Capítulo 16

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1.

Everyday, it's a gettin' closer,

Goin' faster than a roller coaster,

Love like yours will surely come my way...hey...hey...hey...

" Talvez alguns sonhos não deveriam se tornar realidade."

Acordei arregalando os olhos e puxando o ar. As minhas pupilas se contraíram para se ajustarem a claridade do meu quarto. Meu cérebro levou alguns segundos para processar as informações e me fazer entender que tudo não passava de um sonho. Sonho não, de um pesadelo.

Olhei para os lados e eu estava no meu quarto. No meu bom e velho quarto. Na minha cama de sempre. Eu estava na casa em que eu cresci e vivi durante essas duas décadas de vida. Sentei na borda da cama e coloquei os pés no chão. Passei as mãos pelos meus cabelos e lembrei que eu precisava de um corte. Ele não estava nem muito comprido e nem muito curto, mas já estava sem corte. Passei a mão pelo meu rosto liso e tentava lembrar do pesadelo que eu tivera e que já começava a sumir em minha memória.

Levantei e dei uma volta completa em torno de mim e fiquei feliz de estar no meu quarto. Era como se eu tivesse viajado e tivesse ficado um bom tempo longe e agora eu estava de volta.  Olhei para a cortiça que eu tinha presa ao lado do computador. Um panfleto de papel dizia "Volta às aulas: Início 26/02 (Semana do Bixo) Aulas a partir de 01/03. Participem da semana do Bixo trazendo 1 kg de alimento não perecível!". Aquele panfleto estava sendo distribuído em frente a faculdade por alguns alunos veteranos do DEM (Diretório Acadêmico da Metodista), no dia em que eu me matriculei no meu curso de jornalismo.

Faculdade! Quem diria. Eu mal tinha acabado o ensino médio e teria que escolher a profissão que me sustentaria até o fim dos meus dias. Eu me lembro de ter feito um teste vocacional e o resultado foi que eu deveria cursar humanas.

No final do ano sempre quem escrevia as mensagens que iriam para os cartões de natal era eu. Minha família tinha essa mania de enviar cartões de Natal para todos os familiares pelos Correios. Minha mãe sempre dizia "Como você escreve bem, fióti." E de fato eu gostava de escrever. Eu gostava de acessar as salas de bate papo da UOL e ficar investigando a vida das meninas. Eu conseguia criar estereótipos facilmente com cinco minutos de conversa fiada. Sendo assim, jornalismo seria um curso que exploraria mais essas minhas habilidades.

Eu não podia negar que estava ansioso com o início das aulas. E mal podia esperar para conhecer as cocotas da "facu". Diziam as más línguas que garotas universitárias adoravam liberar o cuzinho nas festas. Principalmente as que namoravam. Eu curtia essa ideia das meninas guardarem a bucetinha para o namorado, mas liberarem o butico para a geral. Era difícil comer as meninas do colégio. A maioria eram virgens e ainda sonhavam com o príncipe encantado. Queriam liberar o cabaço como descrito em novelas românticas. Grande merda. No mínimo isso nunca aconteceria. Essas meninas levariam dedadas no cinema e acabariam liberando a precheca em um sábado qualquer na casa do cara que as estivessem pegando. Ele ia prometer que não ia doer e iria dizer que as amavam. Mulher acredita em qualquer merda. Pronto, as palavras mágicas tinham sido ditas "eu te amo", dependendo da menina depois de ouvir isso ela deixaria até gozar dentro ou até na boca, igual aos vídeos pornôs. Com sorte as mais feias seriam enrabadas pelo coroinha da igreja na sacristia durante a catequese. Príncipes encantados não existiam. Eu mesmo estava longe de ser um. E agora que eu ia começar a faculdade, as coisas iam melhorar. Eu não ia só pegar as menininhas. Eu ia comer cu! Eu ia comer muitos cus! Fábio + Cu = Facu. Tudo se encaixava.

Fui até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Mas antes me olhei no espelho. Eu era o mesmo de sempre. Jovem e bonito. Dei um sorriso e segurei os dentes da frente. Todos presos. O pesadelo que eu tive tinha haver com queda de dentes. E de acordo com uma de minhas avós, sonhar com queda de dentes significava morte, perda de alguém próximo. Se bem que para a mãe da minha mãe todos os sonhos significavam morte de alguma maneira. Uma vez, quando criança, durante uma visita a casa da minha tia com quem ela morava, disse a ela que eu tinha sonhado com ela. Disse-lhe que no sonho eu tomava todo o seu vidro de perfume e ficava correndo e peidando cheiroso para perfumar a casa. Ela franziu as sobrancelhas, fechou um olho e os cantos da boca foram parar no queixo. A única coisa que disse com a sua voz esganiçada foi: Sabe o que esse sonho significa, Judas Jr.? Que se você chegar perto do meu perfume, eu te mato! Para a minha vó, todos os sonhos acabavam em morte.

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