Capítulo 41 - Calma aí, garanhão

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Os guerreiros olharam-se em silêncio, pensando no sentido daquelas palavras. As últimas palavras de Meriedro eram trágicas e carregavam grande amargura, mas ao mesmo tempo eram imbuídas de um chamado ao desafio, como se, vencido pelos perigos do templo, quisesse agora contar com a ajuda deles para conseguir encontrar a paz.

Mesmo após vários e longos minutos, ninguém quis comentar o que havia sido lido no bilhete de Meriedro. Por fim, Dario quebrou o silêncio:

- Sabíamos desde o princípio que não seria fácil...

- E agora temos certeza – interrompeu Adriel. O oficial pareceu preocupado pela primeira vez desde que a missão iniciara. Sua face estava grave como nunca tinham visto antes.

- Calma, bebê – caçoou Isa. No entanto, o amigo não riu, causando estranhamento. Por sua vez, Dario o olhou sério em repreensão e prosseguiu:

- Este bilhete contém muitas informações relevantes. Tenho certeza que será útil.

Todos coçaram a cabeça, incrédulos.

- Isso se essas informações forem verdadeiras, certo? – duvidou Isa.

- Provavelmente, jovens – concluiu Mondegärd –, teremos que confirmar estas informações com nossos próprios olhos.

- Dario, para onde iremos agora? – quis saber Celine, preocupada.

- Temos que continuar investigando este salão. Vamos nos dividir e olhar todos os espaços em busca de algo que possa nos auxiliar.

E assim eles se separam e estudam os vários cantos do hall. As paredes eram velhas e verdes. Poeira se unia ao úmido das pedras quadradas que formavam as estruturas do salão.

Dario e Mondegärd foram juntos até as escadas que iniciavam no corredor inicial e desembocavam no andar e refizeram o caminho percorrido há pouco, com atenção redobrada às tochas vivas e crepitantes na parede do corredor.

Celine contornou as escadas. “Espero não encontrar nada...”, pensava, sem temer a improdutividade. “Um esqueleto já foi o bastante... E perdão por pisar no senhor, Sr. Meriedro...”

Isa subiu as escadas com Adriel. A guerreira não conseguia entender a reação do amigo. Geralmente despreocupado, algo naquela mensagem tinha mexido com ele. Para desabafar, e não resistindo ao desafio, Isa tentou empurrar a porta dupla de pedra. Empurrou com toda a força, até a face ficar vermelha.

- Daqui a pouco você vai sujar as calças...

Isa parou na hora.

- Você é muito babaca, Adriel – brigou, mas sorriu por dentro, pois era melhor vê-lo assim.

- Quer saber, me desculpe Isa. – O guerreiro ficara sério, o que deixou Isa desconfortável novamente.

- Não foi pra tanto...

- Sem querer se pessimista, mas, Isa, pode ser que a gente morra aqui dentro. Então queria falar pra você algo antes que seja tarde demais. Quer namorar comigo?

A sinceridade e objetividade de Adriel pegaram Isa desprevenida e a oficial ficou completamente sem jeito. Assim como Dario, Isa pouco pensava em namoros ou relações com o sexo oposto em geral. Desde criança, nunca tivera muitas oportunidades de treinar conversas desse tipo pois a maioria dos garotos não sentia atração por ela, mas medo.

- Não... Não fale besteira – conseguiu responder, virando-se de costas para Adriel.

- Estou falando sério. Você é uma mulher muito atraente; também é minha amiga há anos e, já faz um tempo, estou pensando em você de outra forma. Enfim, o que acha?

“Como esse paspalho pode falar algo tão constrangedor de forma tão natural?”, impressionava-se a guerreira.

- Adriel... – Isa queria apenas descer a escada sem falar mais nada e estourar a cabeça de algum monstro perverso com seu machado. O companheiro, entretanto, parecia não estar disposto a desistir de sua declaração. Isa continuou em silêncio por mais algum tempo, de costas olhando para o chão. Sua mente parecia travada, até que...

- Tá bom – respondeu baixinho, virando-se para virando-se para o declarante.

- Sério?!

Isa ficou calada e acenou positivamente com a cabeça, envergonhada. Adriel aproximou-se e ficou nas pontas dos pés para encostar seu rosto no dela. Isa, no entanto, se afastou bruscamente.

- Ei! Calma aí, garanhão!

Adriel ficou chocado com a reação.

- O que houve? Achei que...

- Sim, sim, mas vamos com calma. Ainda falta muito para nosso primeiro beijo.

“Quantos anos essa mulher tem mesmo?”, pensou Adriel, sorrindo. E desistiu do beijo.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora