CAP 44 - Vespas e Vagalumes

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Quando paramos de nos beijar, apenas ficamos deitadas olhando uma pra outra, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Eu ainda sentia suas mãos pelo meu corpo, ainda sentia seu corpo nas minhas mãos. Sentia o gosto da boca dela nos meus lábios. Parecia que eu tinha levado um choque e agora todo o meu corpo estava em transe, boiando numa piscina que existia só na minha cabeça, olhando o céu e todas as suas estrelas num teto branco.

Todos os meus pensamentos e sentimentos subiam pelo ar denso, se espalhando pelos quatro cantos do quarto feito vagalumes, piscando, pousando na cadeira da escrivaninha e voando novamente. Eu os olhava, tentando compreendê-los.

— Max. — Continuei olhando pro teto. Ela continuou olhando também.

— Oi?

— Como você pensa? — Ela olhou pra mim. Estava com as mãos atrás da cabeça. 

— Hã?

— Como você pensa? — Repeti, olhando pra ela. Ela fez uma cara pensativa.

— Como assim? — Voltei a olhar pro teto.

— É que eu penso muitas coisas ao mesmo tempo, e parece que cada coisa que eu penso nunca é uma coisa só. É sempre demais. Cheio de detalhes. O que eu sinto também. É tudo muito. Parece um monte de vagalumes que saem da minha cabeça e se espalham por aí e eu tenho que sair catando um por um com uma mini rede de pegar insetos. E eu pego um por um, assim, na minha mão- — Pus minhas mãos à frente do meu rosto, como se segurasse algo muito pequeno e frágil. — E fico olhando pra tentar entender o que eles querem dizer.

Olhei pra ela. Ela estava deitada de lado, com o braço apoiado na cama e a mão apoiando a cabeça, sorrindo.

— O que foi? — Eu falei besteira? Max deu uma risadinha.

— Eu adoro o jeito que você pensa. — Eu sorri. 

— Você não pensa assim também? — Ela negou.

— Eu penso mais como se um monte de vespa estivesse tentando me ferroar e eu tivesse alergia.

— Como assim?

— Às vezes eu não penso em nada, às vezes eu penso em muita coisa ao mesmo tempo mas não consigo focar em nenhuma delas, até que parece que eu fico muito entulhada em pensamentos e não consigo fazer nada. Geralmente quando eu tô nervosa. — Ela olhou nos meus olhos. — Você consegue segurar seus vagalumes na mão e olhar pra eles, eu não consigo.

— Que nem o inventário de Razorblade quando rolou aquele bug e a gente não conseguia organizar os itens e às vezes eles desapareciam ou dizia que o inventário estava cheio quando a gente tentava pegar aquela flor preta e não conseguia, mas na verdade ele não estava.

— Que específico. — Ela riu. — Mas é. Andar de skate e tocar bateria me ajudam com isso. Quando eu to andando ou tocando, eu não penso em nada, eu vou no automático. Quer dizer, geralmente eu não penso em nada. Eu estava pensando em muita coisa hoje na festa.

— Tipo em quê? — Ela mordeu o lábio inferior, se virando pra olhar pro teto.

— Eu tava nervosa, fazia tempo que eu não tocava em público. — Ela voltou a olhar pra mim e seu rosto ficou vermelho. — E eu nunca tinha tocado na sua frente. — Ela tapou o rosto com a mão. — Eu fiz tudo errado.

— Por que você não toca agora? — Ela me olhou de um jeito que eu daria tudo pra entender o que estava se passando na cabeça dela.

— Agora? — Ela levantou o tronco e ficou sentada na cama, com o cabelo todo bagunçado e o olhar um pouco assustado. — Pra você?

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon