Capítulo 37 part. III

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Thomas narrando:

Rio de Janeiro - Brasil
15 anos atrás

Nunca contei a ninguém sobre minha fé. Minha mãe achava que era bom pelo menos uma pessoa da família manter a esperança quando todos estavam desmoronando, mas pra mim era mais do que isso. Era uma certeza tão grande e tão concreta, que eu não conseguia me sentir sequer um pouco triste ao ver o modo como todas as pessoas ao meu redor pareciam prever o pior. Eu acreditava tanto... confiava tanto. Eu tinha fé.

- Você está bem? - Perguntei quando vi Alice pela primeira vez desde que minha mãe me contou sobre a doença.

Ela e Alexia haviam acabado de chegar à minha casa com Stephan enquanto eu assistia televisão, mas antes que eu fosse até a porta para recebê-los, Alice soltou a mão da irmã e correu para mim feliz como sempre, vestida em um vestido rosa e seu cabelo amarrado em um rabo de cavalo. Que linda, ela estava.

- Tom, você num quidita! - Disse me envolvendo com seus bracinhos em um abraço. - O papai e a mamãe vai casar!

Olhei para Stephan que sorriu, mas seu sorriso não chegou aos olhos. Ele parecia feliz, mas não totalmente. E isso me fez perceber que eu teria que ter paciência, porque novamente Deus estava esperando o momento certo para agir outra vez.

Ele fez o pedido oficial à Alexia aquela noite durante o jantar, com um anel de noivado e um joelho no chão. O clima de alegria parecia tão real, que se eu não decidisse escutar atrás da porta da cozinha minha mãe conversando com Alexia eu poderia pensar facilmente que Alice já estava curada.

- Ela é muito forte. - Ouvi minha mãe dizer. - Pelo grau da doença, as dores de cabeça que ela vinha sentindo eram terríveis.

- Você acha que se eu tivesse percebido antes... teria como evitar chegar a esse ponto? - Alexia perguntou com a voz fraca.

- Ei, nem pense em fazer isso. A culpa não é sua, Alexia. Existem tantos motivos pra uma criança sentir dores de cabeça, como você poderia imaginar?

Elas ficaram em silêncio por um momento. Eu encostei as costas na parede antes de ouvir minha cunhada continuar:

- Ela ainda vai sentir as dores?

- Por enquanto, não. Os remédios irão desacelerar a evolução da doença, ela vai ficar bem.

- Por quanto tempo?

Minha mãe suspirou tristemente.

- Infelizmente... não muito.

- Tom! - Alice gritou da escada quando me viu. - O que você tá fazeno? A zente vai bincar de salão agola!

Me afastei da cozinha e corri em sua direção, sem olhar para trás pra ver se minha mãe ou Alexia haviam a escutado e aparecido na porta.

Tentei me esquecer do que havia escutado enquanto focava minha atenção na Alice, mas poucas horas mais tarde, enquanto ela brincava com meu boneco do incrível Huck, de alguma forma conseguiu fazer a proeza de quebrá-lo. Eu não queria descontar nela a frustração que senti ao ouvir as palavras da minha mãe, mas infelizmente foi automático. Ouso colocar parte da culpa ao fato de que, embora eu soubesse que era mais maduro do que muitos garotos da minha idade, eu ainda era criança... e crianças não tem exatamente um filtro no cérebro para selecionar as melhores coisa a se dizer no momento em que seu melhor brinquedo é quebrado.

- Poxa, Alice! Era meu boneco preferido! - Exclamei chateado.

Ela pegou as duas partes do boneco e me encarou com seus enormes olhos azuis, amedrontada.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now