Capítulo 15

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1.

O ano era 1996.

Aquele foi um ano de grandes acontecimentos. Ao mesmo tempo que os Mamonas desapareciam do cenário musical após um trágico acidente aéreo, o astro pop Michael Jackson causava rebuliço com sua segunda vinda ao Brasil, desta vez para gravar o clipe da música They Don't Care About Us.

Um mistério tomou conta do país. A cidade mineira de Varginha virava notícia com a informação de que seres extraterrestres visitaram a cidade. Esse fato fez com que a cidade ficasse conhecida mundialmente.

Foi naquele ano que depois de 27 anos Cid Moreira deixou a bancada do Jornal Nacional junto com Sérgio Chapelin. Os fins de noite de domingo na TV ficaram mais divertidos com a estreia do humorístico Sai de Baixo na Rede Globo para competir com o hilário Topa tudo por Dinheiro do SBT.

Perdemos Renato Russo, líder da Legião Urbana, o poeta do rock nacional, e também o ator e dançarino Gene Kelly.

O maior sucesso Pop era "Wannabe", apesar de ter sido lançada em julho daquele ano, conseguiu perdurar pelo ano seguinte. As "Spice Girls" viraram febre mundial. O vídeo do carro-chefe do álbum "Spice" era executado na MTV americana mais de 70 vezes por semana."Quit Playing Games (With My Heart)" dos Backstreet Boys foi o quarto single do álbum de estreia do grupo, lançado na Europa. O single foi o carro-chefe do álbum na América no mesmo ano e se tornou o primeiro hit dos meninos nas terras yankees. Los Del Rio lançavam Macarena e a música virou um hit pop incrivelmente original com uma coreografia inconfundível. A música está no topo da lista de Melhores Músicas Latinas criada pela Billboard até hoje.

A novela O Rei do Gado, produzida pela Rede Globo era exibida no horário das 20 horas, substituindo O Fim do Mundo e sendo substituída por A Indomada posteriormente.

E era nesse cenário que eu, Fábio Linderoff, estava inserido.

Não tinha grandes responsabilidades e a única preocupação era ir bem na escola. Minha mãe tinha uma Brasília verde abacate 1977. Eu me lembro da placa amarela do carro até hoje, JG 2813. Eu estudava de manhã e minha mãe me levava. Um dia batemos o carro em um cruzamento. Batemos em um Fusca branco e de dentro saíram quatro negões do tamanho de guarda-roupas. Lembro que fiquei na frente da minha mãe para (inutilmente) tentar defendê-la caso eles partissem para a ignorância por conta do acidente. Mesmo assim, depois de todo o acerto de contas, ela me fez ir para a escola. Eu estava no ensino fundamental e estudava em um colégio público.

Eu odiava Educação Física. Sempre fui do time dos baixinhos da sala. Mesmo hoje, com mais de trinta anos e no auge dos meus 1,70 de altura (quando estou de tênis) ainda faço parte do time dos baixinhos. Mas naquela época o professor Pereira, de Educação Física, queria que a gente jogasse basquete. Basquete! Éramos crianças, porra! Ele tentou incentivar o futebol, mas houve muitas brigas. Então, ele acabava colocando as meninas para jogarem vôlei e os meninos para jogarem basquete. Baixo do jeito que eu era parecia um pinscher correndo no meio de um bando de Rottweilers, Dogue Alemães e Dobermanns sedentos pela bola. Eu gostava mesmo era dos dias de chuva, pois tínhamos que ficar no pátio da escola jogando ping-pong. Mal sabia que dez anos depois seriam com outras raquetes que eu ia gostar de brincar.

Eu me lembro que havia um menino chamado Igor e ele ainda não sabia ler. Ele era aquele típico moleque truculento e burro. Não deixava ninguém jogar se não fosse com ele. Havia também uma menina chamada Carolina. E ela foi o meu primeiro "amor" platônico. Ela queria jogar com uma amiga dela chamada Camila, mas Igor era irredutível. Ficava na frente da mesa de ping-pong com sua raquete na mão no aguardo de seus adversários. Quando eu o vi empurrando a Carolina, algo dentro de mim despertou uma sede insaciável de vingança. Ela caiu no chão e saiu de perto junto com a Camila com cara de choro. Depois de ver aquilo, saí da fila onde eu estava aguardando a minha vez de jogar, caminhei até uma bancada cheia de raquetes, peguei uma e sem pensar duas vezes atirei aquele pedaço de madeira com toda a força que eu tinha no meu curto braço de criança. Ainda lembro da raquete rodopiar no ar fazendo vup-vup antes de acertar em cheio a nuca de Igor. Na hora ele levou a mão até a cabeça e quando viu o sangue entre os dedos largou a porra da raquete finalmente e começou a chorar. O professor Pereira ficou branco e furioso.

100 Cuecas!Where stories live. Discover now