Momento 2

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7 meses antes


"When you've got worries all the noise and the hurry

Seems to help, I know ... downtown"


Estados Unidos da América. Washington DC. Aeroporto Internacional Washington Dulles. Noite fria e chuvosa. Pessoas. Carrinhos. Bagagens. Painéis. Informações. Propagandas. Guichês. Uniformes. Saudações. Anúncios pelos auto-falantes. Língua Inglesa. Passaporte. Mãos nervosas.

Impaciente. Odiava ter que esperar. Eu batia com o passaporte que prendia o meu bilhete de embarque na mão. Era um olho no saguão e o outro nas telas que anunciavam que o status do meu voo já estava em Now Boarding.

— Caralho, viu! – Praguejei, tirando o gorro da cabeça. Embora estivesse frio, aquela situação estava me deixando com calor.

Não tinha como ficar esperando ali mais nenhum segundo senão quem ia se prejudicar seria eu. Fui até o portão de embarque e eles conferiram os meus documentos e o meu bilhete. Por fim, liberaram a minha entrada no finger. Antes de seguir em direção a aeronave, ainda olhei para trás na esperança de ver a maldita pessoa correndo pedindo para que eu a esperasse, mas isso não aconteceu.

Depois de ser recepcionado pela tripulação, segui pelo corredor do Boeing 777 até o meu assento. Quase todos os lugares já estavam preenchidos. A maioria dos passageiros estavam sentados, mexendo em celulares, lendo livros, folheando revistas, apertando botões da tela touchscreen do banco adjacente, plugando fones de ouvidos ou afivelando o cinto. Outros estavam em pé procurando o assento correto, como eu ou guardando bagagens nos compartimentos.

Coloquei minha mochila em um desses compartimentos que as aeromoças chamavam de bin, pedi licença em Inglês para uma senhora que já estava no assento do corredor, o do meio permanecia vago já que a pessoa que deveria preenchê-lo estava atrasada, e eu me acomodei no meu assento ao lado da janela.

Olhei para fora e a chuva fustigava a fuselagem do avião. A luz verde na ponta da asa estava acesa indicando que eu estava do lado direito da aeronave, o strobe piscava intermitentemente e uma outra aeronave taxiava bem próximo. Fechei a janela, entrelacei os dedos, fechei os olhos e me soltei no encosto.

— Cadê você? – Perguntei em voz alta sem esperar resposta.

— Achou que eu não conseguiria, não é? – Ouvi uma voz familiar dizer em português a minha esquerda.

Dani estava colocando sua bagagem no compartimento, com um sorriso no rosto como se nada tivesse acontecido.

— Você é louca? Perdeu a noção do tempo? Já estava com medo de você não conseguir embarcar. Você não responde as minhas mensagens!

— Fique quietinho antes que eu faça essa chuva piorar, querido. Aí você vai ver o que é medo. – Ela brincou dando uma piscadela, socando as coisas no bin Excuse me, sorry. – Ela disse ao passar pela senhora e se jogar no assento ao meu lado desabotoando seu faux fur coat.

Dani olhou pra mim com um sorriso enorme e enquanto prendia os cabelos em um rabo de cavalo. Deu-me um selinho na boca e disse:

— Preparado para voltar?

— Não. Não sei se eu estou preparado...

— Ah não, chega! Crise existencial agora não, pelo amor de Deus, hein. Já conversamos mil vezes sobre isso, Fábio!

Me arrumei no banco e fiquei calado.

— Sabe quem me adicionou no Facebook? - Ela perguntou.

Permaneci calado.

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