Capítulo 12

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Roman Holiday é um filme americano estrelado por Gregory Peck e Audrey Hepburn. Estreou no Brasil em outubro de 1953 com o nome "A princesa e o plebeu". O filme conta a história da princesa Ann. Cansada de sua rotina e vítima de um ataque de ansiedade, toma um remédio e acaba dormindo no banco de uma praça. É resgatada pelo jornalista Joe Bradley que só descobre a sua identidade posteriormente. Ambos acabam se envolvendo e Ann experiencia a felicidade de viver dias de uma "vida normal".

O que é ter uma vida normal?

Naqueles dias o que eu mais desejava era ter uma vida normal. Mas acabava projetando essa normalidade na rotina dos outros, na família dos outros, nas coisas que os outros tinham ou faziam. Esquecia que para se ter uma vida normal, primeiramente precisamos comparar essa vida com uma que não seja. É como alguém que diz "eu só queria ser feliz". Você só deseja a felicidade quando você não a tem. Você só consegue comparar e distinguir o que é bom quando há divergências, quando há diversidade. São as diferenças que permitem com que evoluamos em todos os sentidos. Eu deveria agradecer pelos altos e baixos da minha vida, mais pelos baixos na verdade. Foram com eles que na maioria das vezes aprendi lições que me ajudam até os dias de hoje. Mas é normal o ser humano valorizar apenas os momentos bons. É em busca deles que enfrentamos desafios no trabalho, burlamos leis, ignoramos ética e pulamos etapas. Tudo pelos momentos bons. Eles trazem felicidade. E quem não quer ser feliz? Ser feliz eternamente. Christopher McCandless deixou para a posteridade a frase clássica "Happiness only real when shared" (Felicidade só é real quando compartilhada) e como é difícil achar alguém que tenha a mesma visão que você sobre o que é ser ou estar feliz. Enquanto para uns sofá e filme seja sinônimo de felicidade, para aqueles que gostam de festas e agito aquilo pode parecer uma verdadeira tortura.

Quando eu era criança achava que seria feliz quando tivesse a idade dos meus primos adolescentes. Eles podiam andar de bike na rua. Eu tinha que me contentar em ficar dentro de casa brincando com os meus bonecos dos Comandos em Ação. Quando atingi a adolescência, tinha que dar satisfações sobre cada peido que eu dava. Sonhava com os meus amigos do terceiro colegial. Os que já tinham mais de dezoito anos podiam simplesmente passar o cartão do aluno pelas catracas e sairem da escola. Eu quando passava o cartão a catraca acusava "Fora do horário de saída" e ainda tinha o segurança, o Batata, que ficava por perto para certificar que ninguém simplesmente pularia o bloqueio para matar aula. Depois que fiz dezoito anos e podia sair da escola não tinha dinheiro para ir junto com os caras beber cerveja. Quando arrumei um emprego não tinha tempo para sair. Quando percebi que ganhava pouco entrei na ciclo do "Seja só mais um". Estudava, trabalhava, comecei a fazer uma faculdade, para conseguir arrumar um emprego de merda para apertar um botão de merda e vestir um crachá de merda para fazer as mesmas merdas todos os dias até alguém vir e substituir a merda que você se tornou por duas merdinhas mais novas que topam ganhar a metade da merda do salário que você ganha. Com sorte me aposentaria e seria mais um segurando a senha em um posto de saúde do SUS no aguardo para pegar remédios mais baratos.

O que é ter uma vida normal?

Se eu não achava nada daquilo normal, o que era então ter uma vida normal? Antes de responder a essa pergunta, há outra mais importante. Quão bem você se conhece? Quão bom você de fato é naquilo que diz que sabe fazer? Você é verdadeiro consigo mesmo? Em um determinado momento da minha vida senti que as minhas escolhas estavam relacionadas ao que as pessoas achavam normal. Ser medíocre é o que todos esperam de você. Os extremos chamam muito a atenção. Sempre haverá seguidores daqueles que se deram muito bem ou daqueles que estão muito mal. Desgraça dá audiência. Ser normal é ser medíocre. Ser normal é corresponder as expectativas que os outros têm de você. Mas e você? Quais são as expectativas que você tem sobre si mesmo?

100 Cuecas!Where stories live. Discover now