Capítulo 15

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Angeline narrando:

Apesar de eu ter entendido que toda a gentileza de Thomas era sua forma de dizer obrigado, imaginei de verdade que ele estivesse finalmente amolecendo seu coração de pedra quando mostrou interesse no meu futuro acadêmico. Até notei o choque em seu rosto quando ele perguntou se eu achava que era capaz de curar crianças, e não pude deixar de criar teorias a partir disso para explicar seu jeito arrogante e fechado.

No entanto, antes de sair da cozinha ele afastou de mim qualquer esperança de vê-lo mudar de personalidade ao dizer da forma fria que sempre costumava usar:

- Parabéns pelos biscoitos, pode voltar ao trabalho.

Foi quando me passou pela cabeça que tudo realmente não passava de uma forma de agradecimento, não era como se ele finalmente estivesse mudando de algum jeito.

No dia seguinte, ao limpar o chão de seu escritório no final da tarde, deixei que minha mente vagasse por uma explicação lógica para tudo o que Thomas apresentava de negativo. Será que ele já teve uma filha que adquiriu uma doença incurável? Talvez isso poderia explicar seu ateísmo também. Mas ele é novo demais para ter tido uma filha, talvez fosse sua irmã... mas a mídia não saberia se ele tivesse algum parente que tenha morrido desse jeito? Porém se eu usasse tudo o que já sabia sobre ele - ou achava que sabia -, não existia nada mais coerente do que supor que...

De repente todos os meus pensamentos se dissolveram numa névoa quando, num pulo causado pelo susto, ouvi Thomas bater com força na mesa onde trabalhava a alguns metros de distância.

- Maldição! - Ele exclamou. - Será que não existe outra pessoa que possa vir limpar esse escritório?!

Pisquei, paralizada. O que eu fiz? Falei algo em voz alta sem notar?

Levei um momento até conseguir encontrar minha voz.

- O senhor quer... que eu chame minha mãe?

Ele me encarou por um momento, e eu posso estar enganada, mas em um nanosegundo pude perceber sua expressão dura se suavizar como se ele se arrependesse pelo que disse.

Thomas balançou a cabeça depois de alguns segundos me olhando e desviou os olhos, voltando a trabalhar.

- Não. - Disse com um suspiro. - Continue.

Jesus... o que foi isso?

Vacilante, voltei minha atenção para o local onde estava passando pano, meus pensamentos tomando outro rumo. Ficamos em silêncio por poucos minutos antes do meu patrão resolver rompê-lo novamente:

- Como estão indo os estudos?

Olhei para ele e foi um desafio perceber que ele falava comigo, já que era para a tela do computador que estava olhando.

- Hm... tudo bem, senhor.

- Encontrou algo de útil na biblioteca?

Como ele sabia que eu já havia visitado a biblioteca?

Fui até lá na noite passada, assim que terminei meu expediente. Levei longos dez minutos para encontrar o canto oeste, e quando finalmente o achei, me senti chocada ao notar o tamanho do cômodo em que entrei. Quantos livros existiam ali, cinco mil? Não... provavelmente era mais.

- Por enquanto, só o computador. - Respondi a ele. - Eu ainda não encontrei os livros.

Ele assentiu, ainda sem olhar para mim.

- Devem estar em ordem alfabética pelo nome dos autores. Procure Guyton e Hall, são os melhores.

Pensei em perguntar pelo que ele estava me agradecendo dessa vez, mas a ideia não passou disso: ideia.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now