Capítulo 29

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Acordei sentindo minha cabeça leve como um vaso de cristal. Era quase como se eu estivesse vivendo fora do meu corpo, em uma segunda dimensão, sem sentir realmente sensações ou qualquer outra coisa.

Abri meu olhos devagar. Tentei mover meus braços, mas foi em vão. Imaginei que talvez fosse porque eu não estava sentindo-os, mas também poderia ser porque eles estavam amarrados firmemente com uma corda grossa numa cadeira de madeira.

Com um esforço maior que o normal, virei minha cabeça e reconheci a casa da árvore. Estava quase do jeito que eu me lembrava, mas algumas coisas estavam notavelmente diferentes.

Aquelas fotos que Nicolas estava observando atentamente de costas pra mim, por exemplo... eu não me lembrava delas.

Algumas estavam em porta-retratos sobre uma cômoda que eu também não reconhecia e outras estavam pregadas na parede.

A distância e a tonteira que eu sentia tornava difícil vê-las, mas ainda assim pude perceber que todas elas me tinham como personagem principal.

Algumas eram espontâneas, Diogo havia me registrado despercebida. Outras eu estava sorrindo ou fazendo biquinho pra câmera. Outras eram selfies, nas quais ele também aparecia.

Era como uma coleção de arte retratando vários momentos que passamos juntos.

Aquela visão me fez ficar ainda mais tonta do que já estava - se por acaso isso fosse possível.

Virei minha cabeça ligeiramente para o outro lado. O resto dos móveis estavam em seus lugares, exatamente como eu me lembrava. Era difícil acreditar que um dia eu destruí aquilo tudo...

Tentei encontrar Diogo. Ele disse que estaria me esperando. Disse que me encontraria na casa da árvore, mas ele não estava aqui.

Tentei firmar minhas pernas pra me levantar e enfim desamarrar minhas mãos de algum jeito, então me dei conta de que eu não as sentia também. Aliás, eu não sentia nada abaixo do meu pescoço.

Qual era o meu problema?

"Nicolas..." - Tentei chamá-lo, mas a palavra se perdeu no caminho entre o cérebro e minha boca.

Maldição, o que estava acontecendo?!

Como se lesse meus pensamentos, Nicolas se virou e nossos olhos se encontraram.

- Ah, está acordada...

"Que brincadeira é essa?" - Mais uma vez, as palavras se misturaram e se perderam antes de ser pronunciadas.

- Você deve estar com essa cabecinha cheia de perguntas, não é? - Ele perguntou com uma voz assustadoramente suave, se aproximando de mim. - Vamos ver... você quer saber por que eu matei o meu pai? Ou será que seu pai é prioridade? - Ele riu e arrastou uma outra cadeira pra mais perto de mim, então se sentou. - Quem sabe você não esteja se perguntando como consegui manter as aparências e me esconder por tanto tempo...?

"Me solta..." - Mais uma vez, minhas palavras não passaram de pensamentos insignificantes.

- Ah... acho que o mais importante agora é descobri o que eu coloquei dentro de você, não é? Está preocupada? - Nicolas alisou meu rosto com as costas dos dedos. - Está com medo de morrer antes de se despedir do meu irmão?

Tentei me afastar do seu toque, mas isso não passou de um desejo desesperado. Queria me distanciar dele. Queria sair correndo e gritando, mas tudo o que eu era capaz de fazer, era ficar sentada o olhando, semi-consciente e totalmente vulnerável.

O que ele iria fazer comigo?

- Fique tranquila, princesa. Isso não vai matar você. - Ele disse quase como se lesse meus pensamentos. - Eu não quero que você morra. Não agora.

Apostas do destinoWhere stories live. Discover now