CAP 01 - Perdi o Par da Meia Amarela

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 — AMANDA! — Escutei minha mãe gritar da sala

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— AMANDA! — Escutei minha mãe gritar da sala.

Peguei o travesseiro de trás da minha cabeça e sentei no chão de madeira escura do meu quarto, apoiando-o sobre as minhas pernas, agora dobradas uma sobre a outra. Retirei o fone de ouvido da orelha direita, mas permiti que a esquerda continuasse escutando Cavetown

— QUE É? — Gritei de volta, desenhando círculos na poeira que encontrei no lugar onde costumava ficar a cama

— FAZ MEIA HORA QUE TÔ GRITANDO, AMANDA! VENHA AQUI AGORA!

— SÓ ME DIGA O QUE É! — Minha mãe tem a mania de me fazer sair do quarto pra me perguntar coisas que eu poderia responder sem precisar sair do lugar onde estava antes.

— EU PRECISO SABER O QUE É LIXO E O QUE É PRA GUARDAR EM CAIXA PRA LEVAR! O CAMINHÃO VEM HOJE MAIS TARDE E AINDA TEM COISA SUA PRA ARRUMAR! TANTO QUE EU PEDI PRA VOCÊ AJEITAR LOGO SUAS COISAS, AMANDA!

Infelizmente, Robbie vai ter que esperar. Foi mal, Robbie.

Deixei o travesseiro de lado no chão e me levantei. A janela do meu quarto nunca me pareceu tão distante, todas as prateleiras ao seu redor estavam vazias, embora cheias de poeira (bem, cheio e vazio é relativo). A árvore que sempre me deu pesadelos quando era criança fazendo barulhos de unhas arranhando o vidro no inverno ainda estava lá, triunfante, agora que a intrusa finalmente iria embora. Aquele quarto já não parecia o meu, sem meus desenhos ruins e idiotas grudados nas paredes, sem meus ursos de pelúcia e meus livros amarelados. 

Na verdade, eu já não me sentia dona de nada, nada ali me pertencia. Nem minhas próprias roupas ou os tênis dentro das caixas de papelão prestes a arrebentar, que minha mãe jurava que iriam aguentar a mudança. Eu era uma intrusa no meu próprio universo.

— VAI VIR NÃO? POIS EU VOU JOGAR TUDO NO LIXO!

— CALMA! JÁ TÔ INDO! — Saí correndo, ainda com a música presa, tocando em ritmo cíclico na minha cabeça.

— CALMA UMA OVA, EU VOU CONTAR ATÉ TRÊS ANTES DE JOGAR ESSAS COISAS NO LIXO!

Inspirei profundamente antes de lidar com o estresse matinal da minha mãe. Ela andava mais nervosa do que o normal esses dias, provavelmente por causa da mudança. Não apenas isso como ela acertou as últimas contas com papai há menos de um mês sobre quem teria nossa guarda, isto é, com quem eu e Jessica, minha irmã mais nova, iríamos morar, e ainda tinha que se adaptar à nova empresa de design que a havia contratado em Heron Lake. Era muita pressão para uma pessoa só, e eu a compreendia, mas isso não quer dizer que eu não me abalava com a anormal agressividade dela.

— UM!

Coloquei o celular no bolso com os fones enrolados num maço desgrenhado enquanto andava em direção ao corredor. A música ainda tocando na minha cabeça "dum dum rum rum dum dum dumrumrumdum".

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Where stories live. Discover now