Capítulo 31 - Pra não dizer que não falei das pedras

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Demorou pouco para o sol cruzar o céu e as sombras das montanhas chegarem até eles como lanças negras.

- Que estranho... Estou sentindo tanto frio... – reclamou Celine abraçando o próprio corpo enquanto andava. Do grupo, era a menos agasalhada. A jovem usava roupas leves que não restringiam seus movimentos. Sua melhor qualidade, além da pontaria, era a velocidade, por isso, assim como Dario, preferia armaduras que permitissem uma suave locomoção.

- Eu também estou sentindo o frio – respondeu Isa, que usava peças protetivas bem mais pesadas, com peitoral e grandes botas de aço. – Parece que começou quando o sol se escondeu atrás da Cordilheira

- Então, aparentemente a magia da Cordilheira já começou. Bem antes do esperado...

O comentário de Adriel estava cheio de amargura.

Quanto mais aproximavam-se da base das montanhas, mais o frio se intensificava. Demorou pouco para todos acreditarem nas palavras de Adriel: com certeza aquele frio não era comum.

O incômodo durou pouco, no entanto. Quando menos esperavam, haviam chegado. Finalmente lá estavam. De perto, as formações rochosas apresentavam-se gigantescas. O topo era inalcançável até mesmo ao olhar. Seus picos atravessavam as nuvens e era impossível precisar sua altura. Sem dúvida, era maior que qualquer castelo já construído pelos humanos e até mesmo pelas raças milenares que habitavam o Sul do mundo.

Enquanto olhavam abismados – até mesmo o comandante estava perdido em divagações – Gerolt antecipou-se e foi vistoriar a área.

- Ei! Venham para cá – chamou após um tempo.

Na frente da companhia era possível ver um vale escuro entre duas montanhas. Dario reduziu a velocidade e alertou:

- Esta deve ser nossa passagem. Agora estamos perto, fiquem atentos. – Pouco adiantou o aviso, pois suas palavras perderam-se na imensidão de pedra, ninguém realmente estava prestando atenção.

Caminharam mais um pouco e finalmente haviam chegado ao Cemitério de Herois, como era conhecido aquele terrível e misterioso lugar.

- Vejam estas pedras... – chamou-os Gerolt. – Como ferreiro, tenho um certo apreço por minérios e posso lhes garantir: estas pedras são diferentes de todas as outras que já vi. São mais claras e sua consistência é diferente...

- Legal, Gerolt. Ninguém, além de você, está interessado nisso...

- Não seja insensível, Adriel – reclamou Isa, sorrindo. – Não vê que isso é importantíssimo para o sucesso da missão?! Veja, Gerolt! Tem outra pedra aqui! E outra aqui! Deuses!

Gerolt não demonstrou afetação após ser alvo de claro escárnio dos companheiros. Seguiu adiante com os outros, tocando a base da montanha com as mãos, parecendo estudar cada milímetro daquela região. Todos andavam com cautela, observando todos os detalhes de onde se encontravam.

“Estas pedras... Tenho a impressão que é impossível quebra-las”, preocupava-se o guerreiro, passando a mão pela barba negra.

A fenda que seguiam tinha apenas alguns metros de largura e muitas pedras grandes e pequenas encontravam-se no solo, dificultando a caminhada. As encostas das montanhas formavam caminhos em ziguezague, de tal forma que era impossível ver o que existia muito além. O silêncio era incomum, como se a nenhum som fosse permitida a entrada.

- Cuidado! – gritou Dario repentinamente. Enquanto tentava cruzar as nuvens e alcançar o topo com os olhos, viu grandes pedaços de rocha desmoronarem do céu sem fazer qualquer ruído.

Aproveitando-se de grande agilidade, Celine empurrou com força Isa e conseguiu evitar o pior. Por sorte, seu empurrão foi forte o suficiente para derrubar a amiga. Os outros também se moveram a tempo e se safaram ilesos.

- De onde... essas pedras vieram? – perguntou Adriel, ofegante.

- Não sei – advertiu Dario. – Mas pode acontecer novamente, por isso preste atenção.

Os guerreiros seguiram adiante, andando vagarosamente. Mondegärd, no entanto, não se moveu, parecia pensativo.

- Uma energia. Estou sentindo uma energia mágica... Cuidado! Aqui atrás!

Ao se virarem, a imagem era impressionante: as rochas recém caídas começaram a flutuar e a se elevar, tomando posições determinadas no espaço: formaram uma espécie de estrela. De cada um dos blocos desuniformes saiu uma linha brilhante de energia que ligou um pedregulho ao outro e estes se uniram em uma figura humanoide com mais de quatro metros de altura. Os fios verdes de pura energia ligavam duas pedras de cada membro a uma grande rocha que fazia papel de tronco e outra pequena sobre ele, como uma cabeça.

- E agora? Que coisa é essa? – bufou Adriel.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora