Capítulo 38 - Ao final da fenda

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- Não! Ele foi pego! – gritou Celine, tapando os lábios com as mãos.

- Estou voltando! – avisou Adriel e saiu em direção à fenda. Todos foram atrás dele.

“O Monde estava fraco...”, lembrou-se o guerreiro, enquanto liderava o grupo pelo caminho ainda cheio de areia pelo ar.

Com cuidado, retornaram até encontrar uma alta fileira de pedras. Tentando não machucar o velho – soterrado, pensavam –, escalaram a pilha e caminharam vagarosamente. A visibilidade era precária, o que dificultava a busca. Isa passou a tocha para Adriel e ele conduziu todos até ouvirem um fraco chamado vindo dos escombros.

- Socorro... Socorro...

- Mondegärd! Estamos aqui! – gritou Adriel.

Com pressa, o guerreiro aproximou-se do foco dos pedidos de ajuda e avistou uma fraca luz alguns metros à frente.

- Ele está protegido por uma barreira! Vamos logo!

Todos se aproximaram do mago e o viram com os braços para cima, sustendo uma barreira de energia. A luz mantinha uma grande quantidade de rochas flutuando sobre seu corpo.

- Não... Não vou aguentar por muito tempo... – ofegava Mondegärd. – Sinto meu poder esgotar-se...

- Calma, vamos tirar essas pedras – desesperou-se Adriel e começou a removê-las, passando-as para Isa. Infelizmente, apenas uma pessoa podia fazer o trabalho devido ao estreito espaço. Adriel ainda removia as últimas rochas quando viu o olhar do amigo sob as pedras refletir o desespero da morte.

- Não aguento mais! Vou des... – E assim foi ao chão Mondegärd. Adriel sabia que se o velho fosse atingido pelas pedras restantes poderia se ferir gravemente.

- Monde! – Adriel gritou e se atirou sob os pedregulhos caindo em cima do corpo desacordado do companheiro.

- Adriel! – gritou Isa.

- Ai, minhas costas... – os outros ouviram Adriel falar. – Celine... acredite em mim, isso aqui deve ser pior que dormir com a Isa na mesma tenda...

Celine não sabia se aquilo era uma piada ou um pedido de socorro, então Isa foi a primeira a falar:

- Quer ser o engraçadinho até aqui?! Pelo menos faça uma piada decente! – sorriu Isa, removendo as pedras sobre os amigos. – Até que são leves... Ver o Adriel levantando elas dava impressão que pesavam toneladas.

- Podemos parar com as gracinhas? – reclamou Dario. Ninguém falou mais nada, pois não sabiam se era o tom ou as palavras, mas lembraram-se de Gerolt.

Isa e Adriel levantaram o desmaiado para cima. Dario e Celine o pegaram e juntos levaram ele para a área aberta à frente. O grupo se reuniu em seguida. Celine pegou um cantil de água e lavou o rosto do velho. Seus olhos estavam fechados, mas seguia respirando, mesmo com alguma dificuldade.

- Essa foi por pouco... – bufou Adriel.

Aproveitaram o momento de descanso para observar em volta. A fenda era espaçosa e parecia com a entrada da Cordilheira, no local onde enfrentaram o gromav.

Naquela área aberta os ventos incidiam com mais força. Rapidamente o frio voltou a incomodar o grupo. Dario observou o cenário, mas era impossível ver além do que revelava o fogo da tocha.

- Temos que continuar. O frio será cada vez mais intenso e, durante a madrugada, não teremos como nos proteger dele, mesmo com barracas e uma fogueira.

Todos estavam estafados ao limite, mas prosseguiram. Não havia outra opção.

Isa e Adriel levavam Mondegärd apoiando seus braços sobre seus ombros. Celine e Dario iam à frente iluminando o caminho e para a sorte do grupo a caminhada não durou muito. Pouco andaram e a chama das tochas revelou uma estranha estrutura.

Um portal de pedra ocupava toda a largura da fenda. No meio, havia uma passagem sem porta com a largura de quatro homens um ao lado do outro e altura de três – um sobre o outro. De ambos os lados do portal, uma parede de pedra rachada com inscrições diversas impossíveis de serem lidas, decorava a estrutura. O musgo crescia em toda a superfície e a impressão era de que a passagem existia há centenas de anos.

Andando um pouco mais, o chão de terra e rochas deu lugar a uma plataforma plana de pedra.

- Parece a entrada de um templo antigo... – arriscou Dario.

- Um templo antigo e sinistro – completou Adriel.

- Se o Monde estivesse acordado, ele poderia tentar ler essas letras ou figuras. Mas não vejo ele acordando tão cedo...

- Não podemos esperar, Isa – interrompeu Dario. - Vamos entrar e que os deuses nos protejam.

Ao passarem pelo portal com extrema cautela, instantaneamente o frio deu lugar a um ambiente abafado, onde era difícil até mesmo respirar.

- Cof... Cof... – tossiu Celine. – Não consigo respirar direito.

- Pare de reclamar de tudo, Celine. Pelo menos o frio ficou lá fora – resmungou Isa.

- A Isa está certa – concordou Adriel. – Esse bafo é apenas questão de costume, Celine.

A jovem não gostou das repreensões, mas concordou: o ambiente ali dentro era muito mais agradável em comparação ao frio intenso do vale.

Dario caminhou alguns metros e tentou iluminar o máximo que pôde.

- Parece um longo corredor. Acho melhor aproveitarmos que o frio cedeu e dormirmos aqui até o sol nascer. Ficarei de guarda e depois Isa pode me substituir, tudo bem?

- Pode deixar, comandante – concordou Isa. – Acho uma boa ideia. Assim podemos cuidar do Monde e esperar ele se recuperar.

Adriel fuçou a bolsa que pertencia a Gerolt e encontrou materiais para fazerem uma fogueira. Ele e Celine aprontaram tudo, além das tendas, enquanto Dario e Isa faziam curativos em Mondegärd. O velho mago apresentava vários cortes pelo corpo e as vestes estavam rasgadas.

- E você, cabeludo? – Isa chamou Adriel. – Vai precisar de curativos?

- Eu sou imortal – respondeu.

- Tsc... Tomara que infeccione e morra vagarosamente.

Isa e Celine se despediram e foram para uma das cabanas. Mondegärd foi posicionado dentro de outra. A terceira seria utilizada por Dario e Adriel.

A noite passou tranquila a não ser pelo alto som do vento debatendo-se agressivamente no vale. Era incrível como o frio congelante da fenda não penetrava naquele corredor. É como se uma parede invisível impedisse a entrada do frio.

Dario pensou uma vez mais no companheiro morto. Gerolt era um excelente oficial. Experiente em combate e outras áreas, sempre fora de grande ajuda em todas as missões das quais participaram juntos pelos últimos três anos. Inclusive, todos os outros também eram amigos e guerreiros valorosos.

- Não vou deixar nenhum deles morrer. É uma promessa, ouviram?

Suas palavras foram como um desafio contra o mal que pairava naquele lugar. Determinado, revigorou o espírito e decidiu poupar Isa: faria a vigia sozinho naquela noite.

- Já dormi demais hoje... – repreendeu-se.

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Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora