Capítulo 51 - A única forma

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A comoção era geral. Todos pareciam não acreditar no que havia ocorrido com Isa. Dario seguia paralisado olhando para a ponte, Adriel dormia após ser atingido por magia de Mondegärd, o mago mirava a armadura, estudando-a, sem chegar a conclusão alguma e Celine estava ajoelhada ao lado do corpo da amiga; chorara tanto que a garganta e os olhos ardiam.

“O que aconteceu na ponte? Por que ela não se moveu? Foi paralisada?”, repetia Dario em sua mente, longe de vislumbrar qualquer teoria para o ocorrido. Não era somente o capitão; ninguém ali pensava com clareza – o corpo de Isa ao chão não permitia pensamentos focados em qualquer intento.

Nenhum deles percebera o tempo transcorrer, até que o gemido de Adriel os despertou.

- Hmmm... O que houve? – falou, sentando-se no chão. E então a ficha caiu. A face de Adriel fechou em cavernosa expressão e o guerreiro foi ao chão novamente cobrindo a face com o braço.

Dario não sabia como fazer, mas tinha que se desculpar pelo acontecido.

“Foi minha culpa... Por que deixei ela ir?”.

Quando este pensamento surgiu em sua mente, seu semblante transformou-se. Lembrara de Gerolt e da conversa com Mondegärd – “seja como for, você é responsável” – e uma amargura tomou conta de seu coração. Então perdeu a vontade de prosseguir e sentou.

O corpo estava fraco e não tinha coragem de levantar o rosto e encarar a verdade. “Nunca mais conseguirei olhar para Adriel, Celine e Mondegärd novamente”, sentenciara, olhos fixos no chão.

Todos seguiam em silêncio. Adriel parecia ter desistido de investir contra a armadura sozinho. Depois de minutos, quebrou o silêncio, falando mesmo deitado:

- E agora? O que faremos? – Sua voz era uma mistura de ódio com indiferença.

- Temos que... – começou a falar Mondegärd.

- Não estou falando com você – cortou Adriel, ríspido. – Estou falando com “nosso capitão”.

Seu tom era de deboche e desrespeito. Celine, indiferente aos acontecimentos até agora, virou-se para trás e buscou com o olhar a resposta de Dario. Mondegärd fez o mesmo. O capitão, entretanto, nada disse; permanecia em silêncio, cabisbaixo.

- E agora, o que faremos?! – gritou Adriel. – Responda, comandante!

Celine e Mondegärd não sabiam como reagir. A morte de Isa parecia ter abalado o grupo de forma irrecuperável. Se um dos dois falasse qualquer coisa, poderia piorar de forma irremediável o que já parecia terrível. Para alívio dos dois, Dario finalmente respondeu, porém, suas palavras foram tímidas e quase inaudíveis.

- Eu não sei...

- O que?! – gritou Adriel, levantando-se raivoso.

- Eu não sei.

- Você não sabe?! – falou o oficial, indo até o príncipe e o pegando com força pelo colarinho. – Como não sabe?! Você é o capitão dessa droga! Diga alguma coisa!

E levantou Dario pelo pescoço.

- Como posso saber o que fazer? – respondeu o comandante. – Por minha causa Gerolt e Isa morreram. Como posso olhar para vocês novamente? Nem perdão posso pedir.

A figura patética do capitão enojou Adriel, que o atirou ao chão novamente. Celine voltara a chorar. Queria abraçar Dario e o ajudar de alguma forma, mas tinha medo de fazer qualquer coisa. Nunca imaginara ver o príncipe nesse estado.

Adriel também parecia outra pessoa. Andava impaciente de um lado para o outro, até que parou repentinamente e falou com a voz grave e carregada:

- Eu sei como você pode se desculpar pela morte deles.

- Como eu poderia fazer isso?

- Deixe-me mata-lo – falou Adriel com a voz carregada de rancor. – Assim eu vingarei Isa, culpando aquele que realmente é o responsável por sua morte.

- Está louco, Adriel?! – rugiu Mondegärd. – Entendo sua tristeza, mas nunca vou deixar você...

- Espere! Fique quieto, Mondegärd! – interrompeu Dario. – Se você ainda me respeita como capitão, me obedeça. Deixe Adriel fazer o que acha ser o certo, por favor.

- Mas, senhor... – desesperou-se o mago.

- Por favor! Me obedeça! – insistiu o príncipe, gritando.

Adriel pegou sua espada no chão e a arrastou até Dario. Depois a levantou e apoiou no ombro.

Celine estava ainda mais desesperada que o velho mago. Seu corpo tremia descontrolado, suas pernas não tinham força alguma, sua voz desaparecera.

- Está fazendo o certo, Dario. E eu o respeito por isso. Morra com alguma dignidade.

Adriel levantou a espada e o capitão respirou fundo e fechou os olhos. A lâmina desceu rápida e Mondegärd e Celine não suportaram ver. O som do aço batendo no chão de pedra foi o mais angustiante que eles ouviram em suas vidas.

Quando Mondegärd abriu os olhos, viu Adriel ajoelhado à frente de Dario.

- Era uma vez um assassino que desejava encontrar a morte. Então, um homem chegou até ele e disse: “Eles estão mortos. É impossível salvá-los agora, mas existem muitos que ainda podem ser salvos. Você é um guerreiro como poucos. Volte e lute. Honre o nome dos que morreram; honre seu nome e talvez assim, um dia, você possa perdoar a si mesmo”. E dizendo isso, o homem estendeu a mão ao assassino. Mesmo merecendo a morte, o assassino recebeu compaixão. Chegou a vez do assassino salvar o homem.

Dario pressionou os olhos, abraçou Adriel e, como uma criança, chorou e pediu perdão.

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Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora