Um plano para nós (PAUSADO)

Capítulo 68 - Parte II

Thomas narrando:

O choque nos olhos do meu pai foi notável. Ele se empertigou na cadeira e enrugou o nariz:

- Que pergunta idiota é essa, Thomas?

- É uma pergunta válida. Você nunca me deu um abraço, nunca demonstrou uma gota de amor por mim, nunca ligou para o meu bem-estar... então por que me aceita como parte da sua família? Por causa de um pedido da minha mãe, ou porque eu sou bom em te render lucro?

- O que você...

- Eu entendo o motivo de você não ter me contado sobre a doença. - O interrompi. - Foi ela quem pediu. O que eu não entendo... é o motivo de você ter ido até minha casa e contado isso para Angeline, apenas para que ela também escondesse isso de mim. O que eu não entendo é você tentar me obrigar a me casar com alguém que eu não amo... porque não podemos perder dinheiro agora. Me explique, pai, que tipo de valor o seu dinheiro tem diante de uma doença incurável?

Ele me encarou imóvel por um tempo, sem saber o que responder. Então eu ajudei:

- Você não achou justo que eu fosse feliz, se você não pudesse ser. Estou certo?

- Não. - E por algum motivo, eu pude ver a raiva em seus olhos. - Você não faz ideia do quão injusto está sendo agora.

- Não, eu não faço. - Tirei o tornozelo de cima da minha coxa e me inclinei para frente, apoiando os cotovelos nas pernas: - Me tire da escuridão, então. Fale pra mim o que eu ainda não sei.

Eu podia perceber seu peito subir e descer conforme ele respirava devagar. A maneira que ele me olhava era como uma mistura de desejo de me espancar com o desejo de se render ao desespero. Fosse qual fosse seus pensamentos naquele momento, eu apenas o esperei começar a falar. O que ele fez não muito tempo depois:

- Eu usei todos os recursos que eu tinha... de todas as formas possíveis... pra tentar reverter ou pelo menos atrasar a evolução da doença quando descobrimos. Nunca conheci tantos médicos, cientistas e pesquisadores na minha vida. Todos eles tinham seu preço. Todos eles tentaram. Nenhum deles conseguiu me dar nada. - Ele soltou um suspiro trêmulo e se recostou na poltrona, passando as mãos pelo cabelo. - Foram dias e dias, semanas e semanas de pesquisas e experimentos. Ela foi afastada do hospital depois de quase levar um paciente à morte, por causa da doença. E eu passei a trabalhar em casa, há dias não vou à empresa. A vida mudou, Thomas. Eu estava fazendo tudo o que eu podia, e nada estava dando certo.

Me pai olhou para mim e fez uma pausa antes de prosseguir:

- Então Karan Lawton se ofereceu para ajudar. Como você e a filha dele estavam de casamento marcado, ele disse que a Luna era praticamente parte da família. Sendo assim, ele se sentia na obrigação de fazer alguma coisa por ela. - Sua mão viajou até sua nuca e ele a esfregou enquanto se mexia na poltrona: - Ele entrou em contato com um médico muito bom. Seu primo, seu tio... não sei ao certo, sei que tem algum tipo de parentesco com ele. Bem, não importa. O fato é que o desgraçado era bom. E começou a progredir. Lawton construiu um laboratório na Índia apenas para que esse médico e sua equipe pudessem trabalhar. Eu pedi que viessem para o Brasil, mas ele não aceitou. Disse que com o laboratório e as pesquisas lá, ele poderia garantir que você não trocaria a filha dele por uma certa garota de máscara rosa.

Porra!

Soltou uma baforada de ar e me recostei na cadeira. Filho da puta!

- Parecia justo pra ele. - Meu pai continuou - Um bom casamento para a filha em troca da cura da sua mãe. Se você estivesse no meu lugar, teria feito diferente do que eu fiz?

Engoli em seco sem saber o que responder imediatamente. Como raios eu iria saber de uma coisa dessas?

- Tudo o que mais queria... o meu maior desejo... era ter sua mãe saudável de novo. E eu arriscaria tudo por isso, Thomas. Sei que você ama Angeline, então se coloque no meu lugar. Com um pouco de esforço você pode entender. Eu seria capaz de fazer qualquer... maldita... coisa... pra que a mulher que eu amo não se esquecesse de mim.