Capítulo 26 (Parte 2) - Lâmina da Floresta

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Uma luz mais resplandecente que as estrelas brilhantes no céu chamou a atenção de Dario. Vinha da Floresta de Khunt, há cerca de um quilômetro de onde haviam montado acampamento.

A luz verde clara instigou a curiosidade do príncipe, que se afastou das tendas e tentou observá-la mais de perto. Era impossível distinguir, no entanto, de onde vinha o brilho. “Com certeza está entre as árvores”, concluiu o capitão.

Dario olhou para onde os amigos dormiam e receou deixá-los sem qualquer vigia. Mas a luz não o deixava descansar. Daquele ponto verde emanava algum tipo de poder que lhe atraia irresistivelmente. De forma que ignorou seu receio e partiu sozinho pela madrugada em direção à Floresta.

Quando chegou às primeiras arvores, a curiosidade logo foi abafada pelo medo. Entre os troncos podia ver os espíritos brilhando e escondidos, receosos de sua presença.

- Exatamente! – vociferou o comandante, retomando a calma. – Eu sei muito bem quem são! De mim, não tirarão amargura, medo ou tristeza!

E assim penetrou fundo na floresta, ignorando seu próprio bom senso – este pedia-lhe: “Não há nada aqui para você. Vá-se logo!”.

Quando tornara-se impossível ver a saída ou o céu ou até mesmo as árvores, pois a escuridão tomara conta do entorno, Dario parou. A luz verde era a única coisa visível, entretanto, ela não iluminava nada mais, como se fosse um brilho escuro.

- Não irei além – anunciou, resoluto. – Fale o que tiver que falar ou voltarei por onde vim e não retornarei.

A luz então apagou-se e o príncipe ficou só no completo breu. O silêncio era excruciante. Parecia estar dentro de si mesmo. Não podia ver, ouvir ou sentir coisa alguma. Até mesmo o chão parecia ter-se esvaído de seus pés.

Tentava convencer-se ter sido boa ideia adentrar a floresta sozinho em meio à madrugada, quando o brilho verde retornou e expandiu-se em pálida e extensa luz verde a refletir-se no gramado e nas folhas das grandes árvores. O ambiente todo estava verde-mato e revelava uma densa floresta, cercada por todos os lados.

- Chamei-lhe aqui, príncipe Dario, pois é de nosso interesse.

A voz feminina era bela e melodiosa. Carregava a força de uma guerreira moldada na bela forma de uma musa.

- Quem é você?! – respondeu Dario, suspeitando da cena.

- Será essa a pergunta que deveria fazer? – tornou a voz feminina.

- Não discutirei assunto algum até que apareça!

- Pois bem... – concluiu a voz, quando uma forte ventania tomou o entorno e obrigou Dario a pregar os pés no chão para não ser derrubado por tamanha rajada. Os ventos concentraram-se logo à frente do príncipe em formato de um cilindro girando em torno de si próprio. Grama e terra começaram a sair do chão e fundir-se ao vento, levantando-se até a copa das árvores.

- Aqui estou – falou uma mulher nua de tez verde e cabelos longos e verde-escuros. Folhas saíam em meio aos seus longos fios e raízes pareciam brotar de seus pés e de suas mãos, subindo por suas pernas e braços. Tinha saído de dentro do tufão.

- Meu nome é Enya e sou uma descendente dos saymain.

- Saymain? – duvidou Dario. – Estes não são os filhos do Vento? Criaturas que existiram no mundo antes mesmo dele ser o que é hoje?

- Exatamente – concordou a mulher, sem afetação. – Mas ouça bem: contei-lhe ser uma de suas descendentes. Não vivo em Meerã mais que as raças do Sul.

- Entendo... E o que quer de mim? Por que me chamou?

- Convoquei-lhe para falarmos sobre algo de nosso mútuo interesse – a mulher iniciou. Depois, parou por um tempo e prosseguiu: - Eu sei para onde você e os outros estão indo. E neste local existe algo tão antigo e ancestral, que não me levaria a sério se lhe contasse. De qualquer forma, quero ajudar-lhe a destruí-lo.

Dario incomodou-se com as palavras da criatura:

- Não estou indo lá para destruir o item! Vou recuperá-lo para meu reino.

- Você precisará de algo mais poderoso que sua lâmina de aço para conseguir atingí-lo – continuou a mulher, ignorando as palavras do príncipe. – Eu tenho algo deixado na floresta por um herói de outra era. Aqui ele morreu, e aqui ele deixou seu bem mais precioso...

Estendendo as mãos, a mulher invocou uma nova rajada de vento, que saiu por baixo do solo e fez flutuar até suas mãos uma lâmina.

- Esta é a Lâmina da Floresta, como eu a chamei. E ela será sua.

O príncipe aproximou-se da mulher e pegou a lâmina com as mãos.

- Agradeço pelo presente, mas, como lhe disse, não pretendo destruir a relíquia. Minha missão é conquista-la.

- Sua missão irá falhar, príncipe Dario. Isso já foi dito a você antes mesmo de sua jornada começar...

- Então foi você!? Você falou comigo antes de deixarmos a capital!

A mulher, porém, continuou sua frase, ignorando o capitão novamente.

- E chegará o momento em que você irá destruir o globo. E quando o fizer, deverá usar esta lâmina. Agora vá.

E a mulher transformou-se em folhas e grama e caiu sobre a terra. Dario contemplou a cena e depois fechou os olhos.

- Enya! Eu não vou falhar! – gritou para as árvores, ofegante. – Vou mostrar que está errada! Eu vencerei a Cordilheira e tanto eu como meus amigos voltaremos para nosso reino! E depois passarei aqui e devolverei sua espada, pois ela terá sido inútil! Eu juro!

Depois ficou em silêncio, a cabeça baixa. Quando levantou os olhos, viu a luz verde novamente, mas ela estava do lado oposto. Seguindo-a, deixou a Floresta de Khunt e retornou ao acampamento. 

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora