Capítulo 20

339 28 53
                                    

1.

Nova Iorque, assim como São Paulo, é uma cidade que nunca dorme. Sempre há muitos carros, muitas pessoas, muito barulho e os lugares estão sempre cheios na maior parte das 24 horas de funcionamento dos estabelecimentos. Assim como em São Paulo, a comunidade LGBTQQICAAPF2K+ (aqui representada gentilmente por LGBT por questões de estética) de Nova Iorque se sobressai comparada a de outros estados americanos por conta da concentração de pessoas desse movimento.

Um marco importante para a comunidade LGBT americana aconteceu na década de 60. O Stonewall Inn, muitas vezes abreviado para Stonewall, era um bar gay localizado no bairro de Greenwich Village, em Lower Manhattan, Nova York. O bar original, que funcionou entre 1967 e 1969, ficava na 51-53 Christopher Street, entre West 4th Street e Waverly Place. A manifestação de Stonewall (também conhecida como a revolta de Stonewall ou a rebelião de Stonewall) foi uma série de demonstrações espontâneas e violentas de membros da comunidade LGBT contra uma batida policial que ocorreu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969. Eles são amplamente considerados como o evento mais importante que iniciou o movimento de libertação gay e a luta pelos direitos LGBT nos Estados Unidos. Em seis meses após o ocorrido, duas organizações ativistas gays foram formadas em Nova York, concentradas em táticas de confronto, e três jornais foram criados para promover direitos para gays e lésbicas.

Nos Estados Unidos, as paradas do orgulho LGBT de Nova York, Los Angeles, Chicago e São Francisco acontecem desde 1970. No Brasil, a primeira parada do orgulho LGBT só foi acontecer 27 anos depois em São Paulo e já foi considerada pelo Guiness Book a maior do mundo.

Não havia arranha-céus estupidamente altos em Inwood. Apesar de ser repleta de comércios, ainda assim aquela região no extremo norte de Manhattan era mais sossegada do que outras.

Eu caminhava pela calçada da Dyckman St.. Aquela rua ainda estranha para mim. Era difícil imaginar que algum dia eu me sentiria em casa naquele lugar. Pessoas caminhavam tarde da noite soltando fumaça pela boca devido ao frio. A arquitetura e o clima me faziam sentir que estava dentro de um filme. O arco-íris de pessoas, de várias culturas se misturavam naquele lugar. Nas ruas eu ouvia sotaques variados da língua inglesa e de outros idiomas também. Durante todo o tempo que eu fiquei nos Estados Unidos, o único lugar em que eu falava português era dentro de casa. E a única pessoa com quem eu tinha para falar em português era a Dani. Sempre quando queríamos comentar algo sobre alguém falávamos em português. Eu me sentia como se fossemos aqueles japoneses da Liberdade que olhavam para a nossa cara e falavam em japonês com o povo da raça deles, só que no nosso caso falávamos em Português, o que era ainda mais difícil para se entender tendo em vista que o Espanhol era mais comum de ser ouvido nos EUA. Embora, os dois idiomas tenham lá suas familiaridades, entender o Português é bem mais difícil do que Espanhol. É o que diziam.

Eu estava usando uma camisa de linho de manga comprida e gola alta preta que ganhei de aniversário do Roger, uma jaqueta de couro de veado preta antiga, uma calça track slim preta que eu usava para fazer academia (quando eu fazia) por dentro de um par de botas cano alto que lembrava as botas de piratas. Minha cabeça estava raspada e eu não estava de gorro. Ou seja, eu estava todo errado. Eu nunca fui de sentir frio, mas também não esperava passar por um frio daqueles. Eu não tinha nem roupa que suportasse o frio estadunidense naquela época. Fui aprendendo a conhecer o clima e como me proteger do frio aos poucos. Eu achava que eu estava bonito, mas naquela circunstância eu estava com receio de parar na esquina da Broadway com a Dyckman St. e antes que o farol abrisse ter virado uma estátua de gelo igual a do fauno Tummus.

Depois de tanto tempo me sentindo um lixo e a pessoa mais horrível da face da Terra era bom eu estar me sentindo bonito novamente. O peso do nosso auto julgamento faz toda a diferença quando cruzamos com outras pessoas. E pelo menos ali naquele dia eu estava me sentindo bem. Eu estava ansioso principalmente por estar voltando a sair depois de muito tempo sem sequer sentir vontade para isso.

100 Cuecas!Where stories live. Discover now