● Capítulo 11 ●

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|Ângela|

"Precisamos de falar"- eu e os meus pais dizemos ao mesmo tempo assim que eles me vêm a entrar na cozinha. O que será que eles me quererão?

"Podes começar tu querida."- o meu pai diz um pouco cabisbaixo, estou a começar a ficar preocupada. Será que é algo de grave?

"Isto não é muito fácil de dizer, fiquem já a saber que também não foi uma decisão muito fácil para eu tomar."- respiro fundo e sento-me à mesa.- "Eu tenho vindo a falar com a Maria sobre a faculdade para o ano pois entramos as duas no primeiro ano e eu pensei em voltar a Portugal."- sou logo direta e vejo a minha mãe a conter um sorriso nos lábios. Estranho.- "Eu sei que vocês têm a vossa vida toda já construída aqui, e eu também quase a tenho mas sinto tanta a falta de Portugal, da família, dos amigos de tudo... vocês entendem que apenas um tempinho no verão não chega para nada. Quero voltar a reviver os velhos tempos. E eu pensei que como irei fazer os dezanove daqui a umas semanas que me deixassem ir sozinha para o Porto porque eu compreendo que agora vocês já têm aqui os vossos empregos e casa, uma vida estável. Eu podia ficar na nossa casa antiga, estava sempre em contacto com o avô e com a Rosa caso fosse preciso alguma coisa."- Rosa é a segunda mulher do meu avô.- "E podemos também falar de preços, no Porto as propinas ficam cerca de 200 euros mais baratas que aqui na UCLA. Eu estou a crescer e queria continuar a construir o resto do meu futuro mas em Portugal, não aqui com este presidente a cometer uma loucura a trás da outra. Quero um futuro estável, entendem?"- depois de lhes dizer tudo o que me ia na alma vejo-os os dois a sorrir.

"Nós até te podíamos deixar ir, mas tínhamos de ir contigo, que é o que na realidade vai acontecer."- o meu pai pronuncia-se e eu olho-o confusa.

"Querida, nós já andávamos a pensar nisto em algum tempo e com a falência da empresa onde o teu pai trabalha devido à nova lei dessa laranja podre."- a minha mãe refere-se ao Trump.-" a dizer que os emigrantes dos tais países não poderiam entrar aqui na América e com o corte do pessoal no hospital pensamos que fosse o melhor para todos nós voltarmos para o Porto. Foi por isso que adiamos a nossa suposta ida de férias no inicio deste mês, andamos a tratar das papeladas para a mudança."- explica.

"Ainda não te tínhamos dito nada porque gostávamos que fosse surpresa, mas adiantaste-te mais que nós."- Vicente sorri e eu rapidamente me levanto da cadeira para os abraçar.

"Obrigada, não sabem o quão feliz estou."- digo do fundo do coração com alguma emoção. Mal posso esperar para aterrar em solo português.


|André|

Passei por casa dos meus pais e surpreendentemente estava lá a família toda à nossa espera, fizeram todos uma festa assim que entramos. Fomos apenas quatro dias, imaginem se tivéssemos emigrado ou algo do género. Mais tarde, cerca das seis horas, regressei a casa com o meu irmão, estava cansado e com jet-lag.

"Não adormeças, temos o jantar do Bruno, ele voltou hoje de Coimbra."- Afonso avisa. Bruno era um amigo de infância do meu irmão mas que ao longo dos tempos também se foi tornando amigo meu também. Ao que parece ele foi colocado na faculdade de engenharia em Coimbra e voltava hoje, por isso organizou um jantar para reunir o pessoal.

"Quem é que vai?"- pergunto ligando a tv para ver se não adormecia e para variar estava num canal de música. Passava Despacito na Trace Urban.

"Nós, a Maria que eu penso que seja a namorada dele, as gémeas Vanessa e Raquel, o Nuno, o Diogo, o Duarte e mais uns quantos gajos da altura do secundário."- informa.

"E vai ser onde?"- baixo o som da televisão que me estava a causar dores de cabeça. Preciso de uma aspirina se me quero aguentar o resto da noite.

I Found You - |André Silva|  ✔ Where stories live. Discover now