CAP 22 - Derrapagem

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— Eu te mandei uma mensagem e você teve o fim de semana inteiro pra se pronunciar. — O sardento (Julien) deu um passo à frente. Sua voz ecoou pelas paredes. Ele ergueu uma mão sobre a boca. — Ficou com medo?

— ELA JÁ TINHA SE AFASTADO, NÃO FOI? ELA TÁ FUGINDO DE VOCÊ. MAS VOCÊ NÃO RESPEITA POR QUÊ? QUER COMPRAR BRIGA COMIGO? — Jonathan não gritava, mas também não falava baixo. Eu comecei a ficar com medo, sentia nos meus ossos. Lembrei de Jamie ter me falado algo sobre isso na igreja. — VOCÊ VAI DESCER OU A GENTE TE BUSCA?

Os pequenos grupos de pessoas começaram a se esgueirar e sair do prédio.

— Eu não quero brigar com ninguém, Jonathan! — Falei o mais alto que podia, sem gritar, porque sabia que se falasse mais alto ia começar a chorar e isso ia dar mais abertura pra caçoarem de mim. — Por favor, me deixe em paz!

— Ah, mas parece que você quer, sim. — Jonathan se aproximou da arquibancada, cruzando os braços. Os outros dois deram a volta dos lados da piscina central e começaram a subir. Eu me levantei, olhando pros lados pra saber por onde poderia começar a correr. — Eu sei que você fica olhando pra Jamie, Pritchett, que fica seguindo ela, encarando que nem uma psicopata.

— Não é nada disso, Jonathan, nada a ver. — Deixei minhas coisas e minha mochila na arquibancada quando comecei a andar, devagar, pro meio, onde havia uma parte gradeada que eu até agora não tinha entendido pra que servia. Provavelmente pra gente importante se sentar.

— Então agora quem não entendeu as coisas fui eu? Tá me chamando de burro? — Olhei pros lados. Os garotos começavam a subir a arquibancada pelos degraus laterais. Corri pro centro.

— NÃO! ME DEIXA EM PAZ! EU NÃO FIZ NADA! — Saí pulando pros assentos de baixo, a ponto de me desequilibrar e cair com a velocidade que eu adquiria, mas os garotos eram maiores e mais rápidos. A distância diminuía à medida que eu me aproximava das grades de ferro e eles, de mim. Não tinha nenhuma saída por cima.

Como em todos os filmes, quando tem alguma cena de ação e adrenalina, eu errei a aterrissagem no assento de baixo quando pulei do de cima porque apenas não tinha tempo pra calcular a distância e precisava seguir a velocidade que tinha.

Meu pé atingiu o degrau abaixo do que eu pretendia chegar e meu corpo foi lançado pra frente. Num impulso, ergui os antebraços pra me defender do choque contra a madeira do banco de baixo. Assim que parei de girar, me vi em frente à grade de metal, então só me segurei nela e tomei apoio no banco onde estava pra me jogar pra cima da grade, me apoiar por meio segundo com o pé esquerdo nela pro meu corpo poder atravessar pro outro lado.

Um dos garotos havia me alcançado e me segurou por trás, pela gola do blazer.

— Do que você tá correndo, Pritchett? Achei que você não tinha feito nada! — Jonathan gritou.

— Me larga, idiota! — Dei uma cotovelada na cara do branco sardento, que soltou meu uniforme com o baque e eu pude correr. O garoto gordo deu a volta no quadrado cercado das arquibancadas, esperando me prender pela frente enquanto o outro estava atrás, mas eu fui mais rápida e consegui pular pro lado de fora do gradeado antes que ele alcançasse a frente.

— Ah, não, você não vai fugir agora, não, desgraçada! — Jonathan correu ao redor da piscina e escorregou numa área molhada. Infelizmente, ele não caiu, só me deu alguns segundos de vantagem antes de conseguir recobrar equilíbrio.

O garoto sardento em quem eu tinha dado a cotovelada voltou a correr junto do garoto gordo atrás de mim, enquanto Jonathan tentava pegar vantagem pra ficar na minha frente.

— Alguém me ajuda! — Eu gritei, do fundo dos meus pulmões cansados e assustados, o que não resultou num grito muito alto.

— Ninguém vai escutar você daqui de dentro, Pritchett, você vai se foder! — O loiro gritou atrás de mim.

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora