CAP 55 - Pessoas são como potes e dentro de mim eu guardo garotas

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Eu saí da casa de Maxine na hora que ela foi pra aula. Ela foi pra Grandhill e eu fui pra casa. O dia estava ensolarado, as nuvens estavam esparsas. Parecia que elas entendiam o que estava prestes a acontecer e queriam me dar espaço pra respirar e enxergar que depois da chuva de ontem o céu hoje ainda estava azul. O vento as soprou pra longe, pra não me incomodar, o mesmo vento que talvez fosse um mentiroso. Como eu disse, eu não me importava.

Olhei pro prédio de tijolinhos que se estendia à minha frente, segurando uma mala no meio da rua.

— Onde você estava? Seu pai me ligou pra avisar que você tinha voltado mas você não apareceu aqui ontem. Liguei pra você e seu celular estava desligado! — Foi a primeira coisa que mamãe disse quando eu abri a porta.

— Meu celular descarregou e eu esqueci de carregar. — Eu falei, deixando minha mala no chão.

— Eu estava morrendo de preocupação, Amanda! Não faça mais isso! Você quer me matar? — Ela veio me abraçar, mas eu não a abracei de volta. — Você não pode sair por aí fugindo.

— Por que você não tá no trabalho?

— Eu pedi o dia de hoje livre quando seu pai me avisou que você estava voltando.

Eu olhei pra ela, pensando no que diabos eu deveria falar, por onde eu deveria começar. Inspirei, olhando pra baixo.

— Eu sei que você é minha mãe e que quer me proteger, mas você não pode fazer isso me xingando e me obrigando a ser quem você quer que eu seja. Eu sou um ser humano também. — Quando voltei a olhar em seus olhos, ela estava apenas me escutando. Pela primeira vez em muito tempo ela estava me escutando. — Eu tenho meus gostos, meus jeitos e não posso mudar quem eu sou por medo de você ou do mundo. Não posso e não vou.

Meus olhos começaram a marejar, mas eu afastei as lágrimas com a mão.

— Tudo que eu preciso de você é apoio, mãe, preciso que você me escute, me compreenda e me ajude quando eu precisar, não gritando comigo, não me xingando. Tudo que eu precisava quando aconteceu aquele problema na escola era que você me abraçasse e me defendesse porque é muito difícil eu me defender sozinha. Tudo que eu precisava quando você me xingava e gritava comigo era apoio emocional, mas você tinha sido a pessoa que tinha causado meu problema então eu não podia contar com você. — Uma lágrima desceu. — Tudo que eu preciso de você é que você volte a ser como antes.

Mamãe esperou um momento antes de falar.

— Amanda, quando você crescer, você vai perceber que certas coisas que acontecem na vida da gente mudam a gente pra sempre. Aquilo vai estar sempre lá, fazendo parte de quem a gente se tornou. Não tem como simplesmente eu voltar a ser a mãe que você tinha antes porque coisas aconteceram comigo também.

— Eu sei disso, mãe, eu sei! — Fechei os punhos e inspirei. — Eu sei. Eu sei que o que você viveu com papai foi um inferno pra você, foi um inferno pra papai também, e sei que você aguentou muita coisa pela gente. Mas isso não pode ser desculpa pra você me tratar assim. Eu sou a sua filha, você deveria cuidar de mim, não ser a primeira a jogar pedra! Eu não to pedindo pra você se transformar em quem você era de novo, pra esquecer tudo, eu to pedindo pra você fazer um esforço pra mudar, pra ficar melhor por você e pela gente. Por mim e por Jessica. Eu sei que coisas ruins acontecem mas a gente não pode ficar presa nisso.

Mamãe começou a chorar, colocando as mãos espalmadas na frente do rosto.

— Eu passei por um inferno nas primeiras semanas de aula mas depois ficou tudo bem, eu encontrei pessoas que estão do meu lado e que me ajudam a ser melhor.

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Where stories live. Discover now