Capítulo 35 - Parte I

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Não sei como, mas eu consegui sorrir para o garçom que me entregou uma marmita de sopa enquanto as palavras dele ecoavam em minha cabeça repetidamente:

"Você já deve ter conhecido minha namorada, Evellin. Ela não é incrível?"

- Obrigada. - Resmunguei como agradecimento pela sopa uma voz baixa, fingindo não notar que ela estava trêmula.

Amnésia retrógrada psicológica. Esse era o problema. Enquanto Karen estava dentro do quarto de Diogo conversando com ele, os novos exames foram feitos e o doutor Rubens declarou com precisão qual era o motivo do seu esquecimento. Ele perdeu todas as lembranças de cerca de cinco meses antes de ter entrado em coma. Tudo o que vivemos, então, caiu em um tipo de precipício do esquecimento, obrigando-me a aceitar o fato de que não passo de uma completa estranha para o homem que até alguns meses atrás estava disposto a morrer em meu lugar.

Ele me amava... eu estou certa disso. Como é possível que apenas duas pessoas tão desprezíveis como Ricardo e Nicolas pudessem acabar tão de repente com o que lutamos tanto para construir?

- Luna? - Tia Luara me chamou quando passei pela sala de espera. - Você está bem?

Ela estava comigo quando doutor Rubens descobriu o problema de Diogo, então mesmo embora ela soubesse minha resposta, eu assenti uma vez com a cabeça.

- Eu vou na casa da Karen tomar um banho, você quer vir?

Balancei a cabeça para os lados, fazendo uma anotação mental em negrito de me lembrar de tomar um banho no hospital mais tarde.

- Tudo bem, então. É pra ele? - Ela voltou a perguntar indicando a marmita de sopa que eu tinha em mãos e eu assenti outra vez, me dando conta de que eu realmente não estava tão empolgada com a ideia de dizer qualquer coisa verbalmente.

Tia Luara apertou os lábios antes de me lançar um sorriso casto.

- Sabe o que eu li um dia desses em um livro? - Perguntou se aproximando ainda mais de mim e segurando meus ombros. - É um provérbio indiano que diz: onde reina o amor, o impossível pode ser alcançado. - Ela levantou meu queixo com o indicador quando eu abaixei meus olhos para a sopa. - Eu sei que o doutor Rubens avisou que existem chances das memórias dele estarem perdidas para sempre, mas o que eu quero dizer, é que se vocês dois se amam, tudo vai se encaixar no final. E eu estou certa de que ele ama você. Eu o conheci, Luna; e mesmo que a memória dele esteja um pouco alterada, eu tenho certeza de que no fundo ele sabe que te ama. O amor é assim... ele pode se perder no cérebro, mas não pode se perder no coração.

Eu permaneci a olhando até que suas palavras fossem totalmente compreendidas pela minha mente nublada, então, depois de tantos sorrisos falsos, eu finalmente deixei um sorriso fraco, porém verdadeiro tomar seu espaço em meu rosto.

- Ótimo, você entendeu. - Tia Luara devolveu meu sorriso soltando meus ombros e pegando sua bolsa sobre o banco de espera. - Eu estou indo agora mas não demoro, tudo bem? Qualquer coisa, me ligue.

- Tudo bem.

Ela beijou minha testa e minha barriga antes de seguir seu caminho para fora do hospital, me deixando sozinha com um sorriso bobo no rosto, acariciando meu ventre com a mão livre.

É isso. As memórias de Diogo podem até estarem adormecidas, mas não estão perdidas... porque ele me ama. Tanto quanto eu o amo. Vamos enfrentar isso juntos, e alguns anos depois, tudo isso não passará de histórias. Vai ficar tudo bem.

Com um suspiro satisfeito, tomei meu caminho para o quarto novamente, deixando que esse pensamento acalmasse meus sentimentos turbulentos.

- ... você não entende o quanto a menina te ama! - Ouvi a voz gritante de Cristiano assim que coloquei a mão na maçaneta, então me apressei para abrir logo a porta.

Apostas do destinoWhere stories live. Discover now