Capítulo 24 - Um lugar chamado Cordilheira

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- Vocês estão bem?! – gritou Isa, aproximando-se. Junto da mulher estavam Gerolt, Mondegärd e Adriel. A guerreira abraçou Celine com força.

- Estou bem, Isa, calma...

- Isso que dá querer vir namorar sozinha em uma floresta maligna! – gritou a amiga, apertando Celine com força.

- Isa! Não é hora para brincadeiras – ralhou Gerolt. – Capitão, estão feridos?

Dario deu uma olhada em seu corpo e no da jovem.

- Aparentemente estamos bem. Vocês chegaram em boa hora. Como descobriram que estávamos na Floresta de Khunt?

- Foi o Monde quem descobriu – contou Adriel.

- Estava recolhendo gravetos para a fogueira quando reconheci a paisagem – contou Mondegärd. – Já estive aqui antes. Basta nos aproximarmos de suas árvores e somos acometidos por intensa ansiedade. O sentimento vem de dentro, mas na verdade é uma emanação das centenas de pessoas que morreram pelas redondezas.

- Você está certo, Mondegärd. A Floresta de Khunt só aceita ser cruzada por um único caminho. Teremos que dar a volta por ela quando formos avançar.

Todos concordaram com o capitão e retornaram para o acampamento. A noite caiu rapidamente e todos estavam bem alimentados devido ao talento de Celine em cozinhar sejam lá quais fossem os ingredientes – mesmo que nem sempre seus pratos ficassem exatamente deliciosos.

- Ufa! Comi bastante...

- Isso são modos, Adriel?

- Isa, por que você tem que reclamar de tudo? Parece uma velha chata. Você só tem 32 anos, lembre-se disso.

Sem prestar atenção na conversa da dupla, Mondegärd suspirou:

- Estamos no sétimo dia de nossa jornada. Se pensarmos assim, é tão pouco tempo. Mas tenho a impressão que já passamos por muita coisa. Mais do que eu esperava, na verdade.

- Tem razão – concordou Dario. – Imaginei que nossos problemas começariam apenas quando chegássemos às montanhas.

Celine, sentada no chão, abraçou as pernas dobradas.

- O que vocês esperam encontrar nas montanhas?

Todos ficaram em silêncio por um tempo, como se falar naquele assunto fosse um tipo de tabu. Dario, entretanto, iniciou a rodada de teorias e achismos.

- Bem... Você sabe que coisas muito estranhas acontecem na Cordilheira, certo? Os aventureiros que tentaram desbravar aquela terra enlouqueceram ou desapareceram sem deixar vestígio algum. Com certeza, alguma coisa habita aquela região...

Celine apertou as pernas com mais força e escondeu o rosto nos joelhos. Isa foi a próxima a falar.

- Na Academia me falaram muito sobre a Cordilheira. Me contaram histórias sobre criaturas que não existem em nenhum outro lugar. Mas, ouçam! A pior, com certeza, é a dos Ishtari...

- Isso não passa de lenda – desdenhou Gerolt.

Isa levantou-se, animada.

- Como você pode saber?! Por que não escreveram relatos sobre eles?! Por que ninguém vivo pode confirmar a existência desses demônios? Pois é, senhor! Sabe o que eu penso?! Que, na verdade, ninguém sobreviveu para contar a história! Ah, sim! É isso que eu acho.

Todos conheciam as histórias sobre os Ishtari, uma espécie de demônio imortal. Todos, menos Celine.

- Mas quem são esses?! – resmungou a jovem, assustada.

Todos riram do desespero da garota e Isa aproveitou para atazanar a amiga, como sempre.

- Tem certeza que realmente frequentou a academia? Para mim, a impressão é de que você só ficava do lado de fora namorando aqueles homens sarados...

Até Gerolt rira desta vez. Isa usava um palavreado muito incomum para aquele círculo social. Diferente dos outros, Dario, Isa e Adriel frequentavam bares sempre que podiam na capital Targodriath. Dessa forma, conheciam a linguagem das ruas, por mais que o capitão evitasse utilizá-la.

- Celine, ouça bem... – começou Gerolt. – Ishtar é o nome de uma raça entre as mais temidas em nosso mundo. São criaturas ditas imortais e extremamente perigosas. São de tempos antigos e até hoje não passam de lendas, pois não existe comprovação para sua existência. Pode ser que ninguém tenha sobrevivido para contar a história, como disse a Isa; entretanto, para mim, não passam de canções cantadas por bardos criativos.

Isa aproximou-se de Celine, depois agachou e a envolveu em seus braços, falando baixinho e coreograficamente:

- Mas eles existem, sim... Não duvide disso, jovem Celine... Eles existem...

- Sai, Isa! – gritou Celine, empurrando a amiga com força.

- Não se preocupe, Celine. A chance de encontrarmos um Ishtar, mesmo em uma montanha da Cordilheira, é remota. Não se engane, entretanto. Com certeza teremos de lidar com certo tipo de armadilha, ou alguma criatura responsável por defende-la. Ninguém deixa uma relíquia perdida sem proteção.

As palavras do príncipe deixaram Celine ainda mais perplexa.

- Falando nisso, Dario, a verdade é que não sabemos como toda esta missão começou.

- É verdade. Foram tantas coisas que acabei nem contando a vocês. Pois bem...

Sentado na terra, o capitão aprumou-se. Todos também ajeitaram-se. O interesse nas palavras seguintes era genuíno. Todos queriam saber como começara essa missão.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora