Capítulo 3

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O restante da aula passou rápido. De tempos em tempos Evellin lançava olhares furtivos para mim mas não disse nada.

Quando o sinal bateu eu guardei minhas coisas e fui direto para casa. Quarenta e três minutos depois, fechei a porta atrás de mim ao entrar.

- Luna! - Minha mãe disse saindo da cozinha. Ela sorriu ao me ver, o que realmente me surpreendeu. - Como foi o primeiro dia de aula?

- Legal. - Eu disse fria e joguei minha mochila em cima do sofá.

- Só isso? Legal? - Ela me seguiu enquanto eu passava por ela e ia em direção à escada.

Eu parei e me virei para encará-la.

- O que você quer? Por que está me tratando como se gostasse de mim? Eu não quero que você tenha pena de mim, mãe! Não é porque a única pessoa que cuidava de mim morreu que você precisa mudar seu jeito de me tratar! Não precisa fingir que se importa, ta legal?

Pronto, falei. Minha mãe abriu a boca pra dizer algo, mas a fechou de novo. Ótimo. Eu não imaginei mesmo que ela teria algo pra dizer.

Me virei e subi para o meu quarto. Quando entrei bati a porta com força e escorreguei as costas nela, me sentando no chão.

Minha respiração estava entrecortada. Meu coração acelerado. Eu queria chorar. Por um momento, imaginei que as lágrimas me ajudariam a superar e deixei que elas brotassem em meus olhos. Então me lembrei de que não adiantaria. Não importava o quanto eu chorasse, eu jamais iria superar a morte do meu pai.

Respirei fundo e pisquei, obrigando meus olhos a levarem as lágrimas de volta para o lugar de onde elas não deveriam ter saído.

Me levantei, me arrumei para dormir e me deitei, ciente de que não dormiria assim tão fácil.

Depois de me revirar na cama por cerca de quinze minutos, a porta do meu quarto abriu permitindo que a luz invadisse a escuridão.

- Luna? - Minha mãe chamou entrando devagar. - Está acordada?

- O que você quer? - Perguntei me virando enquanto ela se aproximava da minha cama.

Droga. Eu deveria ter trancado a porta.

- Quero conversar com você. - Ela se sentou do meu lado.

- Não estou a fim de conversar. - Me virei pra parede, ficando de costas pra ela. - Feche a porta ao sair.

- Então só me escuta. Olha, eu sei que tenho sido uma péssima mãe e você não merece isso, mas estou tentando consertar meu erro. Eu sinto muito que seu pai tenha morrido, sinto mesmo, mas agora somos só eu e você. Temos que nos acostumar, Luna. Eu quero muito que isso dê certo, mas preciso da sua colaboração. Por favor, eu só quero uma chance de provar que posso ser melhor do que tenho sido até agora.

Eu me virei para a olhar de novo.

Seus olhos transmitiam um pedido silencioso pra mim.

Ela estava falando a verdade? O que a levava a crer que ela merecia uma segunda chence? Depois de tudo o que ela fez comigo? Ah... não tão fácil.

- Feche a porta ao sair. - Repeti.

Ela ainda permaneceu me olhando por um bom tempo, pensando em alguma coisa que poderia dizer em contra-ataque. Então, felizmente, ela se levantou e saiu do quarto em silêncio, fechando a porta ao passar.

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A aula passou se arrastando. O sono que fugiu de mim na noite anterior chegou com tudo agora, e eu tive que me concentrar muito para não dormir.

Apostas do destinoWhere stories live. Discover now