Capítulo 6

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1.

Noite. Chalezinho. Conforto. Pessoas. Comida. Fondue. Bebida. Vinho. Risos. Arrogância. Música. Piano. Falatório. Impaciência.

A noite em que eu e Roger comemoramos o nosso primeiro e único dia dos namorados ainda permanece viva em minha memória como se tivesse acabado de acontecer. Talvez não por conta do jantar e do lugar sofisticado, mas sim pelo que aconteceu depois que saímos de lá.

Ainda estávamos dentro do restaurante, sentados a mesa quando ele percebeu que mais uma vez eu estava olhando para o casal ao lado. O casal da mulher com o solitário no dedo. Na verdade eu estava reparando no olhar quixotesco que trocavam embriagados por aquele  clima romântico que pairava no ar. Eles demonstravam o sentimento um pelo outro em público despreocupadamente. Pegavam nas mãos um do outro e se adulavam apaixonadamente. Olhei para Roger e mesmo que quisesse não conseguiria demonstrar aquele nível de afeto publicamente.

— Se quiser, um dia te dou um desses de presente.

— Não é o anel que eu queria. Você já reparou como os héteros se relacionam de maneira natural? Mesmo quando eu só ficava com meninas, eu sempre soube dentro de mim que havia algo de errado. Talvez por conta disso nem com elas eu tinha esse nível de desprendimento. Eu achava que pareceria falso. Nunca fui meloso.

— Eu sempre fiquei sendo o "garoto respeitador", que espera o tempo certo, que não vai com sede ao pote. Mal sabiam elas que era por conta de ser gouine. Com a Tábata sequer chegamos a ficar pelados um na frente do outro para você ter uma ideia.

— Deve ser estranho para os héteros entenderem o que é você não poder caminhar na rua de mãos dadas livremente sem receio de ser atacado por algum maluco, ou então o que é  trocar beijos sem receio de xingamentos. — Esvaziei a minha taça de vinho e disse — Mas se quiser me dar um anel desse, eu aceito. Vendo e compro uma moto.

Dei uma piscadinha e ele falou:

— Não ia gostar de ver você andando de moto por aí. É muito perigoso. Além de assaltos, o motoqueiro quando cai se fode inteiro.

— Preocupado comigo, é?

— Claro. Você é meu. Esqueceu?

— Seu?

— Namorado, eu quis dizer. E se você tivesse uma moto iria para onde?

— Não sei. Algum lugar onde eu pudesse ficar deitado vendo as estrelas.

— Ah é? Hoje é o seu dia de sorte. Prometo que antes do amanhecer terá seu pedido atendido. — Ele disse com um olhar aventureiro.

O carro do Roger tinha ficado em um mecânico devido a viagem que faria para o interior no dia seguinte. Ele preferiu fazer uma revisão antes de pegar a estrada. Por conta disso, tinha ido até o Chalezinho de táxi. Esperamos o manobrista estacionar o carro do meu pai em frente a saída. Não demorou muito até que o sedam do meu pai parasse a nossa frente. Na época, meu pai tinha comprado um Toyota Corolla ano 2000. Não teve como manter o mesmo padrão de vida depois do divórcio. Vendeu tudo e dividiu com a minha mãe.

— Não é nenhum carro de colecionador igual ao da Dani, mas leva a gente onde a gente quiser. — Falei jogando a chave para ele.

Roger apanhou a chave no ar e enquanto o contornava em direção a porta do motorista, falou:

— Quem faz o carro é o motorista.

Embora as caixas de som não fossem as melhores, pelo menos o silêncio incomodador podia ser quebrado. Foram quase 33 Km percorridos. Fomos do Morumbi até a Vila Jaraguá em quarenta minutos. Na marginal Pinheiros o som era rock dos anos 80 e 90. Íamos no embalo de Green Day a Metallica, de Pearl Jam a Rage Against the Machine. A velocidade pedia rock and roll.

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