Capítulo 25 - O globo da morte

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Estávamos eu e meu pai na sala de mapas. Decidíamos onde seria a próxima investida da Armada Oficial em busca de riquezas. Enquanto conversávamos, um dos guardas do palácio apresentou-se e anunciou:

- Rei Kyrtoldrell, o mago Meselson está esperando pelo senhor na sala de reuniões.

Ainda não tínhamos decidido a próxima missão, portanto, a visita do mago veio em boa hora. Fazia tempo que não o via, por isso fiquei muito interessado. Até porque as visitas dele nunca eram ordinárias.

Quando chegamos à sala, Meselson estava em pé olhando pela grande janela. Suas vestes compridas e tradicionais se moviam como cortinas – seu traje era muito parecido com o do Mondegärd. Assim que nos viu, alisou a careca e pediu para nos sentarmos, pois tinha um assunto muito sério.

- Rei, não haveria de vir aqui não fosse este um motivo de interesse meu e do senhor.

- Pois bem, fale-me.

- Como sabe, sou um mestre sem aprendizes. Meu último pupilo foi o príncipe Dario. Entretanto, tenho olhos e ouvidos atentos em vários reinos, aqui no Leste e também em outras regiões. Muitos me devem favores, e não entre os mais simplórios dos homens e das mulheres.

- Sua influência não é desconhecida aqui, mago – apressou-o meu pai. Meselson era astuto e poderoso, mas também demasiadamente prolixo. Já meu pai sempre fora um guerreiro pragmático e de poucas palavras.

- Um destes meus olhos e ouvidos soube de um aventureiro. Um aventureiro como poucos. Desconhecido aqui em Mylstain, entretanto, de grande renome em Dehör. Seu nome era Meriedro e reuniu fama como um grande Recuperador.

Não conhecia esse termo, então perguntei:

- E o que é um Recuperador?

O mago não tardou em explicar.

- Como o próprio nome diz, são aventureiros especializados em recuperar itens perdidos. Sendo ele do contratante ou não...

- Então é um meio-ladrão.

O mago sorriu afinando os olhos.

- Podemos dizer isso. Enfim, Meriedro não é um aventureiro que aceite qualquer recompensa pelos seus serviços. Meu interesse levou-me a descobrir que o tal aventureiro estava sendo bancado por um homem de muitas propriedades: por exemplo um rei ou um senhor de Naglorändill. Entretanto, ouso arriscar tratar-se de um rei.

A paciência de meu pai estava no limite.

- Pois bem, aonde quer chegar com tantos detalhes?

- Estou quase no fim. Até agora, nenhuma novidade. Mas as obviedades terminam aqui, pois Meriedro não retornou de sua missão até hoje. Portanto, o que lhe proponho, Rei Kyrtoldrell, é que em posse de tal informação, o senhor tome medidas e recupere seja lá o que o maior Recuperador não conseguiu recuperar.

Meu pai inclinou a cabeça para baixo e fitou a grande mesa de madeira. Depois de pensar por um tempo, respondeu:

- Por qual motivo enviaria soldados graduados para morrerem na Cordilheira sem nem ao menos saber qual seria a recompensa?

O mago sorriu – parecia estar preparado para a resposta do rei.

- Não quero lhe aborrecer com informações não confirmadas, senhor. Entretanto, se faz questão de as conhecer, saiba que a relíquia da qual estamos falando tem um poder inimaginável. Meu informante seguiu Meriedro por dias e o ouviu falando tratar-se de um globo de poderes infinitos. Um artefato que surge em terras humanas uma vez a cada milênio.

Foi o bastante. Não preciso dizer que saí da sala com o objetivo de selecionar os melhores guerreiros de nossa Armada Oficial e partir o quanto antes para a empreitada. Demorei apenas um dia para selecioná-los, em vista da qualidade de suas habilidades e da nossa afinidade.

 - Esta não é uma missão para um exército; e, sim, para uma tropa de elite – recomendou meu pai.

Por conta destes fatos é que posso dizer: não creio que um Ishtar esteja nos aguardando, mas com certeza é algo capaz de se proteger de Meriedro, um dos maiores aventureiros entre os homens de nosso tempo. É também perigosa o suficiente para fazer o rei enviar seu primogênito e seus melhores guerreiros.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora