100 Cuecas!

Capítulo 18

1.

Universo. Galáxias. Via Láctea. Órbita do sistema solar. Braço de Órion. Cinturão de Gould. Nuvem interestelar. Sistema Solar. Planetas. Terra.

America. The United States of America. New York. District of Manhattan. New York City.Inwood. 117, Dyckman Street.

Uma pensamento recorrente em minha vida sempre foi

"Uma nova fase está apenas começando."

"Não se preocupe, isso é só uma fase."

"Pegue leve, Fábio. Uma nova fase está prestes a começar."

Um dia, tudo cai. Não porque queremos ou sequer colaboramos para isso. A verdade é que a vida derruba tudo, puxa as coisas "para baixo". Uns culpam a gravidade. Eu digo que é a vida mesmo. Afinal de contas, a gravidade só existe porque alguém vivo a estudou e lhe deu um nome. Sem a vida, a gravidade não seria sentida, logo não seria nada. Tudo sempre vira nada. Exceto as coisas. Coisas não tem vida, tem fases. A lua por exemplo. As fases da lua interferem no nível das marés. Fases são períodos de tempo. O tempo pode ser medido através de intervalos em que algo em desenvolvimento sofre algum tipo de alteração, logo o tempo é o que pode determinar as fases, que por sua vez determinam a duração das coisas, ou seja de tudo. Se pensarmos que nós também estamos dentro de tudo, podemos afirmar que a vida vive de fases também. O nascimento de um filho faz parte de uma fase da vida de sua mãe. Assim como a morte da mãe faz parte de uma fase do seu filho. Sendo assim, nascer e morrer não determinam o início e nem o término de nada, mas a fase de algo que vai além do próprio indivíduo. E se quando o filho tem um filho ele se transforma em pai, a sua mãe se transforma em avó, a sua avó se transforma em bisavó e assim por diante automaticamente. Porque as coisas não param de ser o que são, elas sempre se transformam em algo. Quando uma nuvem molecular colapsa em uma estrela jovem, as sobras de gás e poeira formam um disco em volta dela. Dentro desses discos, partículas colidem e se fundem ao longo de milhões de anos, compondo objetos cada vez maiores até se transformar em um planeta. E todas as transformações só conseguem ser mensuradas pelos seres humanos através do tempo e espaço. Tudo gira em torno do tempo que as coisas acontecem em um determinado espaço. Logo, não é a sua vida que termina e sim o seu tempo. E quando o seu tempo acaba o seu corpo se deforma e se transforma, mas você continua vivo seja através do DNA que você deixou de herança para o seu filho, seja como alimento de insetos, adubo para o solo, etc. O tempo é o senhor de tudo. O tempo deita o homem, derruba a árvore, faz a chuva cair. O tempo permite ou proíbe com que as fases comecem e terminem as suas transformações nas coisas e nas pessoas.

Comparado ao universo com toda a sua complexidade e grandiosidade eu não passava de um saco contendo 7 octilhões de átomos e aproximadamente 10 trilhões de células tentando se encaixar nesse jogo de tetris que as pessoas chamam de vida. E eu vim no modo hard que é para foder com gosto mesmo. E a sensação é que a cada fase ultrapassada, mais difícil o jogo fica. Consequentemente mais experiências adquirimos e mais diferentes ficamos. Não porque a gente deixa de ser o que a gente era, mas sim porque nós nos transformamos, ficamos mais sábios — para o bem ou para mal. E há momentos que o passado parece tão perto, mas você está tão longe de ser o que você já foi a um segundo atrás, há um ano atrás, há dez anos atrás. Olhe para você e sua rotina, seus gostos e opiniões hoje e compare com você mesmo a dez anos atrás. Você é o mesmo, mas tão diferente, não é? Gostos se renovam, opiniões mudam, pessoas vêm e vão e nós no meio desse turbilhão de constantes modificações pessoais, temos que lidar com as transformações alheias também. Andamos dentro do olho de um monstruoso furacão de possibilidades e sempre caminhamos de cabeça baixa para não sermos levados. Por quê? O novo amedronta. O medo está no desconhecido, pois além de não sabermos se conseguiremos controlá-lo, temos certeza de que ele pode nos transformar.