temos o espelho – resumiu Mondegärd. – Acredito que estamos prontos para tomar o outro caminho e encarar a tal “armadura viva”. Não posso negar, estou ansioso para vê-la.

- Sim, vamos lá – concordou Dario, fazendo um movimento para levantar-se. As dores no corpo logo foram transmitidas pela face.

- Não! Esperem! – interrompeu Celine. – Vocês dois estão ofegantes e cansados. Não adianta nos apressarmos. Vamos descansar um pouco...

- Não há necessidade...

- Não, capitão – interveio Isa. – Acho que a Celine disse algo sensato pela primeira vez desde que deixamos a capital. – Celine fechou a cara; Isa prosseguiu: – Todos precisamos de descanso. Se o próximo desafio nem Meriedro superou, melhor estarmos preparados.

- Isso. Temos um pouco de alimento em conserva aqui na bolsa do Gerolt. Vou preparar para a gente – falou Celine, fuçando na bolsa e retirando de dentro alimentos conservados em temperos.

Todos sentaram-se na escada e, usando o pouco material que tinha disponível, Celine preparou um pedaço de alguma coisa para cada um – ninguém sabia ao certo o que comia. Sentados nos degraus, todos lancharam em silêncio, até Mondegärd perguntar:

- O que espera da armadura, senhor Dario?

- Bem... Pelas informações do bilhete, acredito que seja uma espécie de armadura animada magicamente. Deve estar lá para proteger a chave que abre a porta central acima destas escadas.

- Por que alguém trancaria a porta e deixaria a chave ao alcance dos outros? – perguntou Adriel. Para ele, não fazia sentido trancar um tesouro e deixar a chave em um lugar onde os outros pudessem pegar.

Mondegärd sorriu e respondeu:

- “Ao alcance dos outros” você diz? Acha que a chave para o tesouro estaria mais segura com o próprio dono da relíquia? É aí que se engana, jovem. Caçadores de tesouros arriscam suas vidas a cada nova jornada. Se levassem o tesouro com eles – ou mesmo as chaves de seus esconderijos – a chance de perdê-los seria imensa, visto que estão sempre em batalha ou superando desafios diversos.

- Entendo – confirmou Adriel – Então eles os escondem em lugares vários e os protegem para garantir que apenas eles próprios tenham acesso.

- Exatamente. Quando os donos desses incríveis tesouros vem reclamar aquilo que já lhes pertence, não pretendem arriscar suas vidas no processo – explicou o mago pacientemente. – De forma que Recuperadores, como Meriedro, sabem muito bem que a resposta para os enigmas que protegem estes redutos é muito simples. O problema é entender a mente de quem os guardou. No caso deste templo, o segredo é tão complexo que nem mesmo um Recuperador de alto nível o conseguiu desvendar.

Neste momento Celine entrou na conversa:

- Você quer dizer que se descobríssemos o segredo por trás dessas medidas protetivas, poderíamos passar por elas sem problemas?

- É isso mesmo. Mas não é tão simples, pequena. Para encontrar a solução dos enigmas, teríamos que pensar como aquele que os criou. E isso nem sempre é possível.

- Na grande maioria dos casos – acrescentou Dario –, não encontramos as respostas e temos que forçar nossa entrada. Para dar um exemplo, deve existir uma forma de atravessar a ponte sem enfrentar a “armadura viva”, mas provavelmente não conseguiremos descobrir esta forma, portanto teremos que enfrentá-la, como Meriedro fez.

- Só que a gente é mais poderoso do que ele, então vamos conseguir – disse Isa, cheia de pompa.

Diferente da amiga, Celine não tinha certeza se era mais forte que Meriedro. Então decidiu que ao invés de enfrentar a armadura, tentaria descobrir o segredo por trás de sua ativação, passando sã e salva pela ponte e pelo veneno.

“Esse é um bom plano... Farei isso!”, decidiu a jovem.

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Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora