Capítulo 19

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1.

A terceira campainha soou alta e estridente. Algumas pessoas ainda estavam se acomodando quando as luzes perderam a intensidade. Os corredores se esvaziaram rapidamente. Era possível ver algumas pessoas andando de lado nas fileiras estreitas pedindo licença, segurando sacos de pipoca e copos de refrigerante enquanto se dirigiam aos seus assentos. Um ou outro vulto passava correndo procurando seu lugar para não ouvir comentários desagradáveis daqueles que já estavam a postos no aguardo do espetáculo recomeçar.

O teatro Somnium era tão grande quanto a imaginação de uma criança e estava repleto de espectadores de lugares diversos só esperando para assistir o que eu tinha para contar. E aquilo estava bem longe de ser um conto de fadas onde príncipes terminam sempre ao lado de sua amada donzela a frente de um futuro monogâmico de eterna felicidade e prosperidade. Aos poucos o burburinho foi diminuindo. Até que tudo ficou em silêncio. Tudo ficou escuro.

As cortinas vermelhas se abriram lentamente ao mesmo tempo que o som da música soou pelas potentes caixas de som do teatro.

Eu estava de frente para uma arquibancada em U e de costas para a plateia. Os degraus cheios de luzes se acenderam e percebi que estavam lotados de homens seminus. Eram 68 para ser exato. Eu estava parado no centro do palco enorme vestindo apenas uma sunga dourada. Quando a deixa surgiu, virei o corpo, apontei o dedo para a plateia cantando:

If I, I got to know your name —(Sim, eu, preciso saber seu nome)

Enquanto isso um telão retangular no fundo do palco, acima da arquibancada, mostrava cenas em cortes rápidos de todos os anos que morei fora do Brasil.

Well if I, could trace your private number baby — (Bem, e eu, poderia rastrear seu telefone, querido) — Cantei fazendo gestos com a mão.

Luzes vermelhas e amarelas banharam o palco. No centro dele havia uma enorme estrutura de metal e no meio havia um objeto.

All I know is that to me — (Tudo que eu sei é que, para mim)

You look like you're lots of fun — (Você parece muito extrovertido)

Open up your lovin' arms — (Abra seus braços do amor)

I want some, want some — (Eu quero um pouco) — cantei ao mesmo tempo em que Kevin (o albino) e Brian (o ruivo), os dois primeiros homens com quem — infelizmente — transei depois que cheguei nos Estados Unidos, caminharam da coxia a esquerda e a direita até onde eu estava. Ambos estavam mascarados. Kevin usava uma máscara de borracha no formato da cabeça de um urso e Brian uma máscara de borracha no formato de um gato. As máscaras tapavam a metade dos rostos, as bocas ficavam a mostra.

Apontei para eles e cantei:

I set my sights on you — (Bem, eu... Eu fixo meu olhar em você)

(And no one else will do) - (E mais ninguém vai fazer) — Eles responderam.

Ambos não vestiam nada exceto uma sunga prateada, assim como os outros cuecas que nos rodeavam. O objeto que havia sobre a estrutura metálica era uma cama redonda com lençóis brancos cheia de travesseiros.

And I, I've got to have my way now, baby — (E eu, eu tenho que fazer do meu jeito agora, querido) — entrelacei meus dedos atrás da cabeça e permiti com que que os rapazes, agachados, lambessem meu corpo com desejo. — All I know is that to me — (Tudo que eu sei é que, para mim)

You look like you're havin' fun — (Você parece estar se divertindo)

Open up your lovin' arms — (Abra seus braços do amor)

100 Cuecas!Where stories live. Discover now