Capítulo 56 - O que há além da vida

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Celine estava com o espelho e olhou para a ponte por meio dele. Sem a armadura, era possível ver o espírito de Holmër como devia ser em vida: um homem alto e robusto. Ele olhou para as mãos e depois para os braços, em seguida para o corpo, como se tivesse encontrado algo há muito perdido.

- Eu me lembro... — todos o ouviram falar.

- Holmër, meu amor! — levantou-se Aelinne, sorrindo em lágrimas.

- Então foi tudo culpa sua, Aelinne. Você me amaldiçoou!

- Não, Holmër! Eu não sabia! O mago disse que poderíamos ficar juntos para sempre!

- Sua tola! — gritou o ex-gladiador. — Quanto tempo ficamos aqui vivendo como moribundos!? E é tudo culpa sua!

Aelinne desatou a chorar copiosamente, soluçando e sem conseguir emitir palavra alguma. Celine aproximou-se de Adriel sobre a ponte e, olhando pelo espelho, ficou frente à frente com Holmër.

- Ela fez isso por amor. Ela não sabia que isso aconteceria. Aelinne realmente gosta de você, Holmër. Por favor, você tem que entender e perdoar!

O Espada de Sangue entrou em profundo silêncio. Aelinne o olhava desesperada procurando uma fresta por onde pudesse voltar ao coração do amado.

- Isso não é amor. Amor é se importar com o outro! E não forçá-lo a ficar com você! Eu amava você Aelinne, e lutei para podermos viver juntos. E veja o que fez?! Me aprisionou ao seu lado! Você pensou em mim quando fez isso?!

- Me desculpe, Holmër! Agora eu vejo! Eu errei!

Para surpresa geral, Holmër ajoelhou-se e tomou as mãos da amargurada mulher de longos cabelos loiros.

- Para nossa sorte, querida Aelinne, meu amor por você é mais forte do que esta traição. Nós teremos outra chance para nos entendermos. Teremos o tempo que precisarmos, longe deste mundo.

Aelinne chorou, mas desta vez sorrindo, e apertou as mãos do noivo.

- Obrigado, Holmër... Agora vamos...

- Vamos...

E desapareceram para sempre do mundo dos vivos. Para onde? Nem mesmo Mondegärd saberia responder.

Longe do templo de pedra, Holmër segurava a mão de Aelinne quando falou, sorrindo:

- Eu contei. Contra 73 adversários eu batalhei e todos eu matei, alguns com facilidade, outros nem tanto...

- Eu sei, meu amor. Estive lá todas as vezes. E para cada uma de suas lutas derramei lágrimas de dor e tristeza.

- Riquezas incontáveis acumulei, força e velocidade despertei, técnicas de combate aprendi e fama e glória conquistei. No entanto, acabei como qualquer outro homem...

- Seus feitos serão lembrados para sempre, Holmër querido.

- É para isso que vivemos? Para deixarmos nossa marca no mundo?

- É nisso que acredito.

- Quais foram as minhas? Ser lembrado pelas mortes que provoquei?

- Será lembrado pela força e pela habilidade incomparáveis.

Holmër ficou em silêncio. As doces palavras de Aelinne pareciam não ter acalmado sua mente amargurada. Depois de um tempo, retomou:

- Custo a acreditar que tudo acabe assim...

- O que podemos fazer? — questionou a noiva.

- Não sei... Mas eu quero prosseguir. Não quero desistir do que conquistei e quero poder fazer mais do que fiz.

- Você acha que é possível continuarmos vivendo ou, quem sabe, vivermos novamente?

- Sim, é possível, tem que ser... Se me for permitido viver novamente, Aelinne, quero ser um pescador, que irá viver em uma costa afastada dos reinos, pescando dia e noite, sem nunca ferir sem necessidade outro ser humano e até mesmo animal.

- Muito bem! Então serei uma linda garota sobre a colina, a ver seu amado partir todos os dias em seu barco e retornar no fim da tarde.

- A moça nunca se aproximará de seu amor?

- Ela estará sempre ao seu lado, mas nunca poderá tê-lo como marido...

Sem entender estas palavras, Holmër dormiu e em seguida Aelinne também fechou os olhos.

Muito longe da Cordilheira, naquela mesma tarde, no extremo Leste do mundo, onde alguns humanos criaram pequenas vilas, uma mulher grita.

- Está vindo! — E depois de um tempo, uma senhora levanta um bebê. — Veja... É um menino.

- Parabéns, meu amor! — fala um homem em pé ao lado da cama. — Será um menino forte, assim como eu! — Então entrega a criança para a mulher deitada, cansada mas feliz.

A esposa olha para o bebê e fica em silêncio por um tempo, a face grave e contemplativa.

- O que foi, amor? — pergunta o homem.

- Sei que prometi nomeá-lo Erias, como seu avô, mas ao vê-lo... Sinto que este não é o melhor nome... Vou chama-lo Hagor, querido...

- Mas Hagor não é um nome de pescador...

- Sinto muito, querido... Mas sinto que Hagor não será um pescador por muito... Ai!

- O que foi?!

- Estou sentindo...

Neste momento, a parteira, até agora de costas lavando as mãos, volta para perto do casal e ajoelha-se em frente à mulher.

- Espere! Tem outro bebê... — exclama assustada. — Vejam... É uma menina!


Na Cordilheira, Dario e os outros contemplavam a porta atrás da ponte. O que os esperavam naquela sala? Ainda não sabiam, mas estavam mais perto do que imaginavam de encontrar o que vieram buscar. Não perca os momentos finais desta incrível missão no próximo capítulo!

Estamos muito perto do fim do livro. Não deixe de participar do nosso bate-papo sobre o futuro da série na terça (28.04). Comente seu tel com DDD e adicionarei você ao nosso grupo do WhatsApp.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora