Thomas narrando:
É lógico que não estava em meus planos assisti-las da porta da igreja. Em algum momento confesso que imaginei que conseguiria entrar, mas sejamos francos: igreja não é meu lugar. No fundo Angeline também sabia disso.
Entretanto, quando sua voz suave invadiu o ambiente lá dentro sendo transmitida para fora, por mais que eu tentasse permanecer onde estava não fui capaz de controlar o impulso de vê-la cantar. Não era como se eu pudesse evitar. Angeline era como um maldito ímã e eu o metal, totalmente vulnerável a ela.
E então aconteceu: enquanto permanecia parado na porta hipnotizado por sua voz se misturando à voz de Izzy, algo dentro de mim começou a se desfazer como um castelo de areia atingido pelas ondas de um oceano furioso. Era como se a melodia entrasse na corrente sanguínea limpando qualquer impureza que encontrasse pelo caminho, invadindo o coração em forma de uma substância que não existia na tabela periódica e cicatrizando feridas que eu nem sabia que ainda estavam abertas.
Percebi a mãe de uma das crianças esconder o rosto no ombro do esposo chorando compulsivamente e de algum jeito eu a entendi. Aquilo não era apenas uma música; era uma promessa de que o que quer que estivesse passando, ela não estava sozinha.
Quando me despedi das crianças e Killian minutos mais tarde eu tentei, mas não consegui sufocar a necessidade de conversar com Samantha sobre algo que eu evitava conversar com qualquer pessoa. Afinal de contas é fácil alguém te dizer como superar algo que nunca precisou superar, mas se torna um tanto difícil quando essa pessoa assume seu lugar. A dor da perda que eu senti quando ainda era criança estava prestes a assumir o coração de Samantha, e mesmo sorrindo da maneira como ela estava, eu tinha certeza que ela também sabia disso.
Acontece que nossa breve conversa não foi exatamente esclarecedora para mim. Pelo contrário: quando Angeline se juntou a nós eu estava indiscutivelmente mais confuso do que antes.
- Se quatro anos atrás você não tivesse tido a iniciativa de abrir o Clube, esse dia não teria existido. - Dissera.
Então falando hipoteticamente, se Deus existisse poderia Ele ter colocado Alice na minha vida como uma maneira de eu ajudar outras crianças no futuro? Logicamente eu jamais teria cogitado a ideia de abrir um Clube para crianças com câncer sem um motivo plausível, então... isso seria possível?
Droga, Thomas, o que houve com sua sensatez?!
Seja como for, contrariando todas as expectativas, pela primeira vez na vida eu me sentia perfeitamente inteiro; e de alguma forma absurda eu soube que não seria capaz de encontrar isso em outro lugar se não em uma igreja.
Não sei exatamente por que agradeci à Angeline - tampouco por qual motivo a abracei -, mas eu precisava disso. Eu precisava tocá-la, envolvê-la em meus braços, sentir seu coração pulsando junto ao meu. Eu precisava senti-la próxima por tanto tempo quanto fosse possível, e enquanto eu a tinha, duas simples palavras rondaram meus pensamentos: e se...? E se ela estivesse certa? E se a verdade estivesse estampada em minha frente esse tempo todo, mas eu simplesmente me negava a enxergar? E se...?
- Angie. - Ouvi a voz de Sarah se aproximando de nós e fui obrigado a soltá-la. - Irmã Rebecca pediu que você volte mais vezes. Ela estava com saudades de te ouvir cantar.
Angeline sorriu colocando o cabelo atrás da orelha.
- Tá, eu vou voltar.
- Estão prontas para ir? - Perguntei abrindo a porta do passageiro pra deixar Angeline entrar.
- Na verdade, ainda não. - Sarah disse se posicionando em minha frente, me olhando como se fosse me dar um sermão. - Sr. Strorck, aquela menina que o senhor viu lá dentro cantando com aquela garotinha... essa é minha filha. Isso é o que ela faz e isso define quem ela é. Eu sei que é primeira vez que o senhor a vê assim, então chegou a hora de eu perguntar... ainda a ama, apesar da crença dela?
YOU ARE READING
Um plano para nós (PAUSADO)
RomantikApós ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação de seus pais, Angeline se vê decidida a abandonar sua mordomia para viver com sua mãe em um casebre nos fundos da mansão de um dos magnatas...