Capítulo 67

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Angeline narrando:

Não. Impossível que ele não tenha notado. Talvez nos primeiros minutos do vôo - ou até nas primeiras horas - essa desculpa poderia ser cabível, mas minutos antes do avião aterrissar no aeroporto do Rio de Janeiro, quando a aeromoça abriu furtivamente o primeiro botão de seu uniforme enquanto servia nosso café da manhã se inclinando para dar ao Thomas uma visão privilegiada de seus seios, percebi que ele notava sim. Ele provavelmente notava desde que ela começou suas investidas quando embarcamos na tarde do dia anterior, e o único motivo de não reagir a isso era simplesmente porque não queria.

Aturei seus sorrisinhos bobos, a maneira como ela o tocava tentando parecer casual o suficiente pra que eu não percebesse, a voz que ela suavizava sempre que queria lhe oferecer algo, seus elogios descarados, suas insinuações... imaginei que depois de dormir por algumas horas Thomas recuperaria sua consciência e finalmente a dispensaria, mas aparentemente eu estava errada. Ele não disse nada. Nada. Sentado ao meu lado ele apenas sorria e acenava.

Então eu me senti obrigada a acabar com aquela palhaçada quando se voltando para mim, ela perguntou com uma inocência forçada se eu queria chá ou café.

- Nesse momento tudo o que eu quero é que você pare de flertar com meu namorado, se não for pedir demais.

Suas bochechas que antes estavam coradas perderam totalmente a cor conforme ela piscava os longos cílios para mim.

- Oh, eu não... eu não...

- E por gentileza, feche sua blusa. - Pedi. - Se ele quisesse ver peitos ele estaria num bordel, não num avião.

Ela ficou paralisada me olhando com a boca entreaberta, em seguida olhou para Thomas que se mantinha quieto ao meu lado, colocou a garrafa de chá que segurava sobre a mesa à nossa frente e abotoou sua blusa resmungando um pedido de desculpas baixinho. Então se retirou sem olhar para trás.

Eu estava tão distraída observando-a fazer seu caminho de volta à sua cabine que só percebi que Thomas havia segurado minha mão quando ele a ergueu até seus lábios, beijando meus dedos.

Olhei para ele de cara fechada pronta para despejar minha decepção, mas com um sorriso descontraído, ele foi mais rápido que eu:

- Olhe pela janela. - Pediu.

Me virei e encontrei a cidade cheia de prédios lá embaixo, alguns revestidos de vidro que refletiam a luz laranja do sol que começava a nascer no horizonte. A água do oceano também possuía suas nuances douradas, e os morros começavam a ser iluminados pelo sol da manhã. Olhando daquele ângulo e naquele horário eu poderia afirmar facilmente que era a cidade mais bonita que eu já vi.

Perdida na beleza do lugar, não demorei a chegar a uma conclusão rápida: em breve Thomas teria um encontro difícil com sua mãe, e independente do que eu fizesse, não teria como amenizar o impacto que isso causaria nele. Portanto, ter que lidar com a pressão extra de uma crise de ciúmes era algo de que eu o pouparia.

- Seja bem-vinda ao Brasil, Angel. - O ouvi dizer atrás de mim com um sorriso camuflado em sua voz.

Fechei os olhos, respirei fundo. Você consegue fazer isso, Angie. Você consegue esquecer essa viagem pelo menos pelas primeiras horas.

E ao olhar para ele outra vez, escondi minha indignação e sorri de volta.

*~*~*~*

- Você está bem? - Thomas quis saber depois que desembarcando no aeroporto, enquanto caminhávamos de mãos entrelaçadas para buscar nossas malas.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now