Capítulo 5

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Quando cheguei em casa mais tarde, minha mãe estava arrumada com um vestido florido acima do joelho e o cabelo ondulado amarrado num rabo de cavalo, totalmente alinhado.

- Vai sair? - Perguntei largando minha chave na mesinha de centro na sala e a mochila no sofá.

- Sim. Nós vamos. - Ela sorriu pra mim. - Karen nos convidou pra um jantar na casa dela. Ela quer te conhecer. Vá se arrumar, eu espero.

- Quem é Karen? - Perguntei parando no meio da escada.

- Minha nova patroa. Você vai adorar ela. - Seu sorriso quase me contagiava. Quase.

- Obrigada. Não estou a fim. - Continuei subindo.

Antes que eu percebesse, ela correu atrás de mim e segurou meu braço no último degrau da escada.

- Luna, por favor! Desde que seu pai morreu você está assim. Não sai pra lugar nenhum, não conversa com ninguém... você por acaso já fez algum amigo na nova escola?

Eu olhei para sua mão que estava segurando meu braço, então ela me soltou.

- Você tem que continuar, Luna. Não pode parar sua vida só porque seu pai não está mais aqui. Está sendo injusta consigo mesma.

Eu a olhei incrédula.

- Injusta?! - Isso saiu quase como um grito. - Quer saber o que é injusto?! Injusto é você estar aqui e meu pai não! Injusto é a vida ter tirado de mim a única pessoa que eu faria de tudo para não perder! Isso é injusto!

Eu me virei e corri para o meu quarto, batendo a porta com força ao entrar.

Sentei-me na cama e respirei fundo para recuperar o controle.

Alguns minutos se passaram e eu não escutei minha mãe saindo de casa. Na verdade, eu não havia escutado nada do outro lado da porta desde que entrara no quarto.

Imaginei o que ela devia estar fazendo para estar tão quieta.

Me levantei da cama e encostei o ouvido na porta pra tentar ouvir algo. Nada.

Será que o que eu disse foi pesado demais?

Abri a porta e saí do quarto. Ela não estava mais na escada. Desci e a encontrei sentada na mesa da cozinha.

Seus olhos estavam vermelhos quando ela me olhou.

Uau... eu nunca a vi chorar antes. Isso me impressionou, mas eu não disse nada.

Ela passou as mãos no rosto secando as lágrimas perdidas e levou um momento para conseguir dizer a primeira frase.

- Eu também sinto falta dele. - O jeito como ela disse isso me fez acreditar. - Eu sinto... muito mesmo. - Uma lágrima saiu de seu olho e ela secou com as costas da mão. - E eu lamento que ele tenha partido assim, tão cedo.

Ela parou de falar, mas algo me dizia que ela não tinha terminado. Então eu cruzei os braços sobre o peito e me encostei na porta, esperando.

- Antes de ele morrer... - Ela enfim continuou. - Ele me pediu pra tentar ser uma boa mãe pra você. Ele me pediu isso várias e várias vezes. Dizia que você era uma menina incrível e merecia mais de mim. - Ela soluçou. - Isso foi tudo o que ele já me pediu na vida. Nada mais. - Ela escondeu o rosto entre as mãos. - Eu não... eu não conseguia... me desculpe.

Eu não soube se ela estava dirigindo aquele pedido de desculpa pra mim ou para o fantasma do meu pai. Continuei calada.

Ela tirou as mãos do rosto depois de alguns segundos, mas não me olhou.

Apostas do destinoWhere stories live. Discover now