Capítulo 7

694 39 288
                                    

1.

Depois que saímos da faculdade, no caminho para casa, eu e Dani decidimos jantar no The Burger Map, uma hamburgueria tradicional instalada no bairro Jardim em Santo André. Graças ao porte imponente do Lincoln Premiere, o gerente do local permitiu que Dani deixasse o carro estacionado em frente a lanchonete ao invés de entregar o automóvel para um manobrista levá-lo para o estacionamento.

O local era acolhedor e confortável. As paredes eram de tijolos aparentes e as mesas de madeira. Era sofisticadamente rústico. As comidas eram servidas em cestinhas e as bebidas em potes de geleia. De entrada, como sempre pedimos o famoso e delicioso milkshake de marshmallow e uma porção half 'n half, meia porção de fritas e meia de onion rings.

Uma das coisas que eu mais gostava de fazer com a Dani era sair para comer. Além de não ser enjoada para comida, ela sempre topava conhecer lugares novos. Foi em uma dessas que achamos essa pitoresca hamburgueria escondida em uma rua não muito movimentada de um bairro residencial de Santo André.

Depois de falarmos muito sobre Dani e Érica e o desafio que era fazer dar certo um relacionamento a distância como é o caso delas, uma morando nos Estados Unidos e outra no Brasil, Dani quis saber como tinha acabado a minha noite do dia dos namorados.

Ainda estávamos no píer abraçados quando Roger pegou minhas mãos geladas e juntou com as dele, incrivelmente quentes.

— Você está com frio não está?— Ele perguntou.

— Um pouco. Mas está tão bom ficar aqui que eu nem ligo.

Nesse momento ele reparou no movimento que a minha aliança fazia no meu dedo.

— Está folgada. — Ele constatou.

Abri a mão e ele conseguiu fazer o anel deslizar sem grandes dificuldades até a ponta do meu dedo.

— Vou por um outro anel na frente, quem sabe segura. — Falei — Preciso fazer isso rápido antes que eu a perca.

— Se você perder a aliança mandarei tatuar uma bem aqui no lugar dessa. Aí você não perde mais.

— Até que ter uma tattoo como aliança não seria uma má ideia. Mas eu não queria tatuar um anel no dedo. Teria que ser algo que remetesse a nós. Algo só nosso.

— Como o que?

— Não sei. Uma palavra, um símbolo ou um desenho talvez.

— Não sei. Eu não curto muito a ideia de levar uma agulhada, sentir dor...

— Mas tem dores que são prazerosas... — Falei fazendo cara de safado.

— Ei, vocês dois aí! — Ouvimos de repente alguém se intrometer na nossa conversa. Ao mesmo tempo a luz inquisidora de uma lanterna nos flagrou e nos cegou.

O homem abaixou a lanterna e mesmo cegos conseguimos distinguir de quem era a voz. Piauí, o guarda da portaria. Provavelmente achou estranho o Corolla ficar estacionado totalmente apagado todo aquele tempo. Certamente verificou se havia alguém no carro e ao notar que o mesmo estava vazio, constatou que devíamos de alguma forma ter driblado sua patrulha.

— Era só que faltava, dois "homão" desse tamanho se pegando como se fossem homem e mulher. Onde o mundo vai parar? Não sei como chegaram até aqui, mas acho melhor me acompanharem até a saída, garotos.

E assim o fizemos. Pedimos desculpas e fizemos o percurso até a portaria a pé no encalço do Piauí e sua trilha de fumaça de cigarro. Provavelmente uma das funções dele era caçar esses amantes naturistas dentro daquela área restrita. Entretanto, pelo comentário que fizera deduzi que ele não devia encontrar gays com muita frequência.

100 Cuecas!Where stories live. Discover now