Capítulo 14

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Evellin nem sequer olhou pra mim durante as três primeiras aulas. Era como se eu nem existisse. Ótimo, melhor assim.

Eu tentei me concentrar nas explicações dos professores que entravam na sala, mas isso era uma missão quase impossível. Minha vida estava tão transtornada, que no momento a escola pra mim tinha perdido completamente a importância.

Eu nem sequer sabia o que diria a Diogo. É claro que ele iria querer falar comigo depois de terminar com a Evellin por minha causa, mas o que eu faria? Tudo estava tão confuso...

Enfim o sinal bateu anunciando o recreio. Eu me levantei e saí da sala. Se continuasse sentada por mais cinco minutos, eu tinha certeza de que enlouqueceria.

Caminhei sem destino pelos corredores da escola me mantendo misturada com os alunos. Eu sabia que não podia me esconder por muito tempo, mas ainda não estava pronta para vê-lo. Eu precisava pensar e é claro que se eu o encontrasse me esqueceria de tudo. Ele tinha esse poder sobre mim, e isso não era segredo.

Faltavam poucos minutos para bater o sinal - por incrível que pareça, consegui ficar praticamente invisível durante muito tempo - quando me esbarrei em alguém.

Ah não... merda!

Levantei meus olhos e congelei. Não...

De todas as centenas de alunos na escola, por que logo ele? Quais eram as chances de esbarrar com a última pessoa que queremos ver no mundo duas vezes seguidas? Eu devia ser a pessoa mais azarenta de todo o planeta...

- Eu acho que você devia prestar mais atenção por onde anda. - Ele disse firme enquanto me segurava.

Eu baixei meus olhos.

- Desculpa. - Falei baixinho.

Ele não disse nada por alguns segundos, mas também não me soltou. Eu queria virar fumaça naquele momento...

- Nós podemos conversar? - Agora sua voz estava mais suave.

- Sim. - Não! Não, não, não! Eu ia dizer não!

- Venha. Precisamos de privacidade.

Meu coração parecia pipoca estourando dentro do meu peito. Merda... Isso não iria dar certo.

Ele pegou minha mão e saiu para o pátio, dando a volta na escola.

Era a primeira vez que eu visitava aquela área, e ele tinha toda razão em me levar ali. Era tão afastado que todo o barulho desaparecia conforme andávamos, sobrando apenas o som dos nossos passos pisando em algumas folhas secas do chão.

Era um tipo de terreno abandonado. O mato estava verde e era óbvio que não era cortado há muito tempo, mas uma pequena trilha limpa facilitava nosso caminho. Duas únicas árvores cobertas de musgo enfeitavam a paisagem.

- Que lugar é esse? - Perguntei quando avistamos um pequeno banco feito de madeira coberto por folhas. Nem parecia que ainda estávamos na escola...

- Eu não sei bem, mas é ótimo pra matar aula. Ninguém vem aqui. - Ele tirou as folhas do banquinho com as mãos.

- Nós não vamos matar aula. - Eu disse mais para mim mesma do que pra ele.

Ele riu.

- Não, nós não vamos. Só precisamos de alguns minutos. - Ele se sentou no banquinho e me olhou.

Eu respirei fundo antes de me sentar ao lado dele.

- O que aconteceu ontem? - Foi a primeira coisa que me perguntou.

Eu o olhei confusa, mas não precisei dizer nada para ele esclarecer minha dúvida.

- Quando você me encontrou no recreio parecia um pouco... agitada. O que quis dizer com preciso de um tempo?

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