Capítulo 24

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1.

Cu. Dor. Prazer. Suor. Pau. Bunda. Língua. Saco. Pernas. Pêlos. Pés. Saliva. Mordida. Gozo.

A única coisa que eu pensava durante o ato era em Pablo voando da beira da cama e atingindo a porta do quarto da Dani sendo lambuzado por uma enxurrada de merda. Eu não tinha feito a famosa chuca e nem estava preparado para dar o cu. Fiquei com vergonha do Pablo ter me lambido, embora tenha sido muito bom. Eu tinha tomado banho de manhã. A sorte dele é que o meu relógio biológico funciona muito bem e normalmente eu só cago de manhã, logo depois que acordo. Porém, embora eu tenha tomado banho eu já tinha andado até o trabalho e eu estava trabalhando quando ele chegou. Em resumo, eu estava suado. Eu nunca estava preparado para para dar o cu pelo simples fato de não gostar de ser passivo. Há quem diga que eu pensava dessa forma porque eu nunca tinha sido enrabado direito. Pois é, eu fui. Eu acho. Recebi um poste no rabo e nem isso fez a minha opinião mudar. Pelo contrário, me senti um boi no rolete dando voltas na cama besuntado de suor, fui um boneco de Olinda pulando pra frente e para trás, para cima e para baixo para alegria de um Negão enterrado dentro de mim e se deliciando com o som de plac-plac que nossos corpos faziam durante a foda, me senti um fantoche de rola, uma camisinha humana. Senti um misto de sensações, mas a que mais me vinha a cabeça era que eu estava sendo dominado e aquela sensação — para mim — não era legal. Porém, o vuco-vuco com o Pablo não foi de todo ruim. O prazer de ser cutucado na próstata foi inegável.

A última vez que eu tinha dado a bunda tinha sido para o Paulo na casa de praia da avó dele. Dar o cu dá trabalho. Há uma higienização que se faz necessária. Houve uma vez que eu estava tão afim de transar com o Roger que eu pensei em ser passivo só pelo prazer de ter uma relação sexual com ele ao invés de ficar só no esfrega-esfrega. Entretanto, nem isso aconteceu.

Eu sou um cara relaxado. Não fico depilando o cu a toa. Uma vez depois de passar a gilete no saco, resolvi aparar o matagal ao redor do poço dos desejos também. Fiquei de cócoras durante o banho e fui passando a gilete pelo vale encantado. Passei uma, duas, dez, vinte vezes e nunca que acabava de sair pêlos. E olha que eu não tenho a bunda peluda. Eu olhava no espelho e não tinha pêlo nenhum, mas eles brotavam na gilete incansavelmente. Era como se o meu cu dissesse: "Ah resolveu aparar? Então toma." Eu achava que o meu cu estava me trolando literalmente. Quanto mais eu raspava, mais pêlos vinham. Quando finalmente achei que tinha terminado o trabalho, para limpar definitivamente esfreguei o sabonete no rabo e só não berrei porque me faltou voz. O cu ardeu como se eu tivesse enfiado um toco de carvão em brasa nele, fiquei sem ar. Juro. Foi pior que levar água fria nas costas. Fiquei com o cu dolorido uns dois dias e depois veio a pior parte. A coceira. Nunca estava bom. Eu estava sentado e ficava disfarçando, me movimentando para lá e pra cá para parar de coçar, em pé eu disfarçava e dava aquelas beliscadas na rabeira do toba para ver se aliviava a coceira. No meu rosto, o sorriso "pois é" tentava camuflar a minha aflição onde quer que eu estivesse. Uma vez eu estava com o cu coçando tanto que eu fui para o banheiro e peguei a escova de cabelo da minha avó com cerdas de plástico e com bolinhas na ponta e cocei tanto o rabo que eu só parei quando começou a arder. A fricção foi tanta que seu peidasse naquele momento eu seria o primeiro lança chamas humano. Acabei ficando com o cu ardendo e com vontade de coçar. A vontade era tão desesperadora que eu queria era ir para a rua sem as calças, sentar na beira da calçada e ir esfregando o cu na guia de Santo André até a Paulista. Admiro quem apara os pelos do cu. Não sei se depilando com cera o sofrimento é o mesmo. Porém, só de pensar em alguém atolando cera quente no meu rabo e depois puxando a sangue frio só para ficar com o cu liso já fomenta a ideia de que é melhor só ser ativo mesmo. No máximo você apara os pelos com a tesoura ou com maquininha e já está ótimo. De vez em quando passa a gilete no saco e mesmo que coce é mais comum ver um cueca coçando o saco do que ver o caboclo andando rebolando para lá e pra cá na rua na esperança de que a cueca por algum milagre divino se transforme em uma lixa no formato de um sabugo de milho e te tire do suplício.

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