Capítulo 48 - Ponte de pedra

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Após comerem e conversarem sobre armaduras vivas, espelhos mágicos, monstros de pedra e criaturas imortais, todos dormiram por algumas horas. Isa ficou de guarda, mesmo Dario oferecendo-se para fazer a vigia. Enquanto estava sozinha, ouvindo apenas o crepitar das tochas e a luz parecia dançar ao sabor do vento, a guerreira ouviu ruídos estranhos. Pareciam vir de cima, mas era impossível ter certeza; então concentrou-se e identificou:

Na solidão do templo de pedra

No domínio da escuridão e da treva

Ando pelos corredores e salões

Em busca do descanso da morte

Quando o globo conquistarem por sorte

Então começará a era dos trovões

Isa assustou-se pois os sons transformaram-se nesta melodia a tocar-lhe os ouvidos de perto. Virou-se rapidamente para os lados, mas não viu nada. Assustada, lembrou-se do bilhete de Meriedro. “Ele escreveu que escutava cantigas em línguas estranhas... Mas eu entendi tudo tão bem... Parecia uma poesia...”.

- Ei! Acordem!

Adriel foi o primeiro a abrir os olhos e levantar os braços, espreguiçando-se.

- O que foi, Isa? Viu um espírito? – sorriu.

- Quase isso. Acho que ouvi um.

- Que?

- Ouviu o que, Isa? – perguntou Celine, também acordando.

- Esperem todos levantarem. Já conto.

O grupo estava todo desperto preparado para ouvir. Dessa forma, Isa pode começar:

- Lembram que no bilhete estava escrito sobre uma voz falando e cantando em línguas estranhas? – Todos acenaram positivamente. – Pois então, agora há pouco escutei uma recitando uma poesia. – Todos ficaram chocados, mas ninguém disse nada. – No entanto, eu pude entendê-la. Era algo mais ou menos assim: “Estou sozinho andando pelos corredores, esperando alguém tomar o globo por sorte e então começará a época dos trovões”.

Isa calou-se e esperou os comentários dos companheiros. Dario foi o primeiro a falar:

- Mesmo você podendo compreendê-la, deve ser a mesma entidade relatada no bilhete. O porquê de você conseguir entendê-lo não está claro, mas deve ser a mesma entidade. Pelo que você nos contou da poesia, deve ser um dos protetores deste lugar.

- Compartilho da mesma opinião – acrescentou Mondegärd. – E deve estar atrás da grande porta no fim desta escada central. Talvez ele possa nos ver, mas tenha que esperar nossa chegada. Com certeza não é humano ou kanayr. Acredito que possa ser uma entidade imaterial.

- Espero que esteja errado, Monde... – torceu Isa.

Celine queria saber qual era o problema caso o protetor fosse uma “entidade imaterial”, mas preferiu não perguntar para não correr o risco de passar vergonha.

- Seja como for, teremos que encontrá-lo em algum momento. Aparentemente ele está preso no andar superior, pelo que Isa contou. – Dario parecia abatido, mas aos poucos se recuperava. – Entretanto, antes temos que seguir este outro corredor. Pelo que vejo, estamos prontos, não?

O grupo estava preparado para prosseguir. Era hora de enfrentar o desafio que abatera o grande aventureiro Meriedro. Dessa forma, seguiram o corredor leste e foram até o final, virando para a esquerda quando o caminho chegou ao fim. Esse corredor era idêntico ao que levava ao espelho. Entretanto, após a curva, adiante era possível ver uma grande sala, muito maior que a da ala oeste. Dali onde se encontravam, viam a ponte e depois dela uma armadura em frente a uma porta de tamanho ordinário.

Aproximaram-se com cautela, mas a armadura não se movia.

- Parece até uma decoração – comentou Celine.

- Verdade – concordou Isa. – Mas não se esqueça que no bilhete dizia que ela só se meche quando tentamos cruzar a ponte.

Os guerreiros adentraram a grande sala e puderam ver que metade do chão era composto de pedra, assim como as paredes e o teto; entretanto, cerca de cinco metros além da entrada, as pedras acabavam, desembocando em uma espécie de lago amarelo esverdeado. A única forma de atravessar o lago sem entrar nele era por meio de uma ponte. A ponte ficava centralizada horizontalmente e ia de metade da sala até a porta. Sobre ela, bem à frente do batente da passagem estava uma armadura velha completa, arranhada e amassada, que perdera o brilho há muitos anos.

A armadura apresentava todo o conjunto de proteção em aço, com botas longas, joelheiras e proteção para as pernas, cinto de aço, peitoral completo – do pescoço à cintura –, além de ombreiras, proteções nos braços e luvas; completando o conjunto havia o capacete. Todas as peças pareciam montadas em um suporte de sustentação, dando a impressão de haver um homem lá dentro. No entanto, não era possível ver face, ou qualquer sinal de criatura no interior da armadura.

- Isso realmente dá medo – falou Adriel. – A única forma de atravessar a ponte é chocando-se com ela. Não há outra forma. A largura da ponte mal suporta uma pessoa. O teto é alto demais para tentarmos nos enganchar, além disso, não adiantaria, pois mesmo que voássemos a armadura ocupa toda a passagem...

- Mesmo com um barco seria impossível... – completou Mondegärd.

- Não se enganem – concluiu Dario –, não há como entrarmos na sala sem enfrentar a armadura. Vamos apenas perder tempo se ficarmos pensando em subterfúgios. Eu a enfrentarei e terminaremos isso o quanto antes.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora