Capítulo 8

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1.

Uma vez eu li que os tipos mais conhecidos de amor humano são ágape, philos e eros. Basicamente o amor ágape está relacionado a afinidade de ideais espirituais. Amor philos, afinidade mental e cultural. E eros, a atração física e desejo. Todos esses três tipos de amores são desenvolvidos durante a vida e dizem que são fundamentais para qualquer pessoa.

O amor ágape está mais relacionado ao amor divino, incondicional e com sacrifício. Ele é o amor afetivo, isento de conotações sexuais, segundas intenções, malícias e interesses pessoais. É o amor que perdoa e dá a outra face. Um tipo de amor que transcende o amor materno. Ágape é o amor do afeto e da satisfação, visto que na fraternidade o amor se satisfaz por ser compartilhado e ser recíproco. As vezes me pegava pensando se eu sentia esse tipo de amor pelos meus pais. Eu sempre fui independente. Gostava de brincar sozinho e na adolescência não dependia de ninguém para sair e me divertir. Entretanto, até sair da casa dos meus pais para morar na república com o Daniel e os outros caras, eu tinha esse sentimento de que não conseguiria sobreviver se não fosse sob o escudo financeiro dos meus pais. Mas a forma como as coisas foram mudando após o divórcio, provaram que a gente nunca pode pensar que as coisas não podem piorar, pois sempre podem. Na época, eu achei que ter a Vovóldemort morando comigo e com a minha mãe já era suficientemente ruim. Ledo engano.

Amor philos é o amor fraternal, que envolve lealdade, igualdade e mútuo benefício, além de dedicação ao ser amado. A dedicação desse amor pode chegar a ser mental, algo entre o espiritual e emocional para quem acredita nessa baboseira. É o caso do amor pela sabedoria, que pode ser um meio de crescimento mental, intelectual e cultural. Esse amor também se refere ao amor de amizade, que não monopoliza, não escraviza e não cria dependentes, quando se ama o outro da forma que ele é. Para o filósofo grego Epicuro, a amizade é o máximo que a sabedoria da felicidade pode proporcionar na vida. Provavelmente esse era o amor que eu desenvolvi pela Dani. Por mais que no início eu tenha sentido aquele roupante de querer beijá-la e ficar com ela, com o tempo o sentimento que cultivamos um pelo outro cresceu consideravelmente. Por sorte era mesmo recíproco. Nem o fato de vivermos a 7.643 km de distância prejudicou a nossa relação. Posso dizer que a nossa intimidade e confiança eram maiores do que se tivéssemos tido uma relação de namorados. Dani não era a única, mas a mais importante amizade que eu tinha. O sentimento por ela era de amor mesmo. Não havia outra forma de defini-lo. Fora a Dani, cultivava um carinho, admiração e uma certa intimidade com Lucas, Jean, Bianca, Érica, Fernando e até com a Tábata, minha ex e última mulher com quem me relacionei sexualmente. Nós éramos um grupo de amigos que só conseguia reunir todos os membros nas minhas festas de aniversário. Embora eu fosse amigo de todos, alguns não eram íntimos dos outros.

Por fim, o amor eros diz-se representar o amor sexual, carnal, repleto de paixões inebriantes, a pura atração física, que manifesta o instinto de união e reprodução. Eros representa o amor pela beleza e a perigosa obsessão pelo amado e o prazer que ele traz. É o amor fundamental para a natureza, pois é a força primitiva da procriação e preservação da espécie. Dizem que Eros é o tipo de amor mais perigoso dos três, pois se não vivido de forma equilibrada com Ágape e Philos pode trazer muita dor. E esse provavelmente era o amor que eu estava tentando desenvolver pelo Roger, mas que eu já tinha sentido por Daniel e por Paulo. Na adolescência para provar o quão cueca eu era, pegava as meninas e levava para cama para poder me gabar de ter comido essa e aquela, mas por nenhuma - nem por Tábata - cheguei a sentir algo que passasse raspando no "amor". Hoje eu posso afirmar que eu não cheguei a amar Paulo e Daniel. Era inegável que a presença de ambos em minha vida foi determinante para que eu pudesse assumir a minha orientação sexual, mas não era amor que nos unia, era o sexo. Aquela volúpia arrebatadora de alguém que finalmente descobre o verdadeiro sentimento de prazer sexual.

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