Capítulo 43 - De volta ao castelo

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O príncipe adentrou a pequena sala de pedra e, para sua surpresa, nada aconteceu. Devagar e cauteloso, foi até o final e parou diante do espelho, escorado no rústico suporte. “Até aqui, nenhuma armadilha”, estranhou. Com cuidado, esticou a mão e tocou o espelho para recolhê-lo e em um piscar de olhos todo o espaço se transformou: o chão de pedra e as paredes cheias de limbo desapareceram, assim como o suporte e o pequeno espelho. Dario estava em seu quarto, no castelo de Mylstain; estava em pé, olhando para sua cama.

- Um príncipe, muito bem... – ponderou uma voz grave e idosa.

- Este será muito simples, creio eu.

Dario olhou para os lados e encontrou um velho sentado em uma cadeira de balanço de madeira. O velho era careca e estava bem curvado, apoiando os cotovelos na coxa enquanto balançava vagarosamente para frente e para trás, em ritmo ordenado. Seus olhos, penetrantes, pareciam atravessar os olhos do capitão, como se estes fossem uma janela, e chegar no âmago da alma.

O segundo a falar estava em pé, ao lado do velho, encostado na parede. Era mais jovem, mas não tanto – deveria ter a idade de Mondegärd.

- Quem são vocês? – quis saber Dario. Nada daquilo fazia sentido para ele.

- E isso importa, jovem? – respondeu o velho sentado – O mais importante é: quem é você?

- Meu nome é Dario e sou príncipe de Mylstain e Mestre Comandante da Armada Oficial. Vim até aqui para...

- Ei ei... Tenha calma, jovem. Por que a pressa?

- Não estou entendendo. Onde estou? – Dario parecia confuso.

- Comecemos do começo, sim? Não me disse ainda quem és.

- Já disse, sou príncipe do rein...

- Não, não. Você não é um príncipe, jovem. Príncipe é o filho do rei. Comandante é quem dá as cartas no tabuleiro da guerra. Nem um e nem outro você é.

As palavras do velho faziam sentido para Dario, mas aquele não era o momento para discutir retóricas. Coisas muito mais urgentes estavam acontecendo, por isso quis encerrar o diálogo o quanto antes.

- Entendo o que diz. Mas não tenho tempo para argumentar com o senhor. Quero saber por que estou no meu quarto e não mais no templo da Cordilheira. Isso é magia de ilusão?

- Qual o motivo de tanta pressa?

- Meus amigos me esperam e estou no meio de uma missão.

- Ele está em uma missão, senhor – disse o homem em pé ao lado do velho.

- Isso mesmo – concordou Dario. – O senhor parece ser um mago poderoso. Dificilmente sou pego em ilusões.

- Uma missão? – perguntou o velho.

- Isso. Vim recuperar o artefato. Você é um dos protetores da relíquia?

- Foi para isso que veio? Por conta da relíquia?

- Isso.

- Qual é seu interesse nela?

- Na verdade, não sou eu interessado e, sim, meu pai, o rei.

- Então não veio por ela, mas por seu pai?

- Por um lado, sim.

- E pelos outros lados?

- Pelos outros lados? – Dario parecia surpreso com a pergunta e não soube direito o que responder. – Não sei... Por ser o comandante é minha responsabilidade liderar missões como esta.

- Então, em verdade, está aqui por ser o príncipe e ser o comandante e não por sua própria vontade. Estou certo?

- Sim... – O príncipe começou a ficar desconfortável com a conversa.

- E qual seria sua vontade?

- A minha? Bem, acho que gostaria de estar aqui, neste quarto, nesta cama; lendo um livro, talvez.

- Por que não está aqui, então?

- Já lhe expliquei. Tive que deixar o castelo por conta da minha missão.

- Sua missão? Tens certeza que esta missão é tua? Missão que realiza contra tua própria vontade? Pois então é um preso, cativo ou um fraco sem vontade própria?

- Não sou um preso, tampouco um fraco. Apenas cumpro minha responsabilidade.

- Sua responsabilidade como príncipe e como comandante?

- Isso mesmo. Todos nós temos responsabilidades nesta vida – concluiu Dario. – E agora chega. Livre-me desta ilusão agora ou serei obrigado a esquecer a gentileza que aprendi!

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora