Cap. 27 - Pula. Cima. Baixo. Baixo. Cima. Pula. Pula. Pula.

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Ray conversava com alguém na fila e balançava, impaciente, para frente e para trás enquanto Max mexia no celular e fazia bolas de chiclete, sem olhar muito ao redor.

Ainda bem que elas têm alguma paciência, eu sou o tipo de pessoa que vê uma fila grande e passa reto. Nunca iria jogar nada naquele lugar. Se bem que a conversa com Theo nem durou tanto tempo assim, foram uns 15 minutos, no máximo. Eu não era boa em ter noção de tempo, mas tinha um relógio perto dali, eu sei ler horas.

Olhei para trás rapidamente e nem Theo, nem Ky, estavam à vista. Desapareceram no ar como a fumaça do cigarro, mas deixaram marcas no chão onde haviam acabado de pisar, assim como o carinho de Kyle tinha deixado algum cheiro remanescente de cigarro no meu cabelo.

Max estava de costas pra mim e Ray, ao seu lado, conversava com alguém que eu nunca tinha visto antes e, acreditava eu, nem mesmo ela. Ela só parecia ser esse tipo de pessoa que faz amizades facilmente em filas pra passar o tempo, mas provavelmente se lembraria delas depois caso as visse novamente ou precisasse de alguma ajuda.

Parecia uma cena extremamente plausível e eu conseguia imaginar bem Raven indo comprar algo em uma loja e, ao perceber que já havia conversado com o caixa em alguma fila que enfrentou, conseguir, de alguma forma, convencê-lo a lhe dar um desconto de 10% sobre a compra de um pacote de canetas pretas porque ela se lembraria que a pessoa trabalhando no caixa tinha um cachorro pequeno chamado Alfred, que provavelmente tem problemas estomacais e não pode comer certas rações.

Vi a oportunidade de dar um susto em Max e não pude deixar passar. Eu adorava dar sustos, mas odiava recebê-los, porque tudo me assusta.

Vagarosamente, me aproximei dela sem chamar sua atenção ou de Raven e decidi testar quão próximo eu conseguiria chegar sem que ela percebesse, porque quando ela está mexendo no celular, parece alheia a tudo, completamente absorta nos vídeos de gente caindo de jeitos engraçados que eu notei que ela sempre assistia e ria mais do que qualquer piada que alguém lhe falasse.

Quando eu estava a uns dois ou três palmos de distância, ela jogou a cabeça para trás e riu tão alto que sua risada se destacou sobre a confusão de adolescentes instalada naquela arena. Ela não tapava a boca quando ria e nem tentava rir mais baixo, como Raven fazia, ela ria de um jeito que dava pra imaginar vários "HAHAHA" garrafais e em negrito saindo de sua boca, como em um mangá.

Assim, eu pulei subitamente e a abracei por trás, envolvendo seus braços e gritando "BU!".

Mas eu esqueci que Maxine havia feito judô.

— AH! — Ela deixou escapar um grito fino e curto antes de abrir as pernas, subir os punhos, segurando minhas mãos e jogar uma perna para trás de mim, me pegando pelas duas pernas e me jogando no chão, sem se importar com a touca que havia caído, deixando seus cabelos levemente bagunçados.

Eu fiquei parada, jogada na grama, sem entender uma vírgula do que havia acabado de acontecer. Ela havia agido muito rápido. Numa hora, eu estava em pé, no segundo seguinte estava no chão, com ela por cima de mim, segurando meu braço para trás.

Ao notar que quem havia lhe assustado tinha sido eu, ela abriu a boca e me encarou, perplexa, durante alguns segundos, sem sair, contudo, de cima de mim. Ela me encarando, eu a encarando, acho que nunca havia visto seus olhos tão redondos assim.

Sua boca estava aberta de um jeito que eu conseguia ver seus dois incisivos superiores e um de seus caninos afiados. Notei que o canino esquerdo era maior do que o direito e que seus cabelos negros eram tão finos que o mínimo sopro de vento seco e frio o faziam dançar.

Mas logo ela afastou o rubor de seu rosto pálido, se levantou e me ofereceu a mão para que eu também ficasse de pé.

Taquepariu, Amanda! Não me dá susto, porra, eu podia ter deslocado seu braço! — Ela se abaixou rapidamente e tomou a touca novamente para si, a recolocando.

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Where stories live. Discover now