Capítulo 13

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1.

Era a primeira vez que eu andava na BMW X3 preta junto com o Roger. O carro cheirava couro e plástico novo. Era da mãe dele. Os bancos ainda estavam duros por conta da falta de uso. Os tapetes do chão não tinham uma sujeira sequer. Da vez que fomos ao restaurante mexicano ele pegou o carro da Melissa emprestado. Era um Fiesta, mas estava em bom estado. Quando eu andei na Cherokee do Lucas, era obviamente mais confortável que o Fiesta, bem mais alta, mas a X3 parecia uma nave espacial. Nem barulho fazia. E por que estou falando de carro? Porque parecia que só eu estava afundado na merda. Sabe quando você olha para os lados e repara que tudo aparentemente está bem com todos a sua volta, exceto com você? Pois é. Eram dias assim. Jean, Bianca e Lucas estavam montando o apartamento deles e abrindo o próprio negócio. Paulo e Daniel estavam trabalhando e tinham regalias na empresa por conta do chaveco furado que o Paulo jogava na supervisora. Daniel reclamava de algumas atitudes do Paulo, mas também não tomava nenhuma providência com relação a isso. Então, pressupunha-se que a situação não estava insuportável. Dani estava bem nos Estados Unidos como babá, ela e a Érica se amavam e tudo estava bem na relação delas. Mesmo namorando a distância, ambas se entendiam. Quanto a mim, eu estava trabalhando em um lugar ganhando menos de quatrocentos reais por mês, estava morando em uma casa onde a minha mãe estava interessada no zelador, minha avó era uma líder Decepticon, uma verdadeira máquina de falar merda e queria a todo custo acabar com a minha raça, os Bobobichas. Meu pai estava enfeitiçado. Não sei qual macumba a Edna fez na buceta, mas era de se tirar o chapéu. Estava funcionando. Até outro filho o meu pai arrumou, Max, o gato. E lá estava eu, ficando cada dia mais magro, namorando um cara bonito, inteligente, gente boa, mas que era ciumento, possessivo e... gouine. Aquela era a cereja do bolo. Eu namorava um cara que não curtia foder. Tantas bundas que eu comi, tantas oportunidades podiam existir fora do meu relacionamento, mas eu não sei qual força nos mantinha unidos. Querendo fazer funcionar algo que visivelmente não estava dando certo. E não estava dando certo por falta de vontade de fazer dar certo. Não estava dando certo porque tínhamos necessidades diferentes. Ele queria transcender dentro de uma relação a dois. Eu queria trepar, igual os cachorros fazem. Eu lembro de quando trabalhava no shopping e às vezes uma cliente experimentava uma roupa e dizia: "Nossa, eu amei esse modelo, mas não veste bem. Tem um número maior?" O mesmo estava acontecendo entre eu e o Roger. Ele era o modelo perfeito, mas não adiantava. Eu não entrava nele. Ele não era o meu número. Talvez fôssemos as pessoas certas em momentos errados na vida de cada um. E naquele dia eu podia ter posto um fim em tudo e simplesmente a nossa história podia ter tido um final diferente. Menos traumática, menos dolorida.

— Você quer terminar? — Perguntei com as mãos na cintura assim que ele fechou a porta da suíte do motel.

Fomos de São Bernardo direto para Santo André e para termos privacidade para conversarmos, pegamos uma suíte do motel Red Sky que ficava na Avenida dos Estados.

Ele ainda estava em silêncio e apenas me olhava. Mal tínhamos conversado no caminho. Eu fiz algumas perguntas do tipo "está tudo bem?", "esse carro é da sua mãe?", "quer ir para um motel para conversarmos melhor?" e ele respondia apenas com "Uh-Hum" e "pode ser". Detestei aquilo.

Ele colocou a chave do carro, a carteira e o celular sobre uma mesa. Sentou na beira da cama, com o corpo curvado para frente e com os dedos das mãos unidos. Baixou a cabeça e era como se estivesse rezando.

— Você não vai falar nada?

— Por que você mentiu para mim? — Ele perguntou calmamente.

Dentro de mim algo revirou. Senti uma adrenalina como se tivesse despencado de uma montanha russa. Puxei uma cadeira. Virei o encosto para o Roger e sentei com o peito encostado no encosto.

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