Capítulo 33

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As últimas duas palavras pronunciadas pelo doutor Carlos ecoou pelo consultório e ficou pairando no ar enquanto eu tentava processar meus pensamentos.

Ele me ouviu. É claro que ouviu. Eu sabia disso... como pude duvidar?

Segundos se passaram antes que eu pudesse encontrar minha voz, e quando enfim consegui, ela saiu num sussurro abafado:

- Ele me ouviu...

- É a única coisa que pode explicar a reação imediata dele aos tratamentos. - Carlos respondeu dando de ombros, com a sombra de um sorriso nos lábios.

- Ele está reagindo de um jeito que ninguém jamais reagiu antes. - Rubens murmurou com os olhos ainda perdidos nos exames. - É como se, de alguma maneira, ele estivesse com pressa de acordar.

Um leve tremor passou por mim antes de meus olhos encontrarem os da Karen. Os dela já estavam brilhando, mas um sorriso brotou em seus lábios antes da lágrima escorrer.

- Sabe... eu nunca achei que seria grata a alguém que me deu um tapa na cara. - Ela disse em tom de brincadeira secando a lágrima solitária.

Eu ri, e sem pensar muito, dei a volta na mesa e a abracei.

- Obrigada. - Ela suspirou, percebendo que meus soluços em êxtase não me permitiam dizer qualquer coisa. - Muito obrigada, Luna. Você salvou meu filho.

Ainda rindo e chorando ao mesmo tempo, eu a soltei e olhei minha barriga.

- Eu não. - Falei acariciando-a. - Nós. Eu e o Stephan. - E, me dirigindo ao meu filho, baixei o tom da voz: - Está vendo, meu amor? Nós salvamos o papai.

Todos presentes no consultório riram, e embora o clima estivesse agradável, existia outro lugar em que eu preferia estar naquele momento.

Felizmente, doutor Rubens entendeu meu pedido antes mesmo de eu colocá-lo em palavras.

- Apesar de as máquinas estarem desligadas, nós o deixamos na ala da U.T.I. por precaução. Você pode ir vê-lo. - E então ele aumentou o tom da voz gradativamente pra que eu pudesse ouvir depois de sair em disparada pela porta. - Só lembre-se que ele ainda está inconsciente!

Percorri os corredores pedindo desculpas repetidamente ao me esbarrar em enfermeiros despercebidos aqui e ali, e quando cheguei à escada, subi os degraus de dois em dois me apoiando no corrimão como se Diogo pudesse sair voando caso eu não chegasse até ele nos próximos três segundos.

O encontrei dormindo tranquilamente quando entrei no seu quarto. Como eu esperava, ele não estava mais intubado nem conectado a dezenas de máquinas, apenas cinco eletrodos sobre seu tórax mantendo o monitor cardíaco funciando. Seu peito subia e descia numa respiração calma tão lentamente que eu tive que me esforçar para enxergar o movimento leve, mas ainda assim consegui.

Ele está vivo... e está voltando pra mim.

Deixei um sorriso rastejar pelo meu rosto enquanto caminhava até ele, desejando lhe dizer algo, mas incapaz de saber o quê.

Me ajoelhei ao seu lado e segurei sua mão entre as minhas com cuidado, estudando seu rosto através das lágrimas. Estava do mesmo jeito de que eu me lembrava, apesar de existir a sombra de uma barba em seu rosto. Isso dava a ele uma aparência mais velha... eu gostei.

Meu sorriso se abriu quando me vi pensando na possibilidade de pedir a ele que deixasse sua barba assim, depois que acordasse.

Apertei meus lábios juntos e engoli antes de dizer qualquer coisa.

- Sabe... você está subestimando meu controle de não ter um infarto por causa de notícias fortes. Você sabe, mulheres grávidas não podem passar por emoções extremas.

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