CAP 20 - Oi, mãe, agora eu sou astronauta

1.6K 248 303
                                    

Brooke cantava como se estivesse adormecendo, o que eu achava adorável

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Brooke cantava como se estivesse adormecendo, o que eu achava adorável. Era uma voz que com certeza teria gosto de sorvete de fruta, aquela coisa suave e doce, baixinha, sussurrando, me envolvendo como uma toalha macia depois do banho. Vê-la tão confortável tocando e cantando fez as milhares de constelações mortas ao meu redor renascerem e voltarem a brilhar sobre nós duas naquele banheiro dentro do quarto bagunçado de alguém que eu não conhecia.

Seus olhos verdes observavam os calafrios se alastrarem pelos pelos do meu corpo, sabendo que eles eram os causadores dessa paz caótica toda, que lentamente me ninava carícias sem sequer me tocar um dedo. Ela era uma com aquele violão, e nunca algo roubado pareceu pertencer tanto a alguém.

Ela fechava os olhos e pendia a cabeça pra trás, puxando as cordas um pouco pra cima a cada movimento.

Eu não sabia o que fazer, então tentei não pensar muito sobre aquela loucura. Ela ficava ridiculamente charmosa com aquele cabelo bagunçado meio em cima da cara.

As mãos de Brooke deslizavam, puxadas pelos acordes que reverberavam dentro da banheira seca. Ela já conhecia as curvas daquele violão, seus dedos já tinham passe livre pra lamber aquelas cordas e molhar o ar de música. Eu conseguia entender os sentimentos daquele violão: ele gostava de ser roubado pelos dedos de Brooke. E eu queria ser também.

Aquele momento pareceu ser pintado na minha cabeça, com a lua espiando por uma janela pequena um banheiro de azulejos verdes e plantas sobre as bancadas e sobe a banheira cor-de-rosa, adesivos grudados no espelho, uma ruiva com voz de riacho tocando violão dentro da banheira e uma garota de pele marrom cheia de manchas e cabelos pretos bagunçados encolhida ali no cantinho, apenas respirando.

Queria ter adjetivos bonitos pra me descrever como eu conseguia descrever outras garotas.

Ela terminou o último acorde junto ao refrão e se virou pra olhar pra mim sob a luz branco azulada lançada pela lua ali pertinho. Ela não disse nada, apenas sorriu levemente, e eu me sentei dentro da banheira com ela.

— Se um riacho tivesse voz, seria a sua, com certeza. — Ela sorriu.

— Acho que ninguém nunca descreveu nada desse jeito pra mim. — Ela olhou pra baixo e, depois, pra mim de novo. — Tá mais calma?

— Aham. — Ela pegou na minha mão.

— Que bom. — Ambas sorrimos pelo canto da boca, olhando de lado uma pra outra, debaixo da meia-luz de uma lua envergonhada. Eu recostei minha cabeça no ombro dela e a senti passar o braço por trás da minha cabeça pra me fazer carinho no cabelo.

 Eu recostei minha cabeça no ombro dela e a senti passar o braço por trás da minha cabeça pra me fazer carinho no cabelo

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Where stories live. Discover now