Capítulo 22 - Vergonha, medo e desespero

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Era uma declaração de amor. Mesmo em todos seus anos de treinamento, Dario nunca havia se preparado para um “ataque” deste tipo. Não que ele não gostasse dela, tinha um carinho especial por Celine, mas nunca tinha pensado nela dessa forma.

Como Dario não falava nada, Celine ficou apreensiva. O silêncio do guerreiro preocupou a jovem, que continuava com a cabeça baixa e as mãos cruzadas atrás das costas, chutando o ar.

- Não precisa me responder sobre isso agora... – tentou puxar assunto novamente a garota. – Só, por favor, não pare de falar comigo...

O maior medo de Celine é que sua declaração pudesse mudar a relação que tinham. Já fazia um tempo que gostava do capitão, mas sempre tivera medo de revelar seus sentimentos e ver o amigo afastar-se dela.

Por outro lado, ficar calado não era a intenção de Dario, mas as palavras simplesmente não deixavam sua boca. A situação havia lhe derrotado como nunca havia acontecido antes. Nunca se preparara para um “inimigo” como esse.

Celine, impaciente, levantou os olhos e viu o príncipe a encarando, paralisado, sem reação. A imagem não agradou Celine: ver Dario olhando-a sem dizer nada era desagradável. Para a garota, jovem e inexperiente, parecia que ele não se importara com ela o suficiente para dar-lhe uma resposta, mesmo que negativa. Talvez ele nunca mais falasse com ela a partir dali.

A ansiedade da mente misturou-se à angústia do coração e ao constrangimento do momento. A mistura de sentimentos fez Celine irritar-se profundamente com tudo aquilo. Sentiu as mãos formigarem e um calor subir do peito até a face.

“Como ele pode fazer isso comigo? Não mereço nem uma resposta? O que ele está pensando?!”, divagava a jovem. Celine não tinha como saber que Dario estava ainda mais nervoso do que ela.

Quando estava prestes a voltar emburrada para o acampamento e abandonar a missão para sempre tamanha sua frustração, Celine notou algo estranho acontecendo em uma das árvores. Viu sair de um caule uma figura embaçada como neblina. Entretanto, com alguma dificuldade, foi possível distinguir a forma de uma mulher de cabelos longos.

Não bastasse todos os sentimentos anteriores, o medo tomou conta da jovem e intensificou-se quando outras imagens como a da mulher deixaram outras árvores e começaram a popular a floresta.

A garota começou a andar para trás, sem falar nada, apenas emitindo sons estranhos e apontando com a mão direita para várias direções. O príncipe notou a atitude incomum da amiga, mas não percebeu o real motivo daquilo. Para ele, a reação da companheira era por conta da declaração que ele ainda não tinha respondido.

- Monstros...

O xingamento de Celine tirou Dario da inércia. Parecia ter sido endereçado a ele.

- Não! Tenha calma, Celine! – respondeu o príncipe, afobado. – Não é isso! Eu apenas...

- Monstros... ali e ali! São muitos! – gritou a garota, assustada, interrompendo o capitão.

- O quê? – E estranhando a reação da amiga, virou-se e conseguiu ver: dezenas de mulheres e homens formados de fumaça pouco espessa, como neblina. – Deuses! Cuidado, Celine! Vamos nos afastar!

Quando a garota virou-se para correr, aproximou-se de outro daqueles seres estranhos. E atrás deste haviam outras dezenas. Estavam cercados por todos os lados.

- E agora, o que faremos?! – desesperou-se a moça.

- Não sei! Estou pensando, mas não temos como sair daqui! – respondeu Dario. Agora acontecia o mesmo da luta contra a salvynna. Seu cérebro não raciocinava como de costume, estava quase entrando em completo desespero. O pensamento embaralhado inibia sua tomada de decisões. O comandante não sabia explicar o porquê, mas era tomado de grande ansiedade.

Mais seres fumacentos saíram de outras árvores e uma multidão de criaturas tomara conta da floresta e se aproximava vagarosamente, flutuando, cercando os dois por todos os lados. Os guerreiros encostaram as costas de um nas das do outro e tentaram se afastar o máximo possível da roda que as criaturas formavam em volta deles, porém, por mais que se espremessem, não tinham mais como evitar aquelas entidades.

Seriam pegos nos próximos segundos.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora