Capítulo 46 - O tão esperado perdão

557 73 9
                                    

Isa correu até a entrada da pequena sala de pedra e sentiu a mesma proteção de antes. Era como se uma tela de vidro tivesse sido colocada entre o fim do corredor e sala onde ficava o espelho. Por mais que empurrasse ou batesse, nada acontecia. “Que negócio duro...”, reclamava a mulher, impedida de aproximar-se do melhor amigo.

- Igualzinho o que aconteceu com o comandante – falou baixinho.

Todos olharam atentamente para Adriel.

- Não estou gostando nada disso... – desabafou Mondegärd. Batia o pé no chão, impaciente.

- Tenha calma – pediu Dario, tentando acalmar a todos. Aos poucos, sua energia parecia voltar ao corpo. – O Adriel sentiu que devia ir. Se ele realmente quer fazer isso, não posso me opor.

- Com o perdão da palavra capitão, o senhor é muito fraco na condução deste grupo – sentenciou o mago. – Entendo seu ideal de um contingente livre, mas a figura do comandante existe justamente para pensar e decidir pelos soldados.

- O que está dizendo, Mondegärd? – revoltou-se Celine. – Está falando que o Dario é um mal comandante?

A garota estava ajoelhada ao lado de Dario, enquanto este descansava encostado na parede de pedra.

- Tenha calma, Celine – falou o capitão. – Não é isso que o Mondegärd está falando. Ele só quer dizer que eu deveria tomar mais decisões. É a forma dele pensar, só isso.

- Exatamente – sorriu o velho. – Fico feliz que tenha entendido minhas palavras, senhor Dario.

- Não se preocupe. E você está certo. Durante toda minha formação na academia, inclusive passei muito tempo com o ex-Mestre Comandante, Amarato Orënn, foi me dito que deveria ser incisivo em minhas ordens. No entanto, Mondegärd, sou incisivo justamente em não ser incisivo, entende?

O mago sorriu afinando os olhos.

- Não posso discordar deste argumento... Mesmo sendo contrário à sua postura. De uma forma ou de outra, você é responsável pelo que acontecer com Adriel naquela sala.

- Você está certo...

“Tomara que nada aconteça com o Adriel...”, torcia Celine.

Agora era preciso esperar. A conversa com Mondegärd deixara Dario apreensivo, pois lembrara a morte de Gerolt. Entretanto, Isa era a mais perturbada; não aguentava a situação. A oficial odiava ter que ficar esperando sem poder fazer nada.

Ainda maldizia os deuses – uma heresia para o povo do reino de Mylstain – quando, surpresa, quase foi ao chão, pois a proteção invisível desfizera-se em um piscar de olhos. Equilibrou-se com as pernas dobradas para não se espatifar nas pedras sob os pés. Rapidamente inclinou-se e olhou para Adriel. Todos fizeram o mesmo.

- Pronto. Aqui está o espelho – falou o guerreiro mostrando o objeto adornado por enfeites de ouro nas bordas.

- Como assim? Você está bem? – duvidou Isa, incrédula.

- Estou bem. Só com um pouco de dor de cabeça.

Celine, Dario e Mondegärd olharam-se em surpresa. A jovem perguntou:

- O que aconteceu, Adriel? Consegue se lembrar?

- Consigo. Vamos sair daqui e depois conto para vocês.

- Está certo. Vamos voltar para o salão e conversamos melhor – falou Dario. Isa e Celine o ajudaram a se levantar e serviram de apoio até o salão de pedra. Colocaram o capitão sentado na larga escada no centro e fizeram uma roda.

- E então? Fala logo, Adriel! – exigiu Isa.

O guerreiro respirou fundo e contou sua história, desde o momento que tocara o espelho:

- Quando toquei o espelho, saí desta sala e fui levado para minha casa. Na verdade, para a casa onde morava quando era criança. Estava no exato local onde me escondi quando minha irmã e meu amigo Grey foram assassinados – eu já lhes contei sobre isso.

“Quando percebi onde estava, uma grande ansiedade abateu-se sobre mim. Nunca imaginei ser possível retornar para aquele lugar. Comecei a suar frio e memórias muito antigas, esquecidas, retornaram.

“Nessa hora, um velho apareceu e me pediu para que saísse daquele lugar. Eu deixei meu esconderijo e andei até ele. Estava sentado em uma cadeira de balanço e um outro homem estava ao seu lado. Perguntei quem era, mas ele não me respondeu. Na verdade, o velho não respondeu nenhuma das minhas perguntas. Também não dizia nada, apenas fazia questões e questões. Sabia tudo sobre mim, sobre meus medos e minhas fraquezas, coisas que apenas eu poderia saber. Era inteligente como nunca vi alguém e, apenas perguntando, me fez seguir sua linha de raciocínio.

“Ao final, quando minhas emoções foram levadas ao limite e estava prestes a desistir do espelho apenas para poder sair de lá e esquecer de tudo, a imagem de minha irmã me veio à mente. Só que ela não estava só na minha cabeça, ela apareceu ao meu lado e sorria para mim, como se me dissesse ‘Está tudo bem. Eu te perdoo’. E foi então que eu mandei o velho à merda e peguei o espelho.

“Até agora eu não sei o que foi aquilo... Mas pouco me importa... Acabou e o espelho está aqui. Pronto!”

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora