Capítulo 07 - Um pequeno desvio

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- Bom dia, capitão! Hora de acordar! O dia está lindo!

As meigas palavras de Celine fizeram Dario acordar sorrindo.

- Aqui está. Eu e Adriel preparamos uma salada de frutas para todos. É bom comer tudo, hein? – brincou a garota, dando um pote de barro para o príncipe com várias frutas picadas.

- Obrigado, Celine. Agradeça ao Adriel por mim.

- Pode deixar. E agora coma tudo – exigiu a jovem, levando uma mecha do cabelo liso para trás da orelha.

Celine saiu da barraca e ouviu assobios e palmas de seus amigos.

- Parabéns, Celine! É pela barriga que se fisga um homem! – comemorou Isa.

- O caminho mais fácil nem sempre é o mais honrado, pequena... – recomendou Mondegärd. Todos riram, pois era difícil o velho mago participar das brincadeiras.

- Me deixem em paz!

Cerca de uma hora depois, o acampamento estava desfeito e todos, sobre seus cavalos brancos, seguiram viagem em direção ao sul.

- Vamos levar mais um ou dois dias para deixar Mylstain. Depois, vamos entrar nas terras das Cidades Livres. Mais três dias – quatro ou cinco com paradas generosas – e então estaremos em Dehör – previu, Dario.

- Nem me fale desse reinozinho chinfrim – reclamou Adriel.

- Não fale assim – ralhou Gerolt. – Dehör pode ter uma tropa menos treinada que a nossa, mas o contingente deles é bem maior. Possuem muitos magos e contam com o suporte de outras raças.

As palavras de Gerolt tinham sido um tanto rudes, mas Adriel sabia que eram verdadeiras.

Mylstain (pronuncia-se Maiul-stéim) e Dehör eram o nome dos dois maiores reinos humanos do mundo. Dario e seus comandados pertenciam ao primeiro. Mesmo não estando em conflito, entretanto, pouca amizade existia entre os povos dos dois reinos. Um dos motivos é que Dehör tinha evoluído mais que a terra dos seis guerreiros. Com leis menos rígidas e um investimento maior no desenvolvimento dos trabalhadores, Dehör tinha desenvolvido cultura, economia e política mais avançadas que Mylstain. De certa forma, a competição instigava a desunião entre os povos.

- Você pode falar o que quiser, nós seis acabaríamos com todo o exército de Dehör – garantiu Isa, orgulhosa.

- Não fale bobagens, Isa... – sorriu Dario. – Vamos parar por alguns minutos.

Viajar no sol por horas cansava rapidamente os cavalos. Por isso, precisavam fazer paradas frequentemente. Levavam consigo diversos cantis de água e galões especialmente para os animais. Gerolt carregava uma grande bolsa de suprimentos e utensílios pessoais.

Já passava das quatro horas e o sol já ia abaixando, quando Isa forçou os olhos e notou uma construção diferente no horizonte.

- Vejam! Uma cidade! – avisou.

- Aquela é a cidade de Menfatz. Mas não podemos parar lá, não comecem... – interveio Dario.

- Por que não?! – reagiu Adriel. Parecia realmente incomodado com a impossibilidade de pararem e dormirem em uma confortável hospedaria.

- Pense, jovem Adriel... Pensar de vez em quando faz bem... – atazanou Mondegärd, fazendo todos rirem.

- Hoje o senhor Mondegärd está afiado! – surpreendeu-se Celine.

Adriel parecia ter entendido o recado. No entanto, não foi o suficiente para lhe fazer esquecer a ideia.

- Eu sei que somos conhecidos e chamaríamos muita atenção, principalmente o capitão. Mas, pensem bem: se escondermos a face dele e chegarmos separados, dificilmente causaríamos alvoroço. E, além disso, Menfatz não é uma cidade pequena. Não vamos chamar tanta atenção assim.

Todos ficaram em silêncio, esperando a decisão do comandante.

- Bom, vamos fazer assim: faremos uma votação, e o que a maioria quiser será feito.

- Beleza! – Adriel concordou entusiasmado.

O que o guerreiro de cabelos compridos não percebera é que Dario já tinha pensado em tudo: apenas o próprio Adriel votaria sim, pois todos os outros entenderiam a necessidade de prosseguir viagem.

- Então, quem quer parar em Menfatz? – perguntou Dario.

- Eu!

- Eu.

- Eu...

- Eu.

Grande foi a surpresa do capitão quando apenas Gerolt não disse nada. “Até o Mondegärd?!”, Dario duvidou.

- Então é isso! Vamos para Menfatz! – vibrou Adriel.

Dario olhou para o lado e viu Gerolt de cara fechada.

- Estou com um péssimo pressentimento sobre esse pequeno desvio, capitão...

- Tenha calma, Gerolt! Não seja carrancudo! – interrompeu Adriel. – O que pode acontecer em uma cidade tão pacífica?

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora